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Aramis

Os trinta anos de uma gravadora. Brasileira

Trinta anos de resistência. Eis uma epígrafe que poderia ser aplicada aos aniversários de suas empresas que identificam a produção fonográfica no Brasil - e que transcorre neste mês. Numa área de indústria cultural no qual os grandes multinacionais sempre dominaram, os 30 anos que a Companhia Industrial de Discos está comemorando agora - e de fundação da Chantecler, que transcorre nesta terça-feira, 16, sem qualquer lembrança, encontra-se um pouco da história da própria músic brasileira, como produto cultural e de consumo. Os 30 anos da Chantecler - hoje apenas em selo do grupo Continental - não tiveram qualquer comemoração especial, mas as três décadas da CID, estão sendo lembradas. Na última sexta-feira, numa rápida passagem por Curitiba, o vice-presidente executivo Harry Zuckermann, 43 anos, reestruturou com Silvio Meirelles (SC) e Laércio Machado (PR), a presença deta marca no Sul e para marcar a efeméride, o lançamento de uma coleção de cinco discos clássicos, nos quais nomes famosos fazem didáticas narrações da obra de cada compositor: Chopin por Arthur Moreira Lima; Mozart pelo tenor Paulo Fortes; Beethoven pelo maestro Isaac Karabitchevski; Villa Lobos pela atriz Aracy Balabanian e até Fernando Bicudo, ex-diretor de ópera de ballet, narrando a vida de Wagner. Ao lado das introduções a vida e obra de cada um destes autores, a montagem dos álbuns foi feita com excelente fonogramas reunindo orquestras como Volksoper de Viena, Sinfônicas de Nuremberg e Cincinatti; Orquestra de Ópera Estadual de Hamburgo; Filarmônica de Londres - ao lado de solistas como o pianista Cláudio Vettori e o canto de Leda Machado Luís e Ataíde Beck no álbum dedicado a Villa-Lobos. Na criação desta coleção a participação do curitibano Roberto Mugiatti, que elaborou textos e, junto com sua esposa, a fotógrafa Lena, fez as capas. Um projeto desenvolvido ao londo de dois anos - e reservado por Zuckermann para marcar os 30 anos de fundação da CID. Um segundo pacote já está programado para 1989, desta vez focalizando Strauss, Tchaikowsky, Verdi, Carlos Gomes e Back. xxx Possuindo um dos quatro únicos parques industriais de prensagem de discos no Brasil, no bairro de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, a CID não é só a gravadora que mantém catálogo em atividade - aproximadamente 700 entre quase 2 mil títulos que já editou - como tem conseguido driblar as crises sazionais - mesmo as mais rigorosas que se abatem sobre o setor - com uma estratégia especial: oferecendo os produtos aos preços mais competitivos, tem seus pontos de venda basicamente em supermercados e lojas de departamentos - só trabalhando com lojas especializadas selecionadas cuidadosamente. "Nossa estratégia foi a de chegar a um público de massa, com produtos que custando até CZ$ 700,00 a unidade - quando normalmente o elepê já ultrapassa os CZ$ 2 mil - alcança uma faixa bem mais ampla", explica Paulo Kresch, 49 anos, diretor comercial - e qua acompanhou a Zuckermann em sua vinda a Curitiba. Arnaldo Lotti, superintendente da região Sul, expõe um raciocínio lógico: - "A indústria fonográfica sofre, mais do que qualquer outra, as crises econômicas. Considerando ao mesmo tempo um produto cultural, sofisticado e atraente, mas também supérfluo - há riscos constantes em termos empresariais. Assim, a manutenção de uma catálogo extenso, com produtos que vão do comercial ao artístico, é uma opção de atingir maior público." Com a experiência de quem cresceu dentro desta indústria fonográfica, Harry lembra que seu pai, Hermann, recentemente distinguido pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro com o título de cidadão carioca, após ter sido um dos pioneiros numa indústria de montagem de aparelhos de televisão no Brasil - a Emerson TV, no final dos anos 40 - assumiu uma pequena e precária indústria de prensagem de discos, que nos primeiros anos apenas produzia discos para terceiros. A primeira experiência da CID em ter seu próprio catálogo foi uma coleção destinada às crianças - a Carrossel, com produção de Paulo Tapajós - na linha do que João de Barro (Braguinha) havia feito, anos antes, na coleção Disquinho, da Continental. Sem deixar de prensar discos para várias etiquetas, a partir se 1970 a CID - já com os filhos de Hermann Zuckermann, Harry na área comercial e Rodolfo, 48 anos, no setor industrial - passou a formar um catálogo - com nomes importantes como de Nana Caymmi, Emílio Santiago, Bezerra da Silva, Chico Anísio (com os Baianos e Caetanos e Azambuja & Cia), Miltinho, Victor Assis Brasil, Moreira da Silva, Abel Ferreira, etc. - "Muitos destes artistas passaram para outras gravadoras, quando tiveram propostas que não podiam arriscar a cobrir " - diz Harry, cauteloso na empresa - que, por mais de uma vez, também trouxe marcas internacionais, inclusive da 20th Century Records. Agora, a CID está lançando o elepê "Mindnight Sun", com Flora Purin - produção de Airto Moreira, originalmente produzida para a Sigem (ligada ao sistema Globo), paralelamente ao excelente grupo Azymuth, formado por José Bertrami/Alex Malheiros/Ivan Conti - mais conhecido até hoje nos EUA do que no Brasil. - "São dois exemplos de lançamentos jazzísticos, que sugerem agora, num momento em que este gênero encontra novos estímulos com promoções bem estruturadas como o Free Jazz, em sua 4º edição." Harry Zuckermann, um record man seguro em seus projetos, já fez algumas edições de intérpretes e grupos regionais. Em sua passagem por Curitiba deixou o representante local, Laércio Machado, incubido de sondar o mercado e sugerir produções regionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/08/1988

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