Leminski, o intraduzível
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de maio de 1977
Curt Meyer-Clason, que está na cidade coordenando um seminário de tradução literário alemão-portugues, patrocinado pelo Goethe Institut, teve oportunidade no sábado, durante agradável jantar com o qual o casal Helmut-Heidi Lie o homenageou, de trocar idéias com diferentes correntes da chamada "inteligentzia" tupiniquim: do professor e crítico Temistocles Linhares, 73 anos, ao vanguardista Paulo Leminski, 33 anos. Paulo, inclusive, levou para Meyer Clason os seus livros "Catatau" e "40 Clicks de Curitiba", este uma parceria com o fotografo Jack Pires. Acostumado as cipoias de linguagem - afinal foi o homem que conseguiu traduzir 3 dos mais difícieis romances de João Guimarães Rosa, Meyer-Clason, após folhear algumas páginas do "Catatau" (10 anos para ser escrito, segundo Leminski) fez uma afirmação que há muitos poderia desanimar, mas que para Paulo foi um elogio que o agradou: é intraduzível (ou quase) para o alemão, ou mesmo para alguma outra língua.
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Curt Meyer não gosta - e chega até a irritar-se - quando o chamam de professor ou doutor. Considera-se apenas um simples interessado em literatura, que, nos últimos 20 anos, tem traduzido os mais importantes autores brasileiros, portugueses e espanhóis para p alemão. Depois de Curitiba, vai passar alguns dias no Rio, quando, com seu amigo Paulo Ronai - hungaro radicado no Brasil, uma das maiores autoridades em linguística - solucionará algumas dúvidas em relação a novas traduções da obra de Rosa, que está fazendo.
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O professor Temistocles Linhares, nos últimos anos dividindo seu tempo entre Curitiba-Santos - montevidéu (sua esposa é uruguaia), revelou que sua bíblioteca, de 10 mil volumes, ficou em Curitiba. E que apesar de ter parado de escrever críticas no "Estado de São Paulo" e estar aposentado como professor, continua com a média de leitura de 3 a 4 livros por semana.
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