Na vitrina de imagens, o que há de novo em vídeos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de dezembro de 1989
Na ampla vitrine do que há de mais representativo na comunicação audiovisual - incluindo cinema, vídeo e programas de televisão - qualquer festival internacional, seja o FestRio, seja o de Cannes ou Berlim, traz uma contradição: reúne de 10 a 15 dias centenas de produtos das mais diferentes origens, técnicas e propostas, as quais é impossível acompanhar se quer em 20% do que é exibido. E deste imenso material - e não apenas por um processo seletivo de qualidade (mas muito mais comercial), são centenas (ou milhares, no caso de eventos como o de Cannes) que permanecem restritos a circuitos limitados.
Se dos filmes em competição ou exibição nas mostras paralelas ainda há chances ao menos dos que obtêm maior repercussão chegarem, mais cedo ou mais tarde, aos circuitos comerciais, em relação aos vídeos, apesar de sua portabilidade para comunicação, são raros os que atingem platéias maiores. Mesmo os excelentes programas de televisão, produzidos no Exterior e que competem numa mostra como o FestRio, permanecem inéditos comercialmente - quando, em sua grande maioria poderiam preencher horas de programações não só das TVs Cultura, mas mesmo nas redes comerciais privadas. Afinal, dentro de uma programação intensa que em muitas cadeias já chega a 20 horas/dia, por que não utilizar, desde que bem promovido e em horários apropriados, material da maior importância cultural/informativa como a que se pode ver nas áreas de vídeo e televisão do FestRio?
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Hamilton Costa Pinto, que desde o I FestRio, dirige o setor de vídeo e televisão, a cada ano vem ultrapassando as espectativas, com material de primeiríssima qualidade, produzidos nos últimos meses e que mostram, sobretudo, as potencialidades cada vez maiores do vídeo e da televisão como comunicação. A oferta de programas up to date é tão rica que a quem acompanha o evento cresce a angústia de não se poder ver/olhar/conhecer as mais variadas realizações - seja um documentário contundente como o "No", que Ronaldo Duque, ex-câmera da TV-Tarobá realizou no Chile, ou os oito primeiros cantos da "Divina Comédia" na TV-Dante, dos inlgeses Peter Greenaway e Tom Philips ou a magnífica "Histoire(s) du Cinema(s)" de Jean Luc Godard, exibidos hors concours em Fortaleza, na semana passada.
Tendo em Alberto Marquardt, um argentino que vive em Paris e atua na área do vídeo, um de seus principais auxiliares para recolher o que existe de mais interessante em termos de vídeo e programas de televisão, somados as suas andanças em mostras internacionais, além de relacionamento cada vez mais intenso com países do terceiro mundo - que sempre tiveram no FestRio um espaço especial para serem melhores conhecidos - o executivo Hamilton Costa Pinto chega, a cada nova edição do festival, com dezenas de horas de programas de televisão e vídeos para serem exibidos, seja na competição das diferentes categorias, seja como hors concours. "Aliás a diferença entre programas de TV e vídeos propriamente dita é tênue" explica Alberto Marquardt, acrescentando:
- "Afinal qualquer vídeo que seja exibido numa estação de televisão pode também concorrer nesta categoria. A existência de categorias diversas é justamente para dar ao produtor a opção na hora de inscrever o seu trabalho. O importante é que sejam vistos e discutidos."
Justamente, a multiplicidade de programas - com diferentes mostras (mais debates, seminários, entrevistas etc.) que acontecem durante um festival, impedem que muitas sessões de vídeo tenham o público merecido. E, ao final, quando são anunciados os premiados com os Tucanos, ao contrário do que ocorre com os filmes de longa-metragem, 90% do público constata que não teve tempo de conhecer os trabalhos distinguidos. O ideal seria que os mesmos, pela própria portabilidade deste meio de comunicaão - possível de ser mostrado em qualquer sala que tenha equipamentos de vídeo (alguns exigindo o sistema europeu), fossem levados a outras cidades - como acontece com os finalistas dos festivais nacionais (na semana passada, o MIS-PR, trouxe os premiados da Fotoptica, em São Paulo).
Infelizmente, mesmo com boa vontade dos organizadores do FestRio, a extensão torna-se difícil. Há contratos especiais com os produtores (que, naturalmente, esperam vender os direitos de seus trabalhos) e, especialmente, o temor de que sejam pirateados. Afinal, copiar um filme de 35 mm, que desde o transporte (uma dezena de pesadas latas) até a projeção, exige o esforço de muitos em relação a um vídeo, que cabe em qualquer bolsa, vai uma grande diferença. Justamente, pela necessidade de se ter um controle rigoroso dos vídeos (e programas de televisão) que chegam dos mais distantes países, para mostras exclusivamente no festival, seja para competir, seja para exibição informativa como as "Histoire(s) du Cinema(s)" de Jean Luck Godard, "TV Dante", de Greenaway e Philips; a esplêndida coleção Vídeo Jazz (organizada por Stevenson J. Palfi, de New Orleans); Vídeo Independente da América Latina; musicais especiais; Panorama do Vídeo-Arte; a série "A TV que você não vê" - fica apenas na informação mais escrita do que projetada. A espera de que com a evolução de nossas redes de televisão - ou maiores recursos para as fundações que mantêm TVs culturais - estes esplêndidos trabalhos sejam comprados (e seus custos são relativamente baixos) para que milhões de espectadores conheçam o que se faz neste final de década em relação aos recursos que a televisão e o vídeo possibilitaram a criatividade humana.
Afinal, assim como estes projetos foram desenvolvidos para atingirem o maior número possível de pessoas (havendo interesse de seus produtores na sua difusão, respeitados os naturais direitos), também tem que se entender que o público apreciaria assistir programas de primeira categoria - acabando-se aquele preconceito contra a inteligência de que "para o telespectador, quanto pior, melhor".
LEGENDA FOTO - Hamilton Costa Pinto (à direita de Nei Sroulevich), diretor da área de vídeo e televisão do FestRio: catando o que há de mais criativo e atual no mundo das imagens em todo o mundo.
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