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Aramis

Na memória da MPB, uma noite para o Braguinha

São Paulo As comemorações dos 80 anos do mais carioca dos compositores começaram na paulicéia. Antecipando-se ao festival de homenagens que João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga) merecerá no dia 29 de março, ele que aniversaria no mesmo dia do curitibano Poty (e também de nossa Curitiba), o produtor Pelão (João Carlos Botezelli), com apoio da Elebra, não poderia ter uma idéia mais feliz. Na última segunda-feira, dia 1º, no sofisticado restaurante Inverno & Verão, o lançamento do volume 3 da coleção "Memória" - série de elepês que buscam resgatar tesouros de nossa música popular - teve a presença do querido Braguinha. Autor de 500 músicas, mais de 300 para o Carnaval - e pelo menos 50 clássicos de nosso cancioneiro (a começar por "Carinhoso", cuja letra fez há 50 anos, para a música de Pixinguinha), Braguinha mostrou estar em plena forma, alegre, feliz e ternamente emocionante ao contar estórias e, também, cantar algumas de suas mais belas músicas. Para um público de convidados do sr. Isu Feng, presidente da Elebra S/A - eletrônica Brasileira, em comemoração ao lançamento do volume 3 da coleção "Memórias", 11 mil exemplares, distribuição dirigida), Braguinha foi entrevistado pelo radialista Zuza Homem de Mello, da Jovem Pan, ex-presidente da Associação de Pesquisadores da MPB, e este repórter - também ex-presidente da mesma associação. Na verdade, não foram necessárias muitas perguntas para fazer com que o autor de "Linda Pequena", perdesse uma timidez inicial e contasse, por quase uma hora, fatos de sua vida - entremeados, naturalmente de suas marchinhas, sambas e marchas-rancho. Apesar de afirmar que nunca foi cantor "e não conheço nenhuma nota musical", Braguinha é um espontâneo show-man: suas músicas são patrimônio nacional, conhecidas e cantadas de Norte a Sul há mais de 50 anos - e da época de ouro de nossa MPB, é o último sobrevivente. xxx Braguinha é uma daquelas pessoas-enciclopédias da nossa música. Jamais parou de compor. Seus parceiros - Aberto Ribeiro, médico, músico, também letrista, Noel Rosa, Lamartine (com quem fez um clássico, "Os Cantores do Rádio" (1936), entre outros, já partiram. Com os que ainda vivem, como o pianista Alcyr Pires Vermelho, 80 anos completados no dia 8 de janeiro, parceiro em "Dama das Camélias" (1938), "Onde o Céu é mais Azul" (1940), "Laura" (1957), não tem se encontrado. Mas, sozinho, fazendo letra e música, não para de compor. Em 1985, compôs "Vagalume" - que mesmo vencendo o concurso de músicas de Carnaval promovido pela Rede Manchete, não teve uma única gravação, o que o aborreceu bastante. Para o Carnaval de 1986, fez "Estrela Guia", belíssima marcha-rancho, uma das 30 músicas que tem - nas quais vai desde a sátira ao rock até a pureza e suavidade das imagens das pastorinhas e noites enluaradas. Material para um elepê, para o qual já tem até título - mas que, na falta de atenção das gravadoras é um projeto esquecido. Felizmente, pessoas como Pelão, Isu Feng e Romualdo Zanoni, o simpático dono da Inverno e Verão (que já editou 9 elepês com nomes nacionais para distribuição aos seus clientes), fizeram o eterno jovem Braguinha sentir toda admiração que merece, numa noite de grande magia - na qual, entre o público, estavam admiradores que iam do violonista Paulinho Nogueira, Roberto Corte Real (fundador da CBS e RGE, mais de 600 Lps produzidos), ao cineasta Walter Hugo Khouri e o produtor Aníbal Massini Neto. Todos, em pé, ao final tributando a Braguinha, a homenagem que ele merece mais do que ninguém.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
06/12/1986

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