A morte de Sá Barreto, o intelectual dos anos 20
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de outubro de 1986
Com a morte do advogado Octávio de Sá Barreto, no domingo, desaparece aos 79 anos, o último remanescente de uma geração de intelectuais que, há 60 anos procuravam movimentar a então provinciana Curitiba com menos de 100 mil habitantes. Ao lado de Rodrigo Júnior, De Sá Barreto criou em dezembro de 1925 a coleção "A Novella Mensal", que com pequenos volumes de bolsa, impressos nas "Oficinas" da "Empresa Graphica Paranaense de Plácido e Silva & Cia. Ltda", chegou a publicar vários textos de escritores paranaenses dos anos 20.
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O volume inaugural de "A Novella Mensal" trazia uma estória do próprio Octávio de Sá Barreto - "O Automóvel nº 117", com elementos fantásticos e uma estrutura de suspense tão bem montada que, na década de 60, o cineasta Cláudio Eduardo Arruda (1928-1969) chegou a pré-roteirizar para levar ao cinema, dentro das produções que tentava, então, fazer através da Ribalta, uma das iniciativas de se estruturar uma produtora cinematográfica em Curitiba. Infelizmente, os filmes que Cláudio Arruda realizou - e foram muitos, dentro das séries "Quando as lendas criam vida" e "Encontros com o além" se perderam - e há anos que pesquisadores como Valêncio Xavier e Solange Straubz, tentam localizar os negativos. Consta, inclusive que a segunda esposa de Cláudio, uma senhora de origem grega, os teria levado para o Exterior. Outros admitem simplesmente que o material foi destruído. O fato é que com eles se perderam preciosas imagens - inclusive de um filme interpretado por Ary Fontoura e Maurício Távora.
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"A Novella Mensal" teve uma curta duração, mas publicou também estórias de Rodrigo Júnior ("Um caso fatal...") e Raul Gomes ("O Desespero de cham...").
Poeta, Octávio de Sá Barreto publicava ainda em 1925 seu primeiro livro - "Nuvem que passa". Na época, anunciava outras obras em preparo: "O livro dos meus nervos" (crônicas), "Vida Interior" (versos), "...da vida" ("Novelle Realista") e até uma opereta em 3 atos, "A Rainha da Festa".
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Octávio de Sá Barreto, advogado da turma de 1935 e que teve uma longa atuação profissional e também no jornalismo, participou de um fato histórico dentro do rádio brasileiro: ao lado de Rodrigo Júnior e mais dois jovens, fez uma radiofonização de "A Ceia dos Cardeais", de Julio Deniz - apresentada pela então recém-inaugurada Rádio Clube Paranaense, em 1927. Foi a primeira vez que se apresentou o radioteatro no Paraná e, segundo pesquisas de Ivo Ferro (que, nos anos 50, seria o mais ativo profissional nesta área), também pioneiro no Brasil.
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As mortes de Octávio de Sá Barreto, no domingo e de Iberê de Mattos ex-prefeito de Curitiba, na segunda-feira, 27, levam dois homens que tinham muito da vida de nossa cidade. E que desaparecem sem terem gravado os longos depoimentos que poderiam prestar para a nossa história.
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