Os jornais que Samuel não fez
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de março de 1988
Muitos profissionais se indignaram com o artigo-depoimento de Paulo Markum, que ocupa nada menos que 12 páginas do último número (nº 6, fevereiro/88) da revista "Imprensa - Jornalismo e Comunicação", da qual é um dos editores. Com o título de "A última do Aventureiro", Markum, embora falando com admiração pelo espírito empreendedor e profissional de Samuel Wainer, se propõe a revelar "o que não está no livro". Assim, diz Markum, justificando as indiscrições que comete no texto, que, naturalmente vem provocando polêmicas. Principalmente por abordar uma questão que Wainer, em suas memórias, preferiu, elegantemente evitar: os seus relacionamentos com as muitas mulheres que teve. Markum lembrando que seu filho, Samuca, morreu há 4 anos, cobrindo uma tragédia com outros repórteres da Globo, e os seus irmãos Bruno e Pinky não falam, indaga: "Quem realmente foi amigo de Samuel Wainer?"
Danuza Leão, que o conheceu em 1953, quando um amigo comum propôs à socialite de 19 anos que fossem visitar o famoso Samuel Wainer na prisão, também se recusa a dar entrevistas. Mas confessa a amigos que nunca o conheceu direito, que ele jamais falava de si próprio e que nem mesmo a sua data de nascimento Samuel confirmou - tinha duas: 19 de dezembro de 1912 e 16 de janeiro de 1912. "Quer dizer, era Sagitário e Capricórnio ao mesmo tempo. Dá pra conhecer alguém assim?", pergunta Danuza.
Isso não quer dizer que ele fosse alguém distante ou frio. No tempo em que ela o conheceu, havia uma frase célebre no Rio: "Se você não quer ser dominado pelo charme de Samuel Wainer, sente longe dele". Era o tempo em que ele era o rei da boate Vogue - de onde telefonava dúzias de vezes para a oficina de "Última Hora". Pelo menos uma pessoa se diz grande amigo de Samuel Wainer: Vicenzo Caruso, um italiano que chegou ao Brasil em 1957 e quatro anos depois foi ser mordomo de Samuel, já desquitado de Danuza. Caruso viveu os tempos de glória até 1964, no apartamento da Rua Mascarenhas de Morais, conviveu com jornalistas, intelectuais, políticos. E se encantou tanto com o patrão que voltou a trabalhar para ele depois do exílio, quando ele foi morar, de aluguel, no apartamento de Danuza, na Vieira Souto, de onde ela acabou tirando-o, porque "Samuel não pagava."
A revista "Imprensa" - uma publicação moderna, com circulação crescente e ótima qualidade editorial - não se limitou a indiscrições sobre Wainer. Publicou também o diário da jornalista Marta Góes, que durante quase dois meses (6 de julho a 27 de agosto de 1980), gravou depoimentos com Samuel Wainer - material que, trabalhado pelo jornalista Augusto Nunes resultou no conciso, objetivo e atraente "Minha Razão de Viver".
"Agora era mais do que um jornal. Três publicações sob um título pomposo - O Projeto Sabe: Decisão de Agora, Mulher de Agora e uma newsletter diária. O primeiro falaria de consumo e vida moderna, misturando ingredientes de Fortune, Nouvel Observateur, Esquire, Economist e Rampart. Teria 48 páginas, 75 mil exemplares, semitablóide.
Mulher de Agora pretendia ser mais que uma revista feminina - sonhava criar um público próprio, entre o sofisticado e a classe média. Pretendia sair com 50 mil exemplares, formato tablóide. Foi criada até uma editora, e Edifin - Edições Financeiras Sociedade Civil Ltda., mas a coisa não foi adiante por falta de dinheiro.
Idéia Nova surgiu de reuniões com José Hamilton Ribeiro, frei Beto e Sérgio de Souza, entre outros. Seu boneco traz os nomes de Moacir Werneck de Castro, Joel Silveira, Dias Gomes, Gendré, Tarso de Castro, Ruy Guerra e Chico Buarque. Múcio Borges da Fonseca, que guardou um dos bonecos, diz que era para ser uma revista. Mas ela tem cara de jornal. Idéia Nova também ficou no papel, como tantos outros projetos de Samuel, que na Europa, chegou a tentar criar uma espécie de Seleções, para circular em vários países. Quando Regina Duarte foi viver uma jornalista no seriado "Joana", Idéia Nova virou mesmo uma revista, onde Joana trabalhava".
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