Loyola, o escritor ao alcance dos leitores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de maio de 1986
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, 50 anos - a serem completados no próximo dia 30 de julho - deu várias demonstrações de simpatia e generosidade durante as 24 horas que passou em Curitiba, encerrando o Projeto Encontro Marcado. Apesar de cansado e preocupado com vários problemas pessoais que, normalmente, o impediriam de se afastar de São Paulo, o autor de "Não Verás Nenhum País como Este", esteve sempre bem humorado nos contatos, especialmente com os estudantes e professores da Universidade Católica, em cujo anfiteatro falou na noite de sexta-feira.
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Surpreendendo até o coordenador do projeto, jornalista Araken Távora, ao responder a pergunta de uma sensual loira, que voz pastosa e sedutora lhe indagou de "seu endereço pessoal, para o envio de correspondência mais particular", Ignácio não teve meias-palavras:
- Podem anotar: Rua Alameda Ministro Rocha Azevedo, 373, apartamento 122-B, São Paulo. Ouviram bem!
Repetindo o endereço, prometeu: todas as cartas que chegarem, serão respondidas. "Pode demorar, mas as respostas serão enviadas." Horas antes, Araken já havia flagrado Ignácio autografando algumas dezenas de cartões-postais de Curitiba, que ele próprio foi postar no Correio e destinados a leitores de várias partes do Brasil.
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A exemplo de Fernando Sabino, Ignácio de Loyola Brandão é extremamente organizado. Carrega sempre um caderno de anotações, onde faz mil e um registros: desde os endereços das pessoas que conhece até idéias e sugestões que podem lhe servir para obras futuras. Em seu apartamento, tem um arquivo imenso, de todos os assuntos e, extremamente disciplinado, trabalha todas as manhãs, obedecendo a critérios rígidos. Usa há 28 anos a mesma máquina de escrever Olivetti, espanhola, que adquiriu de um colega da "Última Hora" - jornal onde permaneceu por mais de dez anos, em múltiplas funções. Só escreve após colocar a biblioteca em ordem e, entre suas manias, destaca uma: não admite se concentrar num trabalho, se houver alguma porta de armário aberta. Em compensação, trabalha sempre ao som de música - "dos mais diferentes gêneros, do rock ao clássico, dependendo do que estou escrevendo."
Junto à música, o ruído da cidade grande, "que faz parte, em seu barulho, em seu nervosismo, de meu clima de criação: já tentei - e não consegui - escrever longe da cidade, na paz do Interior. Inútil."
Atualmente, Ignácio trabalha em um novo romance - para o qual só tem um chamado "título de trabalho": "O Ganhador Quer Morrer". Aliás, a escolha de títulos, não o preocupa: deixa para o final. "O Beijo Não Vem da Boca", por exemplo, estava pronto e havia várias sugestões - até que uma amiga-namorada lhe deu a chave:
- "O beijo não vem só da boca. Cortei o 'só' e ficou perfeito!"
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Quatro vezes casado, dois filhos adolescentes - um deles, 13 anos, também adora cinema (Ignácio foi cinemaníaco e por anos atuou como crítico na UH, voltando agora a, bissextamente, escrever sobre cinema na "Folha da Tarde", em São Paulo), Ignácio é sempre muito paquerado pelas mulheres. Araken, seu amigo, observa que é incrível como as mulheres o cercam, com frases como "olhos de cama" ou "olhos de gatão pidão".
No Humel-Humel, onde foi jantar na sexta-feira, um garotinho que vendia flores, aproximou-se e disse:
- Seo Ignácio, aquela moça (indicando uma bela jovem, numa mesa próxima, acompanhada) pediu para o sr. comprar uma rosa para ela.
Ignácio pagou a rosa, que foi entregue à explícita fã.
Preocupado sempre com as crianças pobres, Ignácio pediu para dona Ingeborg Rust fazer um pacote com as sobras da generosa refeição e, ao sair, entregou-as a um garoto maltrapilho, que se encontrava defronte o restaurante.
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