Música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de fevereiro de 1974
Um piano ao fundo de um bar ou restaurante é sempre um esquema convidativo. Um bom pianista, romântico, suave, com um repertório em que não podem faltar os foxes da década de 40 ou os dolentes sambas-canções dos anos 50 é programa certo numa noite cheia de estrelas. E este esquema já enriqueceu muita gente - do veterano Sachas a Zé Maria, que no restaurante "Forno & Fogão", na Guanabara, garante um público seguro todas as noites. Músico sem maiores pretensões, que se transformou em notícia de primeira página ao passar, recentemente, dois dias sem deixar o piano - quebrando o recorde de permanência frente a um teclado - Zé Maria (foto) é aquilo que pode se chamar de um músico "certinho": sabe apresentar as músicas tal como foram feitas, sem nada acrescentar as músicas tal como foram feitas, sem nada acrescentar, sem nenhuma idéia original, mas também oferecendo-a em prefeito estado - como um presente bem embrulhado. O lp "Zé Maria no Forno & Fogão" (Odeon, série Coronado, dezembro-73) é o tipo de lp para ser vendido quase que exclusivamente no restaurante onde o pianista trabalha: após uma noite de muita tranquilidade, o cliente que já gastou Cr$ 300,00 no jantar, paga mais 10% e leva também a trilha sonora dos bons momentos que ali passou jantando com a mulher amada ou em companhia do bons amigos. Mas ao chegar em casa e colocar na radiola o disco de Zé Maria e ficar ouvindo "Forever And Ever", "Killing Me Softly", "Carinhoso", "Pra Você", "Um Gostoso Jeitinho", temas de Tchaikowsky ou Chopin, "Manhattan", "As Times Goes By", "Sentimental Journey", "El Merengue" etc., sentirá um nó na garganta. De falta do tempero ou do excesso de nostalgia.
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