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Aramis

De Cornélio aos rurbanos, a tradição pela música da terra

Qualquer pesquisa de maior profundidade sobre a música rural - hoje rurbana, desaguando no brega suburbano - que se transformou num dos gêneros de maior rentabilidade no mercado fonográfico tem que passar pela Continental. Assim como a Copacabana, a família Bungthin deve ao seu elenco sertanejo a sobrevivência empresarial nos anos difíceis - especialmente no imenso elenco que foi formado por outra etiqueta histórica, a Chantecler - inicialmente uma divisão da firma Cassio Muniz, depois integrada ao grupo Indústrias Elétricas S/A. Afinal, em 1929, o pioneiro Cornélio Pires (1888-1958), o pai da música rural, gravava na antiga Columbia nada menos que 48 discos com músicas ou cenas típicas sertanejas, ensejando uma série extra (numeração de 20.000/20.047, hoje Collector's itens dos mais apaixonados pesquisadores). As melhores duplas sertanejas fizeram seus discos na Continental a começar por Jararaca e Ratinho, que ali chegaram em 1930 (vindos da Odeon) e Tonico e Tinoco, ainda em plena forma, continuam fiéis à fábrica. Hoje, com o gênero rural totalmente descaracterizado - em função da própria transformação sócio-cultural do país, a Continental tem os chamados rurbanos e intérpretes bregas, de formação interiorana, mas pretensões urbanas-sonoras. Uma das poucas exceções é o excelente duo Pena Branca e Xavantinho (José e Ranulfo Ramiro), mineiros de Uberlândia, que há 11 anos fazem um trabalho da maior importância cultural, valorizando um gênero belíssimo e que, infelizmente, tem sido cada vez mais dilacerado. Encontros com Rolando Boldrin e mestre Milton Nascimento (que com eles gravou, em 1982, "Cio da Terra"), tornou esta, uma dupla cult, justificando que seus discos fossem incluídos inclusive em programações mais sofisticadas. Em 1989, "Canto Violeiro" - com participações como as de Fagner, Almir Sater, Manasses, Papete - consagrou Pena Branca e Xavantinho, que retornaram no final do ano passado com o belíssimo "Cantadô de Mundo Afora", com 13 canções das mais tem escolhidas - versões country até de "Menina" (Paulinho Nogueira), "Felicidade" (Lupicínio Rodrigues), "Chuá Chuá" (Pedro Sá Pereira / Ary Pavão) e o belíssimo "Amor de Violeiro", de Rolando Boldrin. Léo Stinghen, paranaense que hoje está entre os mais competentes managers e produtores musicais do país, é que vem orientando a saudável carreira de Pena Branca e Xavantinho. LEGENDA FOTO - Pena Branca e Xavantinho: canto brasileiríssimo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
17/03/1991

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