O livro que era revista nos tempos de José Cury
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 19 de outubro de 1986
Mais do que uma simples homenagem a um dos mais estimados homens da comunicação no Paraná, o jantar que deve reunir centenas de pessoas em torno de José Cury (dia 23, restaurante Madalosso, adesões a Cz$ 200,00) significa o reconhecimento a um homem que, dentro das limitações e dificuldades da imprensa regional, há quase 50 anos vem dando uma grande contribuição editorial.
Um tablóide com tiragem exclusiva para ser ditribuído aos participantes do encontro trará, entre outros textos, uma significativa análise do jornalista Luiz Geraldo Mazza ("A dignidade da matéria paga"), na qual faz preciosas observações sobre a importância de pessoas como Cury na imprensa: o homem que viabiliza uma publicação.
Desde seus tempos de adolescente - quando aluno do Colégio Novo Ateneu, Cury se voltou a publicar jornais e revistas. Há quatro anos, em sincera entrevista para o suplemento "Fim de Semana" (O Estado do Paraná, 17/12/1981), Cury recordava que aos 14 anos lançava "A Palavra" como um órgão intercolegial, circulando entre os colégios da época - Novo Ateneu, Progresso e Parthenon. A respeito, Cury recorda:
- Era uma publicação intercolegial, debatendo assuntos não exatamente políticos. Naquele tempo havia cenáculos - grandes debates - e os melhores alunos faziam trabalhos e mandavam para o jornal.
Quando aluno da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná (entrou em 1945 e embora formando-se, jamais exerceu a advocacia) - Cury criou uma revista chamada "O Livro", que circulou por muitos anos com colaboradores do nível de Carlos Drummond de Andrade, Joel Silveira, Mark Berkovicz, Rubem Braga (e sua mulher na época, Zora Selzam), Armando Ribeiro Pinto, Fernando de Barros (que, na "Revista do Globo", havia revelado a atriz Maria Della Costa). O fotógrafo era Salomão Scliar - gaúcho, irmão do pintor Carlos Scliar, um mestre das imagens.
No primeiro número de "O Livro" a capa foi uma jovem miss, Jahyra Lafitte, de Ponta Grossa - que, pouco depois, se casaria com o então modesto comerciante Hermes Macedo - hoje um dos homens mais ricos do Brasil. Embora com o título de "O Livro", a publicação era eclética: publicava reportagens e artigos das mais diversas tendências e ao longo de sua existência sofreu algumas transformações - passando numa época a dar grande cobertura ao turfe e, em outra, às atividades sociais. Em formato reduzido (15 / 23 cm), bem diagramado, impresso em papel de boa qualidade, a publicação se constituiu numa revista moderna para a época - substituída no final dos anos 40 pela "Revista da Guaíra", quando o advogado-empresário-jornalista Oscar Joseph De Plácido e Silva entrou no setor editorial, com uma casa publicadora que lançou importantes autores nacionais e estrangeiros (entre eles Romulo Gallegos e o norte-americano John dos Passos).
Fundador e diretor de "O Livro" - onde a chefia-de-redação já era ocupada por Samuel Guimarães da Costa, passando depois pela "Revista da Guaíra" - publicação que marcou também época, quando as revistas ilustradas ("O Cruzeiro", em termos nacionais; "Revista do Globo", em Porto Alegre; "Alterosa", de Belo Horizonte) tinham uma grande força - Cury, viria, já em meados dos anos 50, a se integrar à revista "Panorama".
Fundada em Londrina, pelo professor Adolpho Soethe (o número um saiu em julho de 1951), "Panorama" foi adquirida por Oscar Schrapp, dono da Impressora Paranaense e, a partir de 1957, se revitalizou como importante publicação, chegando a ter uma atuação crítica destacada - época em que Ivar Feijó (hoje residindo em Florianópolis) ali publicava corajosas matérias denunciando os desmandos do segundo governo de Moysés Lupion.
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