O marketing do suspense acima do "Ônus da prova"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de outubro de 1990
Não basta editar bons títulos. É importante saber promovê-los. A Record não chegou ao pódium das editoras brasileiras sem razão: é uma das editoras que melhor sabe trabalhar com seus produtos - sejam obras especiais, como o belíssimo livro de arte "Ensaio Poético - Tom e Ana Jobim" (Passaredo/Record, edição encadernada, 187 páginas, edição original feita em 1987 como brinde da IBM) ou um best-seller como "O Ônus da Prova" de Scott Turrow, lançado nesta semana para aproveitar o impacto da estréia do filme - também em lançamento nacional - do filme baseado em outro romance do mesmo autor: "Acima de Qualquer Suspeita" (Cine Astor, 5 sessões, a partir de hoje).
Instalando agora seu escritório territorial em Curitiba, para cuja gerência deslocou o experiente Carlos Alberto Tonassa Maia, funcionário há 25 anos da empresa, a Record deslanchou todo um projeto para fazer com que o segundo livro de Turrow seja um êxito tão grande quanto foi "Acima de Qualquer Suspeita". No leilão para compra dos direitos de publicação em hardcover, a editora norte-americana Farrar, Strauss & Giroux desembolsou US$ 200 mil, um recorde para romance de estréia, e o diretor-produtor Sidney Pollack pagou US$ 1 milhão para levá-lo ao cinema - só que com direção de Alan J. Pakula "Presumed Inocent", com Harrison Ford, Brian Dennehy, Raul Julia, Bonnie Bedella, Paul Winfield e a belíssima italiana Greta Sacchi, estourou nas bilheterias americanas no último verão e agora chega ao Brasil, dentro de uma ampla campanha publicitária. Afinal, o livro, antes mesmo de ser colocado à venda já tinha vendas antecipadas de 50 mil exemplares - cifra que em 30 dias passava para 500 mil. Até junho de 1990, outros números impressionantes: 712 mil exemplares em hardcover vendidos só nos Estados Unidos, 44 semanas na lista de best-sellers e 4,3 milhões de exemplares em paperback vendidos também nos EUA. No Brasil, desde que a Record lançou a primeira edição (agosto/1988), já foram vendidos 115 mil exemplares.
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Frente a estes números, natural que "O Ônus da Prova" chegue com todo o impacto. Também lançado nos EUA pela Farrar, Straus & Giroux, a tiragem inicial de 800 mil exemplares foi acompanhada de um investimento publicitário de US$ 750 mil. Agora, para seus direitos em brochura negociados em 3,2 milhões de dólares, "O Ônus da Prova" teve direitos de publicação vendidos para 15 países - suficiente para tornar Scott Turrow um milionário tranqüilo por duas gerações.
Em "Acima de Qualquer Suspeita" a história parte de um assassinato a ser investigado. Agora, há a implosão de uma família. Repetem-se as digressões sobre a falibilidade da lei, e é alçado ao centro da cena, um personagem de "Acima", Alejandro Stern, advogado de defesa do promotor Rusty Sabich. "O Ônus da Prova" também começa com uma morte, mas nada parecida com o assassinato de Carolyn Polhemus, a atração fatal de "Acima". Desta vez, é a mulher de Alejandro Stern que é encontrada morta na garagem de sua casa, sem qualquer dúvida sobre o suicídio. O mistério que surge é por que aquela mulher tranqüila, aparentemente inabalável e satisfeita com seu relacionamento familiar e a vida em geral, toma a decisão de se matar, depois de emitir um cheque de US$ 850 mil, cujo favorecido não se sabe quem é.
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O filme "Acima de Qualquer Suspeita" também deverá emplacar boas bilheterias: tem um elenco de nomes famosos, suspense e uma realização sofisticada. O roteiro foi desenvolvido por Frank Pierson (Oscar de melhor roteiro original em 1975, "Um Dia de Cão", de Sidney Lumet) e foi rodada em Detroit, no Kaufman Astoria Studios de Nova Iorque e nas cidades de Newark e Allendale, nos arredores de Manhattan. Uma produção de US$ 20 milhões.
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