Marguerite, mon amour
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de junho de 1985
Através do roteiro de "Hiroshima, Mon Amour", que Alain Resnais filmou em 1959, Marguerite Duras se tornou conhecida em muitos países. Era a época do noveau-roman e sua linguagem em códigos, rompendo a narrativa tradicional, foi levada a extremos ainda maiores em "O Ano passado em Mariembad", que o mesmo Resnais fez em 1961 - e que, até hoje, continua a ser um filme-esfinge.
Entretanto, já em 1950, Marguerite, filha de pais franceses, nasceu na Conchina (hoje Vietnã), em 1914 - já havia publicado um romance inovador, "Un barrage contre le Pacifique", que em 1958 Rene Clement filmou com Silvana Mangano e Tony Perkins e que no Brasil se chamou "Terra Cruel".
Peter Brook, 70 anos, nome maior do teatro inglês, em sua segunda tentativa cinematográfica, levou em 1960 a tela outro romance de Marguerite Duras - "Moderato Cantabile" (no Brasil, chamou-se "Duas Almas em Suplício", com Jean Paul Belmondo e Jeanne Moreau). Poucos viram este filme - mas os que o assistiram não esqueceram a linguagem inovadora e a beleza dos diálogos. Agora, numa edição da José Olympio, a chance de se conhecer este romance, publicado originalmente em 1958.
Ironia: famosa pelos seus roteiros, Marguerite Duras que entusiasmada pelo cinema de Resnais também se voltou a direção, nunca teve nenhum de seus filmes aqui exibidos: "Índia Song" (1973), "La Femme du Gange" (1973), "Le Camion" (1977), e "Savannah Bay" (1982). Há dois anos, dois monstros sagrados de nosso teatro - Tonia Carrero e Paulo Autran - encenaram sua peça "A amante inglesa" (1968). Agora, paralelamente a edição de "Moderato Cantabile", a Nova Fronteira editou também "O vice-Consul", um de seus romances, escritos em 1965. A própria Marguerite Duras reconhece "Moderato Cantabile" como uma ruptura e um reinício em sua obra:
- "Há toda uma época durante a qual escrevi livros, até "Moderato cantabile", que eu não reconheço... Eu escrevia como se trabalhasse num escritório, todos os dias, tranquilamente".
Diz ainda a autora:
- "O que eu conto em "Moderato cantabile" é a história de uma mulher que quer ser morta. Eu vivi isso... não foi uma história... eu digo uma história de amor, mas era uma história... como dizer? - sexual.["]
Uma história inquietante, difícil até - publicada em edição bilingue (tradução em português de Vera Adami) e que se inclui entre os mais importantes lançamentos da José Olympio neste semestre.
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