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Aramis

Professora Eny, a que trouxe o método Montessori para o Paraná

O nome de Eny Caldeira, como educadora, é sempre relacionado como a pessoa que trouxe o método pedagógico desenvolvido pela mestre italiana Maria Montessori (Ancona, 1870 - Noordwijk, Holanda, 1952) ao Paraná. Intuitivamente, esta paranaense de Prudentópolis - onde nasceu em 23 de outubro de 1916 - sentiu que seria com a grande pedagoga européia que teria o rumo para a sua missão de fazer mais do que simplesmente dar aulas em escolas curitibanas. - "Logo depois da II Guerra Mundial, quando li numa pequena notícia na "Gazeta do Povo" que Maria Montessori, exilada da Itália pelo ditador Benito Mussolini, estava voltando ao seu país, decidi: Eu vou conhecê-la e estudar seu método de ensino". Para uma professora que vivia modestamente de seu magro salário de professora do Instituto de Educação, auxiliando no orçamento doméstico de sua mãe e irmãs, viajar a Itália, na segunda metade dos anos 40, no pós-guerra, parecia um sonho impossível. Assim, só em 1950, conseguiu reunir condições para viajar a Perugia, onde por quase um ano fez cursos de "Studi Pedagogico", acrescido ao "Corso Medio de Lingua, Literatura e Storia d'Itália" e mais dois cursos na Universita Italiana per Strangeri e do "Corso Internacional de Introduzione all Insegnamento Musicale". - "Para poder viajar, precisava de 20 contos de réis - na época uma soma enorme. Como não tinha, decidi pedir um financiamento a Caixa Econômica Federal do Paraná. Seus diretores surpreenderam-se com o inusitado da solicitação, mas graças especialmente ao aval moral que o então engenheiro da Caixa, Bento Munhoz da Rocha Neto - que havia sido meu professor no curso de Pedagogia deu, o empréstimo foi concedido. E com este dinheiro, fiquei mais de um ano não só na Itália, mas também na Suíça, Bélgica e França - sempre fazendo cursos". Em 1952, logo que chegou a Curitiba, Eny organizou e implantou a Escola Experimental Maria Montessori, no bairro da Vila Tingui, que foi um estabelecimento modelo por muitos anos. Em 1953, reorganizaria em moldes montessorianos, o Jardim de Infância do Instituto, também criando novas sistemáticas de ensino, com um reconhecimento nacional. Tanto é que, em 1955, ao deixar a direção do Instituto, o grande educador Anísio Teixeira (1900-1952) a convidou para ser pesquisadora do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do INEP. - "Durante cinco anos pude fazer um trabalho amplo e com bons resultados. Coordenei a reforma da educação no Rio Grande do Norte e fiz pesquisas no Nordeste e Brasil Central, organizando também a escola normal de Caicó". Neste período, Eny produziu 22 documentos didáticos de ensino - num total de 1.110 páginas - que viriam preencher claros na bibliografia do ensino no país. Ao longo de sua vida profissional, aliás, escreveu centenas de trabalhos, artigos, ensaios - "infelizmente poucos editados em livros, embora, em edições mimeografadas (na época nem se falava em xerox) tivessem sido disputadas por professores e pedagogos de todo o país". O estilo suave, mas profundo e objetivo da professora Eny lhe havia valido, logo ao chegar a Itália, uma inesperada premiação do jornal "Il Giornale D'Itália" pelo seu artigo "Imobilitá Aparenti", num concurso que foi realizado na Universidade para Estrangeiros de Perigia. Com modéstia, recorda: - "Quando soube que deveria receber o prêmio fiquei assustada. Não tinha trajes para ir numa sessão solene e pedi que me enviassem o cheque pelo correio. Com ele, pude comprar um casado de lã que me protegeu do frio europeu - e que conservo até hoje". Na sede de saber, após fazer cursos em Perugia - quando conheceu pessoalmente Maria Montessori - "já velhinha, ela era uma personalidade fascinante, um ser iluminado" - Eny freqüentou o Instituto de Psicologia da Universidade de Roma e, em Paris, obteve os certificados de "Good Attendance" junto a Unesco e o da "L'Ecole Pratique de Hautes Edutes", junto ao Laboratório de Psycobiologia de L'Enfant, isto já em 1952. Na Suíça, onde residiu por algum tempo, também freqüentou a escola experimental desenvolvida por Jean Piaget - "que embora tivesse uma outra filosofia de educação, foi importante para minha formação". - "Em Paris, especialmente, as aulas de Merleau Ponty (*) e o padre Lebret (**) foram fascinantes. Com o padre Lebret, cheguei a ter um trabalho direto, na mesma época em que também estava outro professor do Paraná, Ubaldo Puppi - que foi seu grande discípulo". xxx Quando retornou a Curitiba, em 1952, o então governador Bento Munhoz da Rocha Neto - "com quem sempre tive um excelente relacionamento" - a convidou para assumir a direção do Instituto de Educação do Paraná, função que exerceu por três anos até a mudança da administração. - "Foi um período em que comecei a colocar em prática um pouco do que havia aprendido no Exterior e senti não poder dar continuidade. Infelizmente, nem sempre as novas propostas são entendidas, e sofri muito quando fui afastada da direção. Aliás, quando fui nomeada há havia sofrido uma discriminação - pois substituindo ao professor Faustino Faváro, fui a primeira mulher a chegar à direção do Instituto. Notas (*) Maurice Meleau Ponty (1908-1961), filósofo francês, foi professor em universidades como a de Lyon e Sorbonne (1949-52), desenvolvendo uma obra em que expôs uma filosofia aparentada a corrente fenomenológica oriunda do existencialismo de Jean Paul Sartre, com quem colaborou a partir de 1945 na revista "Temps Modernes". (**) Padre Louis Joseph Lebret (1897-1966), depois de ter sido marinheiro, entrou para a ordem dos dominicanos (1923-30) e seria o fundador do movimento "Economia e Humanismo" (1941), na procura da economia a serviço do homem. Trabalhou no Brasil e seu exemplo, idéias e livros tiveram grande influência entre os liberais cristãos - inclusive em políticos ligados a Democracia Cristã nos anos 50/60. LEGENDA FOTO - A mestre e seus amigos nos anos 50: o governador Bento Munhoz da Rocha Neto, prefeito Erasto Gaertner e o secretário da Educação e Cultura, Newton Carneiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/03/1991
BOA TARDE!!! GOSTARIA DE PARABENIZÁ-LOS, POIS FOI O ÚNICO LUGAR QUE CONSEGUI ALGO SOBRE A BIOGRAFIA DA PROFESSORA ENY CALDEIRA, UMA PESSOA QUE TANTO CONTRIBUIU PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA. PRECISO FAZER UM TRABALHO E UMA APRESENTAÇÃO SOBRE ELA E NEM A ESCOLA QUE LEVA SEU NOME, PODE ME AJUDAR, OU MELHOR, ME CEDERAM APENAS UMA MEIA PÁGINA DE UM PEQUENO TEXTO QUE ESTÁ NA AGENDA DA ESCOLA. OBRIGADA!!! E MAIS UMA VEZ PARABÉNS!!! MARIA APARECIDA BASIL PROFESSORA CURITIBA - PR. - Brasil
Estou fazendo pesquisas do metodo montessori no Brasil...e fiquei admirada com este texto editado sobre a professora ENY CALDEIRA.gostaria de saber se tem algum livro que eu possa comprar a respeito de sua biografia.obrigada!
Estudei o ensino fundamental(1ª a 8ª séries) nesta exemplar escola, pois morava próximo. E quando já adulto, é que percebi que fazia parte de um projeto de ensino, a meu ver de grande sucesso, visto que considero ótima minha formação, quando comparada a média da época. Tínhamos disciplinas diferenciadas, e novas tecnologias como serviço de som e tarefas diferenciadas, como teatro, etc, Fico hoje envaidecido de ter estudado lé e parabenizo a iniciativa, que faz falta hoje, pela decadência do estudo, que precisa de iniciativas de modernização e humanização na esfera pública, pra que tenhamos bons cidadãos, e não só pessoas com certificados de conclusão com pouco aproveitamento prático... Grande abraço e parabéns pela matéria !!

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