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O premiado "Wholes" abre a Jornada de Cinema da Bahia

Salvador - Um curta-metragem que na noite de 5 de outubro, sábado, em horário nobre para a televisão inglesa (19h45) estará abrindo a série "South", no Chanel Four, em Londres, entusiasmou ao público que lotou o Cine Tamoio, na abertura da XVIII Jornada Internacional de Cinema da Bahia, na noite de sexta-feira. Terceiro longa-metragem do engenheiro Cecílio Neto, 40 anos, "Wholes" é inteligente, criativo e fascinante da primeira à última seqüência. Em Gramado, dividiu com o também excelente "Esta não É a Sua Vida", de Jorge Furtado - os principais Kikitos e foi o filme mais aplaudido pelo público. Assim como em "Ma Che Bambina" (1986), na qual fazia um divertido (e respeitoso) olhar em torno da São Paulo das canções de Adoniran Barbosa (João Rufino, 1910-1982), Cecílio Neto - uma pessoa encantadora, permanentemente bem humorado, debruça-se novamente sobre o cotidiano da megalópole paulista, utilizando uma linguagem moderníssima, com notável fotografia de Joel Alves Lopes, elétrica montagem de Cristina Amaral e perfeita trilha sonora (por ele mesmo selecionada) para, numa linguagem vibrante conduzir o espectador numa viagem delirante pela maior cidade do continente sul-americano, falando de seus dramas e problemas - mas sempre com bom humor. Tanto "Esta não É a Sua Vida" como "Wholes" foram produzidos pelo programa "South" (Sul), totalmente dedicado a estimular projetos audiovisuais da América Latina, África e Ásia sobre a cena mundial. Entre "Ma Che Bambina" e "Wholes", Cecílio Neto realizou "Três Moedas na Fonte" (1988), uma anedota romântica sobre a São Paulo primeiro-mundista, livremente sugerido pela canção tema do filme "A Fonte dos Desejos", um dos grandes sucessos vocais de Frank Sinatra, nos anos 50. A programação competitiva da Jornada da Bahia inclui curtas produzidos nos últimos três anos - a maioria já levada a outros festivais, alguns já premiados. Por exemplo, "Viver a Vida", de Tata Amaral - premiado em Brasília e em Gramado e que a partir do cotidiano de um office boy oferece uma visão simpática de São Paulo, é extremamente comunicativo com o público e sempre tem condições de obter novas premiações. Já "Uzebrioloco", nova proposta intelectual de Adilson Ruiz ("Carlota Amorosidade"), que esteve em Brasília há dois anos e em Gramado há dois meses, com José Celso Martins Corrêa interpretando, de forma crítica, "O Ébrio", de Vicente Celestino (1894-1968), tenta novamente encontrar maior compreensão de júri. O catarinense Fernando Severo, que há dois anos, com seu "O Mundo Perdido de Kozak" saiu de Salvador com premiações, tem esperança de que o seu "Os Desertos Dias" seja aqui melhor recebido do que em Gramado. Há duas semanas, participando de um festival de vídeo e cinema em São Luiz, seu curta foi um dos quatro premiados - valendo ainda uma distinção a bela fotografia de Flávio Ferreira. Sua exibição será amanhã na mesma sessão em que estarão sendo apresentados "O Vôo Solitário" (Der Einsame Flug), do jornalista joinvillense Everson Faganello, sobre o entomólogo e naturalista alemão Fritz Plauman, 89 anos - que competiu em Gramado - e dois curtas inéditos: "Circular" (realização coletiva dos alunos da Universidade Fluminense) e "Cânticos", de Rubens Ewald. A dupla mais atuante do cinema catarinense, José Henrique Nunes Pires e Norberto Depizzolatti, concorrem aqui com o curta "Manhã" - livremente inspirado num poema de Carlos Drummond de Andrade (1990) e o documentário "Farra do Boi", que mostra preparativos, depoimentos e o registro de acontecimentos na cidade de Ganchos, durante a Semana Santa de 1990. Um dos longos depoimentos é da atriz (e ecologista) Lucélia Santos - que nunca assistiu a Farra do Boi, mas a combate ferozmente. Lucélia encontra-se em Curitiba, onde encerra hoje a temporada de "As Atrizes", de Juca de Oliveira (Palácio Avenida, 18h30 e 21h). O documentário de Norberto e José Henrique é bem construído, procurando oferecer uma visão imparcial desta festa violenta contra os animais mas que encontra ainda defensores. A população de Ganchos - uma das comunidades nas quais ainda o costume se mantém - criou as maiores dificuldades para as filmagens, o que impediu que houvesse seqüências dos momentos de maior crueldade em relação aos bois sacrificados. LEGENDA FOTO - "Farra do Boi - O Documentário", dos catarinenses José Henrique e Norberto Depizzolatti, volta a disputar mais um evento competitivo - agora em Salvador.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/09/1991

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