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Aramis

A poesia de Aranha e de Marcus Accioly

A poesia é necessária e, felizmente, bons autores se revezam. Desde clássicos até novos talentos - todos sempre merecedores de saudação com entusiasmo. Por exemplo, somente agora, mais de 60 anos depois de escritos, podemos conhecer os poemas de Luís Aranha. Paulistano, nascido em 1901, Aranha começou a escrever aos 20 anos. Misteriosamente abandonou a poesia e ingressou na carreira diplomática em 1922. Nunca mais escreveu e seus poemas foram quase esquecidos. Com exceção de "Aeroplano", "Paulicéia Desvairada", "Crepúsculo" e "Projetos", publicados na revista Klaxon (primeira revista modernista), o restante de sua obra teria permanecido inédita, não fosse o ensaio que Mário de Andrade lhe dedicou em 1932 ("Luís Aranha ou a Poesia preparatoriana"). Participante ativo da semana de 22, Luís Aranha tem três poemas que marcaram decisivamente sua obra: "Drogaria de Eter e de Sombra", "Poema Pitágoras" e "Poema Giratório", reunidos em "Cocktails", a coletânea organizada pelo crítico e poeta Nelson Arsher, com auxílio de Rui Moreira Leite. Além de 26 poemas, "Cocktails" (Brasiliense, capa de Ettore Bottini, 144 páginas, Cr$ 8.000) traz uma apreciação crítica com textos de Sérgio Milliet, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, José Lino Grunewal e Mário da Silva Brito, entre outros. A POESIA DE ALPHONSUS "Uma das vozes mais puras que já se escutaram em verso do poeta Carlos Drummond de Andrade a respeito de Alphonsus de Guimarães Filho, mineiro de Mariana, que estreou na literatura em 1940 com "Lume de Estrelas", livro que mereceu dois prêmios e recebeu entusiásticos manifestações da crítica. Em 1976, depois de uma longa atividade poética, publicou uma seleção de seus versos em "Água do Tempo". Mais um prêmio, desta vez o Prêmio Literário Nacional do Instituto Nacional do Livro. Agora temos "Nó" (editora Record, 152 páginas) que reúne três livros inéditos de Alphonsus: "Nó", "O Cão e o Osso" e "Claro e Escuro", este último todo ele de sonetos, gênero em que o poeta já se tornou um dos melhores entre nós. A terra natal é lembrada por ele no poema "Em Minas": Em Minas me busquei perdendo/o que Minas essência era. Se nela agora vou me revendo/ (na Minas que não fui) pudera/repor no chão desta visão/fragmentária, pobre, o que supus ser minha própria salvação/é minha luz? Além de Minas Gerais, o poeta fala sobre a paixão: Não te trago cantilena/Antes te trago a feroz paixão do que mais corrói e envenena. Quem ama também morre. E a morte também ganha um poema: Não há poema isento/Há é o homem Há é o homem e o poema Fundidos A LÍRICA DE ACCIOLY Agora um poeta mais jovem: Marcus Accioly. Pernambucano de Aliança, 42 anos - completados no último dia 21 de janeiro, sua biografia poderia ser resumida em quatro versos autobiográficos: No triângulo da terra/há duas linhas de mar e da base até o ápice/pulsa um digno de ar No triângulo da terra - a Mata-Seca, a Mata-Úmida e o Litoral - o triângulo do homem que, com os pés no campo, pôs a cabeça na cidade. As linhas ou braços, são as praias - Itamaracá e Tmandaré das temporadas de verão. O signo de Aquário. A obra de Marcus Accioly é extensa: desde seus primeiros poemas publicados no suplemento literário do "Diário de Pernambuco" até este seu mais recente livro (Livraria Francisco Alves Editora, 310 páginas) sua obra é forte e profundamente identificada a sua região. Como lembra Sylvia Dubeux, Marcus tem "o húmus de sua poesia inicial (vitalmente ligada ao Romanceiro Popular do Nordeste) amalgamado com a mais pura herança clássica". Por pensar que "o poeta, dentro do Terceiro-Mundo, não é apenas uma voz, é um grito", Marcus Accioly tem passado da teoria à prática, a ela - a poesia - junto com o seu irmão Nestor, tem emprestado a sua voz em apresentações por todo o País. Daí, ainda segundo a crítica, preocupado com "a palavra que volta ao canto", ou com a música "que mescla o rudimentar e erudito", sua poesia foi musicada por Paulo Fernando Gama, Fernando Aguiar, Cussy de Almeida, Genivaldo Rosas, Capiba, Édison D'Angelo, César Barreto e gravada nos discos I Festival Nordestino da Música Popular (Rozemblite, Recife, 1969), "Chamada" com a Orquestra Armorial de Câmara (Continental, São Paulo, 1975) e, especialmente em "Nordestinados - A Poesia de Marcus Accioly com Música de César Barreto" (Continental, 1980). Ativíssimo animador cultural, integrou o Movimento Armorial, dirigiu o Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco e esteve coordenador Cultural do Nordeste, do Ministério da Educação e Cultura, na gestão Eduardo Portela. É professor de Teoria Literária da Universidade Federal de Pernambuco e dirige o Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco. Obra de longo fôlego, "Narciso" é o trabalho de um autor maduro que, conforme Emil Stalger, sabe que o lírico-épico-dramático corresponde à sílaba-palavra-frase e constrói, dentro de sua densa e múltiplas, uma trilogia quase às avessas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
24/03/1985

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