Maria Thereza retorna
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de fevereiro de 1977
Com a morte de Maysa (Figueira Monjardim, ex Matarazzo, 1936-1937), reduz-se ainda mais a categoria das grandes cantoras dos sentimentos. Silvinha Telles (1934-1966) e Dolores Duran (1930-1959), foram duas cantoras cujo lugar ninguém ocupou. Hoje, temos apenas Marisa (vertulo Brandão, 40 anos, 22 de vida artística) e Valeska, esta menos conhecida do grande público .São cantoras de uma geração, de uma época, de um estilo hoje curtido com nostalgia, saudade, tristeza. E, se a morte de Maysa deixa uma saudade imensa, diminui o nosso já pequeno mundo musical, temos, talvez para contrabalançar, a volta de uma cantora do mesmo gênero, extrema sensibilidade e que há 15 anos estava afastada da vida musical: Maria Thereza, a "Mecha Branca", nome de sua composição mais conhecida. Por que Maria Thereza ficou tanto tempo ausente? Não sei e não li ainda nenhuma entrevista da mesma que explicasse essa ausência. Mas o importante é que o seu retorno, num elepê belíssimo ( "Prá Matar Saudade", Odeon, SXMOFB 3914, dezembro/76), produção de Renato Corrêa, a traz em perfeita forma. Com a beleza madura de uma mulher que assume o seu tempo e sua época, amparada em um repertório excelente, com arranjos do maestro José Briamonte, Maria Thereza começa emocionando na abertura do lado A, com um pot-pourri de músicas como "Mecha Branca/Castigo/Eu Não Sou de Reclamar/Franceza/Se Eu Morresse Amanhã de Manhã/Não Tenho Você/Chuva de Verão/66. Com exceção de "Até Mesmo Você", sua composição e o poema "Você", sobre o fundo sonoro de "Mecha Branca", as demais músicas já são conhecidas. Mas não importam: a sensibilidade da intérprete as valoriza - e muito: "Nunca Mais" (Caymmi), "Prá Você" (Silvio César), "Apelo" (Baden/Vinícius), "Universo no Teu Corpo" (Taiquara) e "Viagem" (João de Aquino/Paulo César Pinheiro), incluindo ainda músicas de Roberto - Erasmo Carlos: "Proposta" e "O Show Já Terminou". Uma faixa nos emociona profundamente: "Tarde Triste" de Maysa.
Enquanto não temos um novo disco de Doris Monteiro, outra das grandes cantoras brasileiras, intérprete de um gênero romântico e um pouco diverso de Valeska, ou Marisa, mas igualmente com muita bossa e balanço, a Odeon reeditou alguns dos maiores sucessos da cantora, gravados nos anos de 1966/67/71/72/73, no volume 3 da série coletânea ( "Doris", Coronado, SBRXLD 12.876, lançado no ano passado).
Enviar novo comentário