As faíscas contra as posições de Zé Maria
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de maio de 1986
Faíscas e trovões assustaram muitas pessoas que estavam próximas do vereador José Maria Corrêa, na noite de sexta-feira no Curitibano. O líder do prefeito Roberto Requião na Câmara chegou no clube - do qual é o orador oficial - para a solenidade de abertura da I Olimpic - Jogos Internos Globais - quando vários peemedebistas integrantes do primeiro escalão do Governo do Estado, o cercaram para lhe cobrar a posição que havia tomado, horas antes, na solenidade de posse do governador João Elísio Ferraz de Campos.
Entre os mais irados estava o presidente do Banestado, Nicolau Abagge, por sinal, ex-presidente do Curitibano, que, com apoio de outros notáveis da administração peemedebista - como o advogado Fabiano Campello, presidente da Sanepar e vice-presidente do Clube Curitibano, lamentava a atitude do vereador Corrêa em transformar a cerimônia em que José Richa passou o governo para seu vice, numa manifestação de contestação política, "ofendendo o dirigente de um país amigo".
As vozes subiram e, embora todos sejam amigos de muitos anos e o ambiente não fosse o mais indicado para uma discussão política, houve quem temesse que da força das palavras se partisse até para os desforços físicos, já que José Maria, delegado de polícia de carreira, judoca, bom de briga, não aceitou as pesadas críticas que lhe faziam e também revidou, com energia, as acusações.
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Durante todo este fim-de-semana, a atitude de José Maria Corrêa em exibir um cartaz contra o ditador Stroessner, no Palácio Iguaçu, foi o motim nos meios políticos e sociais da cidade. O vereador recebeu muitas manifestações de solidariedade mas, da parte de quem está ligado, direta ou indiretamente ao governo, houve críticas mordazes, a maior das quais é que, mesmo ele tendo o direito de expor seus pontos de vista, havia sido "no mínimo deselegante".
O argumento principal era de que José Maria havia procedido como um anfitrião que ao receber um convidado em casa, acaba agredindo-o verbalmente. José Maria contra-argumenta:
- "Mesmo admitindo que como paranaense, sou realmente anfitrião - isto é, estando no Palácio Iguaçu, me reservo o direito de protestar contra a presença de um convidado indesejável. E que não foi, aliás, meu convidado..."
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Para muitos, o posicionamento do vereador foi corajoso e contou pontos. Para outros - seus adversários - foi mais uma prova de seu exibicionismo e demagogia, dentro de uma escalada - que o vem caracterizando nos últimos tempos e que mesmo o aproximando das alas mais radicais da esquerda, o faz com que não tenha coragem de assumir sua identificação com o PC. Para estes, a carreira política de José Maria Corrêa estaria condenada - inclusive pelo ódio, agora mortal, que o ex-governador José Richa (ufa!) passou a lhe nutrir.
Zé Maria, moço inteligente, bem relacionado e que antes de se envolver na política tinha, inclusive, preocupações intelectuais (das quais se afastou por falta de tempo), está tranqüilo: para ele, ao invés de perder votos, ganhou a simpatia de milhares de pessoas, especialmente jovens da esquerda, que viram em sua atitude não um ato quixotesco, mas uma posição que alguém deveria tomar. E que assumiu com todos os riscos.
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