Mágicos tons e semitons nas cordas de Paulinho
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de dezembro de 1986
Violonistas do mundo, escutai: há mestres em execução! Francisco Mário, Heraldo do Monte e Paulinho Nogueira estão com novos - e belíssimos discos na praça - enquanto que o novo álbum de Toquinho também deve chegar nos próximos dias. São vilões mágicos, coloridos, iluminados da beleza da nossa melhor MPB, na sonoridade acústica de quem sabe tão bem executar este instrumento maravilhoso. Chico Mário, em 5º lp, independente, não fica apenas no som: lança também um livro pela Vozes, explicando como se faz para produzir um disco alternativo.
Paulinho Nogueira está feliz. Em menos de um mês, o seu novo elepê - o 25º em 34 anos de carreira - esgotou a primeira edição (5 mil cópias), fazendo com que o produtor Fred Rossi tivesse que adiar a tournée que o violonista fará por várias cidades brasileiras, promovendo este álbum ("Tons e Semitons", Fred Rossi Discos, Rua Augusta, 2516, 12º, conjunto 121, São Paulo).
Aos 57 anos - paulista de Campinas, nasceu em 8 de outubro de 1929 - Paulinho continua com a mesma juventude de 20 anos passados quando o conhecemos. Magro, cabelos pretos, sempre em roupas esporte, é um dos mais sinceros, espontâneos (e modestos) talentos. No restaurante Inverno & Verão, em São Paulo - há duas semanas, o encontramos durante a festa promovida pela Partner Propaganda, para o lançamento do volume 3 da série "Memória", produção do incansável Pelão (João Carlos Botezelli), para a Elebra. Ao lado de um histórico produtor fonográfico, Roberto Corte Real (fundador da CBS no Brasil em 1954, responsável pela edição de 600 elepês), por coincidência o produtor também do primeiro disco de Paulinho (em 1958, pelo selo Columbia), Nogueira nos falou com entusiasmo de seu novo disco.
- "Foi uma realização bem espontânea, simples, com músicas novas - num trabalho descontraído. E está agradando!"
Realmente, tem que agradar. Paulinho é um violinista extraordinário, dono de uma técnica especial e que sem buscar efeitos ou cair em modismos, faz aquilo que poucos conseguem obter totalmente: desenvolver um violão como convém. Sua técnica segura tem sido transmitida a muitos alunos, inclusive ao seu amigo (e hoje parceiro) Toquinho - por sinal retornando de mais uma viagem ao Exterior (desta vez esteve no Chile) e agora, finalmente, com um novo elepê na praça (Barclay/Polygram), cujo lançamento só foi retardado devido à crise de produção (por mais que as fábricas prensem não conseguem atender a demanda do mercado).
Paralelamente ao elepê "Tons e Semitons", Fred Rossi e Paulinho Nogueira - associados neste trabalho independente, lançaram também um álbum com as partituras das dez músicas. O resultado foi fantástico: em apenas quatro semanas, e somente em São Paulo, o volume (Cz$ 80,00) esgotou, provando, assim, o interesse de milhares de violonistas (e estudantes) em dispor das partituras das obras gravadas. Aliás, a inclusão de cifras das músicas registradas num elepê foi uma iniciativa que personalizou as produções da etiqueta Som da Gente e que agora Egberto Gismonti, em seu novo álbum ("Alma", Odeon, dezembro/86), também adotou.
Mesclando temas conhecidos, mas sempre recriados com tanta personalidade que soam como novos - como os já clássicos "Bachianinha nº 2", "Simplesmente", as composições novas - "Valsa em Sol do Meio-Dia", "Reflexões em 2 por 4", "Frevinho Doce", "Bolerando em Terças", Paulinho Nogueira dá neste "Tons e Semitons" (título da faixa de 5'14, de abertura do lado A), momentos de maior enlevo. Um álbum delicioso, tecnicamente perfeito e que confirma mais uma vez a segurança de Paulinho como um dos grandes violões do Brasil.
Como faz bem, entre tanto som poluído e irritante de guitarras eletrificadas, viajar ao som do acústico instrumento nas mãos de um mestre. Obrigado, amigo Paulinho por este disco que se constitui num verdadeiro presente de Natal.
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