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Aramis

Mauriat-Guimorvan, um encontro musical

Quando apresentei Airton Guimorvan Moreira a Paul Mauriat, na noite segunda-feira, o maestro francês não identificou imediatamente o percussionista, hoje o mais importante instrumentista brasileiro no Exterior. Mas bastou 5 minutos de palestra, em inglês para que Mauriat lembra-se: - Ah! Sim, é claro que eu o conheço musicalmente. Admiro o seu trabalho desde que ouvi disco com o pianista Chick Corea e o grupo "Roturn To Forever". E um papo musical, muito descontraído cruzou a noite, prosseguindo no Marito`S onde foram jantar e aplaudir os músicos que ali se apresentam. Enquanto Mauriat elogiava os chorinhos, Guimorvan, com a simplicidade e humildade que só os grandes artistas sabem ter, fazia questão de abraçar Arlindo e Janguito, pois foi ao som do violão de 7 cordas e do cavaquinho destes dois velhos e admiráveis músicos curitibanos, que o menino Airton Moreira, em 1956, cantou pela primeira vez no programa Cineac-Radio, de Souza Moreno, no auditório da Rádio Clube Paranaense 21 anos de depois, hoje aos 36 anos, Airton Guimorvan Moreira é um músico e compositor com mais de 50 elepes gravados nos EUA, que já viajou por quase todo o mundo e definitivamente comsagrado nos Estados Unidos, onde reside desde 1967. *** Guimorvan chegou no domingo, inesperadamente, apenas para visitar os seus pais, que moram em Curitiba desde 1956. As outras vezes em que aqui esteve limitou sua estada em menos de dois dias, estendendo agora a permanência, mas já deve retornar ao Rio, de onde viaja para Los Angeles, pois dia 11 de julho começa a gravar um novo lp. Há muitos anos que em nossas colunas, tenho registrado, sempre com o maior entusiasmo, a carreira artística de Airton Guimorvan Moreira, que começando a tocar bateria aos 12 anos, em Ponta Grossa, nunca mais parou. Pela falta de informações mais precisas, uma série de dados falsos foram crescendo e agora, finalmente, um longo depoimento gravado com Guimorvan - a ser apresentado em breve no "Domingo Sem Futebol", da rádio Ouro Verde, serviu para esclarecer a sua biografia. Por exemplo, embora seja catarinense de Itaopolis, considera-se paranaense: com um ano foi morar em Ponta Grossa, de onde só saiu em 1956, quando, juntos com seus pais e uma irmã, veio morar em Curitiba. Aqui ficou por 4 anos, trabalhando na noite - conjunto e orquestra King`S e orquestra de Osval Siqueira, até que foi para São Paulo., Nova e marcante fase: após 1 ano de dificuldades e 3 trabalho com um conjunto de bailes (Guimarães), veio a fase do Sambalanço Trio (com o pianista Cesar Camargo Mariano e baixista Kleber), o Sambrasa (já com Hermeto Paschoal), a participação em festivais - conseguindo o primeiro lugar, como cantor, ao lado de Tuca, ao defender "Porta Estandarte" (Geraldo Vandré/Fernando Lana) ou já com o Quarteto Novo (Hermeto Paschoal, Heraldo e Theo de Barros), acompanhando Vandré em "Disparada" (Vandré, 1º Lugar no Festival da Record, 1966, dividindo com "A Banda" de Chico Buarque). *** Depois veio a fase americana, campo amplo e que merece toda uma analise especial - pois ali chegando sem lenço e sem dólares e também sem falar inglês, a custa apenas de seu talento criatividade honestidade profissional conseguiu ser aceito pelos mais importantes instrumentistas, fazer dezenas de gravações e firmar-se como um músico-compositor único, enquanto que sua esposa, a cantora Flora Purim, há 3 anos consecutivos é eleita a "melhor cantora de jazz" pela insuspeita "Down Beat" - a biblia da música contemporânea. Guimorvan é mesmo tema para um livro, tal a segurança de sua carreira, a vitória de suas idéias de percussionista e compositor, que sem fazer concessões venceu justamente onde era mais difícil - por ser mais competitivo. Como se diz, nos EUA, um artista tem que ser o primeiro para ser o primeiro. O segundo é nada. É, em seu campo, na sua faixa, o menino Guimorvan, das noites do King`S Club, que tocava jazz na praça Osório, junto com Raulzinho, trombonista de vara (que hoje também está nos EUA) e outros músicos dos anos 50, pode agora escolher os teatros que deseja se apresentar. E o primeiro. *** Com a mesma simplicidade de, quando menino interiorano, chegou a Curitiba, Guimorvan abraçou velhos amigos, falou de sua vivência americana. Junto com ele veio a filha de 4 anos, para conhecer os avós - e, nas poucas horas que saiu da casa dos pais Guimorvan esteve com o seu primo e maior amigo Cupertino Amaral, 44 anos, que sempre o estimulou em sua carreira. Segunda-feira, a noite, no Marito`S, Airton alegrou-se em ouvir o violão de Arlindo, o cavaquinho de Janguito, o bandolim de Bento e, principalmente, a flauta mágica de Alaor, mostrando inclusive suas composições, como Á Valsa dos Tolos", parceira com Reinaldinho, um talento maior que Curitiba ainda não descobriu. *** Mauriat e Guimorvan são músicos de estilos e escolas diferentes. Mas o (breve) encontro foi muito produtivo Mauriat elogiou Guimorvan, por sua criatividade e pelas novas linhas sonoras que vem desenvolvendo, em seu trabalho que em 10 anos nos EUA incluiu a participação em grupos marcantes, como o de Chick Corea, Miles Davids, Ron Carter, Stanley Clarck, Miroslau Vitous e tantos outros nomes, dos mais importantes, das novas correntes jazzisticos - cada vez mais libertas. Guimorvan não tem planos ainda de uma excursão artística pelo Brasil, embora haja interesse de produtores cariocas em traze-lo para recitais no Rio e São Paulo - e, afetivamente, Curitiba. *** O maestro Paulo Mauriat, 51 anos, mostrou além de uma vigorosa presença física, suportando um extenuante dia de entrevistas e visitas, também a cordialidade e simplicidade. Falou muito sobre a música que faz, sobre sua carreira, surpreendendo ao informar que, embora tocando piano e regendo desde 1942, só nos últimos 12 anos, que se fixou em Paris, passou a gravar com orquestra. Alias, Mauriat não tem uma orquestra única: nas gravações - média de 2 lps por ano - são arregimentados os melhores instrumentistas, que trabalham com outros regentes famosos (Franck Pourcel, Michel Legrand, Francis La etc. ) e, quando viaja ao Exterior, seleciona um grupo menor - em media 30 músicos. Há pouco esteve no Japão e, em novembro, volta ao Oriente, para 55 apresentações que se estenderá, em princípios de 1978, até a Rússia. Gerald Gambus, seu assistente administrativos, que o acompanha ao Brasil - onde veio gravar um LP, já quase pronto - diz que não houve "condições sérias" para uma temporada da orquestra em nosso Pais. Afora asd despesas de transporte, cada apresentação custa cerca de US$ 8 mil dólares. Além da esposa, Mauriat viaja acompanhado de Valentin Coupeau, assistente musical e da sra. Maria Creuza Meza, produtora do setor internacional do Phonogram. Ontem, pelo primeiro avião, seguiram para Porto Alegre, onde permaneceram apenas algumas horas. Amanhã, nos estúdios da Philips, na Barra da Tijuca, no Rio o maestro Mauriat volta a reger os músicos brasileiros, com o qual está fazendo este nov novo lp - lançamento previsto para julho, dia 14, a Data Nacional da França.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
22/06/1977

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