Morávia, uma vida de muitas estórias
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de fevereiro de 1992
Para quem se interessa pelo cinema italiano, o nome de Alberto Morávia é facilmente identificado a muito do que de melhor se produziu naquele país. Romancista e roteirista, com pelo menos 20 de seus romances adaptados para o cinema. Morávia exerceu também a crítica cinematográfica, com mais de dois mil artigos publicados. Por isto, com toda razão, podia afirmar:
- "Sou parte do cinema italiano".
Amigo de Vitorio De Sica, Pasolini, Bertolucci, Rosselini e tantos outros mestres, Morávia, em sua longa vida, conviveu - e conheceu - personalidades dos mais representativos deste nosso século como Sartre, Camus, Fidel Castro, Mao Tse Tung, Tito, Godard, Maria Callas, Norman Maile, Arafat, Italo Calvino entre tantos outros.
Enfim, uma vida plena, de um intelectual dos mais conscientes, nascido Alberto Picherle, em 1907 - mas que mudou o sobrenome temendo perseguições anti-semitas mussolinianas durante a II Guerra. Como Morávia publicou mais de 40 livros, traduzidos para 35 idiomas.
Uma vida rica, que mereceria ser conhecida do público que desde 1929, quando publicou o seu primeiro romance ("Os Indiferentes") passou a merecer admiração, necessitava ser mais conhecido. Fundador e editor da revista "Nuovi Argumenti" (1953), colaborador de importantes jornais (como "Corriere Della Sera"), autor de romances como "O Conformista" (1951) e "O Desprezo" (1954) que Bertolucci e Godard levaram ao cinema, Morávia era um homem que tinha muito a contar.
No dia 26 de setembro de 1990, minutos depois de receber do editor italiano um exemplar de "Vida de Morávia" morria em sua mansão de Roma. Agora, os leitores brasileiros podem conhecer esta autobiografia-entrevista (tradução de Mario Fondelli, 312 páginas, Cr$ 34.900,00) graças a insistência do professor e escritor Alain Elkman, 42 anos, um nova-iorquino que morou em Roma e ensina na Universidade de Columbia. Colaborador de "La Stampa" e "Vanity Fair", autor de livros como "Il Tuffo", "Piazza Carignano" e "Los Montages Russes", Elkman conseguiu vencer a sistemática recusa de Morávia a falar sobre si mesmo e ao longo de várias sessões de gravações reuniu um material que, "colocadas em ordem cronológica nas diversas etapas da vida de Morávia vão surgindo como num romance" como diz o editor Paulo Rocco.
Assim, o leitor encontra neste livro "um homem animado por inacreditável apetite de viver, com estilo pleno de ironia e lucidez, e que, sem se deixar levar pela emoção fácil, mostra-se desprovido de indulgência até para com a própria obra".
Nas 312 páginas de "Vida de Morávia", o escritor fala das mulheres que marcaram diversas fases de sua vida, do encontro com personalidades, da infância assombrada pelo fantasma da doença e da velhice e degenerescência. Assim, pela leitura deste livro vemos, principalmente como o destino pessoal do escritor Alberto Morávia se mescla à história coletiva da Itália e àquela do mundo que percorreu em numerosas viagens.
Enviar novo comentário