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Lula traz melhor do cinema em ritmo "BN"

Letrista dos mais inspirados no mais fértil período da Bossa Nova, parceiro de Oscar Castro Neves e outros grandes nomes, Lula (Luís Fernando) Freire foi participante de destaque na renovação da MPB nos anos 60. Depois, seguiu os passos de seu pai, o senador Vitorino Freire e acabou até deputado federal. Distante da política, Luís Fernando é hoje editor de uma das mais sofisticadas publicações de arte já feitas no Brasil, a revista "Ventura", que tem como representante regional a crítica e agitadora cultural Marlene Almeida. Se a política o desiludiu, a música continua a ser uma paixão. Há dois anos, Lula produziu um excelente CD, com standards da Bossa Nova (*), que mereceu figurar entre os melhores discos do ano. Agora, em segundo lançamento do selo Ventura Music, temos mais uma produção classe "A", reunindo um grupo instrumental como não se ouvia há muitos anos: Osmar Milito (piano acústico, arranjos, regência), Durval Ferreria (violão e coordenação geral), Luís Alves (baixo acústico), Jota Moraes (teclados), José Carlos Ramos (flautas), Rubinho e Theo Lima (bateria), além de participações especiais das mais significativas. Resultado: um CD para exportação, a partir do título ("Show time em Bossa-Nova") e com um repertório garimpado de antológicos temas de cinema - mas com o direito até uma pequena ária de Puccini ("O Mio Babbino Caro"), no encanto da Bossa Nova, aquele estilo tão marcante e brasileiro - mas de conotação internacional. Maurício Einhorn, 60 anos a serem completados no próximo dia 29 de maio, enriqueceu sobremaneira com sua harmônica de boca - instrumento do qual é o melhor executado no Brasil, quatro faixas: "When I Fall In Love" (Victor Young/Edward Heyman), que fazia parte da trilha sonora do filme "Muralhas de Sangue" (One Minute to Zero, 1952, de Tay Garnett); "Won't Dance"(Harbach/Fileds/Hammerstein/Kern) do musical "Roberta" de William Seiter (1896-1964) que Fred Astaire e Ginger Rogers estrelaram em 1935; "Boum" (Charles Trenet) do filme "La Route Enchantée" - um dos temas menos conhecidos da seleção e "Candy Man" (Leslie Bricuse/Anthony Lewley) de "A Fantástica Fábrica de Chocolates" (1971, de Mel Stuart). É delicioso ouvir os solos de Einhorn, nestes quatro temas de cinema, e, de se lamentar que um instrumentista de seu talento não tenha maiores chances de fazer gravações. O último álbum-solo que Maurício conseguiu fazer foi há quase 20 anos, com canções premiadas da academia ("The Oscar Winners", Polygram), esgotado há tempos, bem mereceria reedição em CD. Mas o que Maurício merece mesmo é fazer novos discos, pois apesar de seu prestígio (Tooths Thielemans, o considera um dos melhores executantes de harmônica do mundo) sobrevive de gravações de estúdio. Baden Powel, com seu mágico violão acústico e Márcio Montarroyos, no "flugel horn" enriquecem a bossanovista revisão de ":Round Midnight do tema-chave do filme autobiográfico sobre Charlis Parker (1920-1955), que Bertrand Tevernier realizou em "All I Ask Of You" (Andrew Loyd Webber/Charles Hart/Richard Stilgoe), do musical "O Fantasma da Ópera" e "My Romance" (Lorenz Hart/Richard Rodgers), jóia que esteve na trilha de uma ignorada comédia estrelada por Doris Day ("Jumbo/Billy Rose's Jumbo", 62, de Charles Walters) ganharam uma participação especial - e bastante original - das trompas executadas por Zdnek Svab. Já o violão acústico de Hélio Caúcci se ouve em "I Won't Dance" e "What Can You Lose" (Stephen Sondheim), de "Dick Tracy" (1990, de Warren Beatty), o tema mais recente desta seleção. Paulinho Braga, com sua bateria, reforça "The Way You Look Tonight" (Jerome Ker/Dorothy Fields), originalmente lançada em "Ritmo Louco" (Swing Gimes) de George Stevens (1904-1974) estrelado por Astaire e Ginger Rogers há 56 anos. O baixo acústico (e arco) de Edson Lobo foi requisitado no arranjo de "O Mio Babbino Caro" (Puccini), que fez parte da trilha sonora de "Uma Janela para o Amor" (1986, de James Uvory). "On The Street Where You Live", uma obra-prima da dupla Frederick Loewe/Alan Jay Lerner, lançada no musical "my Fair Lady"; o enternecedor "Life Is What You Make It" (Marcin Hamlish/Johnny Mercer), da trilha de "Ainda Há Fogo Sobre as Cinzas" (Kotch), 1971, única experiência de Jack Lemmon como diretor complementam este CD simplesmente maravilhoso. É de se esperar que Lula Freire, com seu bom gosto e competência, faça a Ventura Music prosperar e produzir novos discos deste nível. Mais do que nunca o Brasil necessita de ouvir grandes temas na interpretação de músicos competentes. Ainda mais com o molho da Bossa Nova.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
12/07/1992

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