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Aramis

O pop-ópera com as loiras da Noruega

Depois do rock-jazz fusion e o pop sinfônico, estaremos chegando ao pop-ópera? Dentro dos experimentalismos e mercantilismos musicais, tudo vale e assim não é surpresa que duas belas norueguesas, Benedicte Christine Adrian (22/10/1963) e Ingrid Bjornov (5/12/1963) usem suas bonitas vozes, trabalhadas liricamente, com arranjos pop que vão desde o clássico "Habanera" da ópera "Carmen" de Bizet (há tempos já no repertório da alemã Nina Hagen) até um potpourri de Lennon/McCartney em que seus maiores sucesso ganham arranjos vocais diferentes. A dupla Dollie de Luxe surgiu há 6 anos, vendeu 50 mil cópias de seu primeiro lp e já tem quatro álbuns, um dos quais, "Rock Contre Opera" é lançado agora no Brasil, pela Carrere/RGE. As moças são bonitas, a experiência é curiosa e não deixa de ser mais uma jogada musical interessante. xxx Outro disco interessante é a amostra do musical "Chess", sucesso na Broadway há dois anos, originalmente editada em álbum duplo, agora sendo produzida em Londres - e que a RCA traz num lp simples. Uma música deste musical puxado para o pop - "One Night in Bangkok" catapultou a carreira de Murray Head, bastante programado nas FMs. O disco é interessante, trazendo, por exemplo, "I Know Him So Well", dueto de Eliane Paige e Barbara Dickson (sucesso em Londres). O autor das músicas é Tim Rice (que em parceria com Andrew Lloyd Weber, criou "Superstar", "Evita" etc.), agora em parceria com os compositores do grupo Abba - Bjorn Ulvaeus e Benny Anderson. "Chess", cujo enredo mistura romance, política, jogos psicológicos e o confronto Leste/Oeste, foi gravado entre 1983/84, com elenco internacional, gente já experiente nesta área do pop musical, como Murray Head (que fez Judas Escariotes numa das montagens de "Superstar"), Elaine Paige (que foi Eva Peron) e Barbara Dickson, Denis Quilley. A London Symphony Orchestra e The Ambrosian Singers - regidos por Anders Eljas - dão um toque sinfônico a "Chess Pieces", um xadrez musical dos mais interessantes lançamentos internacionais da RCA neste início de ano. Aparentemente é uma estreante, mas na verdade ela está na estrada musical há 22 anos: Steve Nicks (Phoenix, Arizona, 1948), e em seu terceiro lp ("Rock a Little", EMI/Odeon) mostra desde o rock mais energizado como, por exemplo, "I Can't Wait" à multidirecionada faixa-título "Rock a Little". Stevie Nick começou a tocar a guitarra aos 16 anos e não parou mais de atuar, formando grupos, desenvolvendo um trabalho com Lindsay Buckingham, numa banda de rock, psicológica chamada Fritz (com a qual permaneceu até 1971) e chegando, mais tarde, a se unir ao Fleetwood Machine. Em 1977, um sucesso de 15 milhões de cópias vendidas ("Rumours"), em 1979 um álbum duplo ("Tusk", com o Fleetwood Mack) e, finalmente, há 5 anos o primeiro álbum solo ("Bella Dona"), sem abandonar o grupo também se lança em sua carreira solo. Em 1983, o segundo lp ("The Wild Heart") e agora, chega ao Brasil, com um disco forte em termos de conquistar um público específico. xxx Nem só de Willie Nelson e Kenny Rogers vive a música country americana - embora estes dois sejam, por enquanto, os nomes mais populares deste gênero entre nós. Um compositor e, principalmente, intérprete da maior sensibilidade, com uma voz belíssima, é o texano Don Willians, de quem saiu agora no Brasil um brilhante álbum ("New Moves", EMI/Odeon). Willians já ganhou discos de Ouro e Platina e uma popularidade imensa nos EUA, mas só agora está na Capitol Records que em "New Moves" o traz num lp com músicas ao estilo Nashviliano como "Heartbeat in the Darkness" (David Loggins/R.Smith), "We've Got a Good Fire Goin" (Dave Loggins), o nostálgico "Senorita" (H. De Vito/D. Flowers), uma composição do próprio Willians ("The Light In Your Eyes") e a participação de "Send Her Roses". Um imperdível álbum para quem curte a música country da melhor qualidade. xxx O humor meio grosseiro nas letras de duplo sentido tem no nordestino Genival Lacerda um dos intérpretes de maior popularidade. Com um estilo que assume, declaradamente, a grossura e a apelação, Lacerda já vendeu milhares de cópias de seus discos, durante anos pela Copacabana, hoje através da RCA, que em produção do próprio Genival traz agora "Hot-Dog Baiano". A capa do disco já sugere o conteúdo: o gordo intérprete entre duas apetitosas loiras semi-despidas. O estilo forró, apelativo, traz até alguns momentos animados, como "No Gemido do Fole", "Mundo Velho Sem Freio", "Baixinho Aperreado", "A Força do Cacau", "O Pé Inchado" e "Ainda Mangou em Mim". O humor nordestino, com letras de duplo sentido, não é privilégio machista. E para constatar isto basta ouvir uma cantora de meia-idade vinda do Nordeste (infelizmente não há dados a seu respeito) chamada Cremilda que a Continental apresenta num lp com o título de "A Minhoca do Severino", título apelativo para "Isca de Anzol", música de maior força comercial entre as 16 composições (de diversos autores) deste lp de público seguro junto ao Nordeste - mas que chega também às camadas mais simples da população nos Estados do Sul. É interessante observar artistas populares como Genival Lacerda ou Cremilda, pela forma com que colocam certos fatos - não deixando de fazerem, ao seu modo, sátiras como grandes autores (remember Lamartine Babo, Wilson Batista, Geraldo Pereira etc.) marcavam seus inesquecíveis sambas e marchas. Claro que a linguagem é outra e não há condições de comparar, mas em termos sociológicos, os bregas humorísticos do Nordeste não podem - nem devem - ser desprezados. xxx Se há quem busque o humor mais popularesco, há os que oportunamente não deixam de buscar o ufanismo. Depois que Fafá de Belém usou e abusou da campanha das diretas para tentar reerguer sua fracassada vida musical, chegando a gravar até o "Hino Nacional", é claro que o sempre astuto Benito Di Paula não iria deixar de plantar na mesma horta. E assim enquanto Roberto Carlos ataca de "Verde Amarelo" em seu último lp, o amigo de Charlie Brown não deixou por menos: seu novo lp chama-se "Nação" (RGE) e traz uma música chamada "Nova República" na qual diz: "Que coisa linda/ É o Voto sincero do trabalhador, é vida/ E o samba que corre nas veias/ Do Democrata popular/ Vou cantar vamos lá". Mas Benito ainda ataca de "Cometa Halley" ("Talvez o Cometa Halley/ Traga a luz de Deus/ e a luz do Cometa Halley/ Salve os filhos meus"), fala de "Noite Clara de Luar", da "Mulher Primeira" e até Grande Otelo não escapa de uma parceria e participação especial em "Samba de Um Não Dá". Pois é, Benito é como compositor-intérprete um excelente gerente de marketing... xxx Não podemos esquecer estes bregas que, silenciosamente, ignorados pela imprensa nacional, vendem milhares de cópias de discos - sem receberem discos de ouro. Por exemplo, o já famoso Maurício Reis retorna em "Estou Aqui", produção de Jairo Pires, que sabe, como ninguém, fazer discos para esta faixa. Desta vez, Maurício não ficou apenas em composições novas, mas regravou "Só Quero", do falecido Evaldo Braga e incluiu até uma música de Roberto/Erasmo Carlos: "Meu Grito". Entre as bregas femininas, surge Monalisa, morena de olhar pidão, que em "Sonho Lindo" - desfila um repertório de composições de Geraldo Nunes, outro bregão famoso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
20/04/1986

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