Nádia, valorização da cultura ucraína
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de novembro de 1985
Pela primeira vez no Brasil, será editada uma antologia de contos ucraínos, uma edição impressa em Curitiba, pela modesta Arco-Íris, de Silvio Barreto, que se entusiasmou com o trabalho de Nadia Kerecuk, professora de ucraíno e inglês, que traduziu 30 dos mais belos contos tradicionais do país de seus ancestrais. Com ilustrações de outra filha de ucraínos, Lídia Jedyn, a antologia também já interessou a Edições Melhoramentos, que está planejando uma séria sobre fábulas de todo o mundo e viu em Nadia a profissional ideal para coordenar o projeto.
Filha de pais ucraínos, nascida no Brasil, Nadia Kerecuk é secretária da Representação Central Ucraniana-Brasileira e há dois meses assumiu a presidência do Centro Brasileiro de Estudos Ucranianos, que se encontrava desativado há vários anos.
Fundado há 10 anos, sob a influência de um grupo de intelectuais ucraínos, o Centro possui sede própria (um apartamento na Rua Augusto Stelfeld, nº 799), no qual se encontra uma preciosa biblioteca com milhares de livros em ucraíno, alemão e russo, No início, o Centro chegou a funcionar regularmente, mas problemas diversos o levaram a uma paralisação, e o patrimônio corria o risco de perder-se pela dissolução da entidade, se um grupo de ucraínos não tivesse reunido, no dia 31 de agosto, e praticamente intimado Nadia e assumir a presidência.
Professor de inglês, ucraíno e português, teacher trainer da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, responsável pela implantação do curso de ucraíno na Universidade Federal, Nadia Kerecuk é diplomada (com distinção) pela Royal Society of Arts, da Inglaterra, e [especialista] em metodologia no ensino de línguas estrangeiras. Especialista, também, em leituras, tradutora de book-review, atualmente fazendo mestrado em Língua Portuguesa na UFPR, Nádia, ao mergulhar na literatura de seu país, especialmente de contos e fábulas, encontrou elementos do realismo mágico, com personagens que se aproximam de mitos do folclore de outros países. Isso animou a fazer a tradução de alguns textos mais significativos, que agora serão publicados, pela primeira vez, em português.
Como presidente do Centro Brasileiro de Estudos Ucranianos, Nadia Kerecuk tem muitos e bons projetos. Um deles está em reativar o setor editorial, que há 10 anos, chegou a fazer algumas publicações (cujos exemplares ainda estão disponíveis para interessados). A edição da tese sobre a imigração eslava no Paraná, que a professora Oksana Boruzenko, do Departamento de História da UFP, defendeu, em 1973, na Maximilian University, em Munique, obtendo aprovação com nota máxima ("Sundae cum lauren", que não era dado a um estrangeiro há 25 anos) também faz parte dos projetos de Nadia, que lamenta o fato de um trabalho tão importante para a história das imigrações no Paraná permaneça inédita.
A proximidade do centenário da imigração ucraniana anima Nadia e seus colegas do Centro - Romano Oresten (vice-presidente), Peter Jedyn (secretário), João Piaceski (tesoureiro) e os conselheiros Wasyl Dzmyr, Ivan Kovaliuk e Jeroslau Voloschtchuk - para um amplo programa de trabalho. Inclusive a exibição de filmes sobre a cultura ucraína, a divulgação da literatura dessa região e, principalmente, um amplo trabalho de resgate da memória da colonização ucraína deverão levar o CBEU a deixar de ser [uma] entidade restrita à comunidade eslava e se projete com a repercussão que merece. Inclusive, um projeto já tem condições de se realizar em 1986: o Museu da Colonização Ucraína.
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