O roteiro de Greene que ficou esquecido
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de abril de 1986
Domingo passado aqui registramos, rapidamente, os roteiros de filmes de sucesso que são adaptados para a filmagem de romance - como é o caso de "Agnes de Deus" e "Os Gritos do Silêncio", recém-lançados pela Record. Mas há também casos inversos: Romancistas que escreveram roteiros para filmes que não chegaram a ser produzidos. O exemplo mais recente e famoso é do último livro de Graham Greene, 80 anos, um dos mais famosos autores de língua inglesa, que teve editado agora como romance inédito um texto originalmente produzido para o cinema: "O Décimo Homem" (Tradução de Flávio Moreira da Costa, 152 páginas, Cz$ 49,90).
Pouco depois da II Guerra Mundial, quando trabalhava para a Metro-Goldwyn-Mayer (em Londres) a mil dólares por semana, Graham Greene escreveu uma novela tendo como tema a Resistência Francesa. Mas a história não foi aproveitada e o original foi parar no arquivo do estúdio onde permaneceu esquecido e intocado até recentemente quando foi encontrado por acaso entre papéis velhos e roteiros de filmes antigos. O próprio Greene se esquecera dele e ficou surpreendido ao rever o seu trabalho, verificando que se tratava de uma obra acabada e cuidadosamente revisada, perfeitamente publicável apesar dos 40 anos passados.
Perto de completar 81 anos, autor de mais de 30 romances (grande parte dos quais levado ao cinema) como "O Terceiro Homem", "O Poder e Glória", "Nosso Homem em Havana", "O Fator Humano" etc. - Greene quase não escreve mais e a descoberta do velho original - um fato curiosos, com sabor de ficção - levou seu nome novamente a evidência. E desde o ano passado se fala neste "O Décimo Homem", cuja história começa com 30 franceses, presos como reféns pelos nazistas, que são obrigados a escolher, numa noite, três dentre eles para serem fuzilados ao amanhecer, em represália ao assassinato de três alemães pela Resistência Francesa. Chavel, um dos escolhidos, oferece sua fortuna e uma bela propriedade a quem quiser morrer em seu lugar, oferta que é aceita por outro prisioneiro, pobre e doente, que vê a oportunidade de deixar amparadas sua mãe e uma irmã. Quatro anos mais tarde, encontrando-se em Paris, sem dinheiro e lugar onde morar, Chavel dirige-se instintivamente a sua mansão, lá encontrando as duas mulheres, e se apaixona pela irmã do prisioneiro que morrera para salvá-lo.
Um romance interessante e que, passados 40 anos, não envelheceu. Ao contrário...
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Indicado a vários Oscars em 1985, "Os Gritos do Silêncio" (The Killing Fields) foi um belo filme sobre a guerra do Camboja, baseado numa série de artigos de Sidney Schamberg do "New York Times", transformada em romance por Christopher Hudson, também jornalista e editor literário do "Standard", de Londres. Agora sai no Brasil a tradução desta obra de interesse especial (tradução de Antônio Gonçalves Penna, 232 páginas, Cz$ 66,90).
"The Killing Fields" conta a saga do jornalista Schamberg, que se encontrava no Camboja, em 1973, e de seu assistente cambojano, Dith Pran, ambos cobrindo a guerra secreta americana no sudeste da Ásia. Com a tomada do poder pelo fanático Khmer Vermelho, são separados e Dith Pran não pode deixar, imediatamente, o país. Assim como filme foi emocionante, também a leitura do romance é marcante. Na tela, Schanberg foi interpretado por Sam Waterston e Dith Pan por Haing S. Ngor, que recebeu o Oscar de melhor coadjuvante. O roteiro do filme foi de Bruce Robinson, a música de Mike Ondfold (editada em lp no Brasil pela RCA) e a direção de Roland Joffe.
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