Na Babilônia hollywoodiana, a colaboração de dois italianos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de agosto de 1989
Mais do que a metalinguagem, o cinema inspirando o cinema tem material amplo para que cinéfilos (ou não) possam aprofundar suas pesquisas.
Há livros a respeito e a relação de exemplos seria extensa.
"Bom Dia, Babilônia", dos irmãos Taviani é (mais um) exemplo de um filme de amor ao cinema - e que portanto agradará muito mais aos que curtem aquela que já foi chamada de sétima arte, do que o espectador menos (in)formado e acostumado à linguagem da televisão - ou da redução dos filmes para o vídeo.
Vittório, 60 anos e Paolo Taviani, 58, dirigindo, escrevendo seus filmes a quatro mãos - num trabalho impossível de diferenciar a criação de um e de outro, formam uma entidade única, uma das mais importantes do cinema italiano dos anos 70. Participaram de movimentos literários e políticos, fizeram teatro e a partir de 1967, começaram a fazer filmes ("I Sobversivi"), alcançando a fama quando "Pai Patrão" venceu a Palma de Ouro em Cannes, há 12 anos. Realizaram depois "A Noite de São Lourenço" (81) e "Kaos" - fita de episódios, baseados em Pirandello.
Em 1986, arriscaram-se numa superprodução, com seqüências rodadas em Los Angeles: a história de dois imigrantes toscanos que descobrem a América e com ela o cinema. Hábeis mercenários, construíram cenários para "Intolerância", o clássico de Griffith.
De certa forma, um reflexo dos próprios irmãos Taviani: a paixão pelo cinema. Só que no filme, ao final, os dois irmãos, a princípio inseparáveis, tornam-se quase inimigos e como diz a boa amiga Susana Schild, "ao reproduzir esta dicotomia, que "Bom Dia, Babilônia" não seja um sinal profético para o trabalho dos irmãos Taviani, que já fizeram filmes tão belos".
A crítica dividiu-se em relação a esta superprodução, rodada em parte num terreno lamacento de 40 mil metros quadrados, perto de Pisa, na Toscana. A produção foi difícil e se não fosse o apoio de alguns americanos que admiram os Taviani - como o ator-dramaturgo Sam Shepard, o diretor Martin Scorcese e Francis Ford Coppola (que auxiliou ao encontrar um documentário sobre a Feira Mundial de San Francisco, em 1914, vital para a realização do filme), talvez "Bom Dia, Babilônia" nem fosse concluída.
Mas foi. E merece ser visto!
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"Bom Dia, Babilônia" (Good Morning, Babilônia), Itália, 1986, de Paolo e Vittório Taviani. Produção de Gouliano Negri / NK-2 / Paris. Elenco: Vicent Spano (Nicola), Joaquim de Almeida (Andréa), Desiré Becker (Edna), Onero Antonutti (Romanno), Margarita Lozano (garota espanhola), Berangére Bovoisin (esposa de Griffith) e Charles Dance (D. W. Griffith).
Em exibição no Cine Groff, às 14, 16, 18h30 e 22h. Censura: 14 anos.
LEGENDA FOTO - Um filme sobre os bastidores do cinema: "Bom Dia, Babilônia" é a história de dois mercenários italianos que construíram cenários para "Intolerância", clássico filme de D. W. Grifftith.
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