Meio século de muito humor
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de maio de 1986
Em comemoração aos 50 anos da fita gravada, a BASF lançou há dois anos uma esplêndida antologia sobre "50 Anos de Memória Brasileira", no qual uma equipe de pesquisadores, coordenada por Maurício Quadrio, reuniu todos os fonogramas e registros possíveis sobre nossa história recente. A aceitação foi tão grande que, no ano passado, o criativo gerente de comunicação da mesma multinacional produziu uma seqüência - "Antologia da Sátira Brasileira".
Com pesquisa, roteiro, redação e edição final de Márcia Camargo, Paulo Cesar de Azevedo, Vlavênio Martins e Vladimir Sachetta e consultoria fonográfica de Maurício Quadrio, o texto de locução (de Mário Tupinambá) é interpretado por um dos maiores nomes do humor no Brasil - Chico Anísio.
E nestes 60 minutos produzidos pela BASF, numa edição que, felizmente, pode ser adquirida pelos interessados, há uma síntese, embora breve, do humor gravado no Brasil. Como diz Botelho, constatou-se em sua produção, a dificuldade dos documentos sonoros que registram o humor gravado no Brasil, "pois embora riquíssimos, encontram-se dispersos, quando não em estado de penúria".
Realmente, até hoje ninguém se preocupou em catalogar o humor gravado no Brasil. Desde os pioneiros 78 rpm, com sátiras da pesada (para a época) como "Chamaram meu boi de espalha merda", que os Titulares do Ritmo cantavam nos anos 50, até os espetáculos pesadíssimos, em termos de humor sexual e palavrões, de Costinha e Dercy Gonçalves (editados pela CID em elepês lacrados e à venda nos supermercados por apenas Cz$ 40,00) há toda uma discografia humorística. Quando Zé Vasconcelos, radialista, ator e humorista acreano, em 1961, vendeu milhares de cópias de seu "Eu Sou O Espetáculo" (Odeon), dezenas de outros artistas partiram para o mesmo esquema - e com as vantagens do LP, há toda uma escola de humor - que vai da exploração étnica (Vitória e Marieta) ao estilo rurbano (Jacinto, O Donzelo, CBS), passando por artistas vindos do rádio, das chanchadas, do cinema, do teatro de revistas - como Zé Fidelis (Falecido no ano passado), Zé Trindade, chegando mesmo a tentativas mais sofisticadas de humor - com Chico Anísio (meia-dúzia de Lps já gravados), Cidinha Campos ("Homem Não Entra", aproveitando o texto de seu espetáculo teatral), Ziraldo, Jô Soares e tantos outros profissionais que se dedicam ao humor e que têm, ao longo de suas carreiras, gravado piadas, sátiras, estórias - tudo sempre muito apimentado - em discos.
Um campo rico para estudos e pesquisas, que fica apenas aqui como sugestão para um posterior estudo mais profundo. Afinal Ridendo Castigat Mores é uma verdade que há quase 2 mil anos os romanos já nos ensinavam.
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