As raízes do blues chegam ao Brasil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de abril de 1991
Até hoje muitos confundem a palavra blues. Afinal, assim como se pode ter diferentes significados no idioma inglês - tristeza, azul, ou mesmo um estado de espírito que se poderia adaptar para "na fossa" - em termos musicais, o blues é visto por diversas formas - atribuindo-se o gênero a intérpretes que, na maioria das vezes, nada têm em comum com o seu real significado.
Nos últimos anos, algumas gravadoras - especialmente a WEA, quando André Midani estava na presidência - a CBS e a Polygram, vêm insistindo na colocação de discos que permitem uma apreciação evolutiva do blues. Etiquetas menores - como a Black & White, e a Movie Play (esta trabalhando apenas com CDs), de São Paulo, aproveitando algumas temporadas de bluesmen inicialmente no "101" do Maksoud Plaza, depois o Jazz Blues Festival, cuja terceira edição começa dentro de algumas semanas em São Paulo, também têm investido na área.
Este ano, a maior contribuição até agora feita para que os brasileiros interessados em blues tenham uma informação auditiva panorâmica foi dada há um mês pela Sony Music, que com o excelente acervo da CBS (gravadora que adquiriu há menos de dois anos), lançou, de uma só vez, dez esplêndidos álbuns. Merecendo a maior acolhida na imprensa escrita, com amplos espaços, este pacote de blues é um trabalho culturalmente da maior importância, produzido principalmente por Lawrence Cohn, que buscando históricos registros em 78 rpm, submetidos a um processo moderníssimo de recuperação sonora - para deixar o carioca Ayrton Pisco (*) roxo de inveja, o chamado método Cedar, possibilita que gravações em 78 rpm recuperadas por Frank Abbey, Vlado Meller e Gary Pacheco, possibilitem que mesmo com um pouco de perda do original, ouçamos gravações feitas há quase 70 anos com suavidade, sem chiados.
Esta qualidade permitiu, inclusive, que a coleção seja também oferecida em CD, especialmente as gravações de Robert Johnson num álbum duplo.
Nota
(*) O carioca Ayrton Pisco, colecionador apaixonado de 78 rpm, desenvolveu uma avançada tecnologia para recuperação de antigas gravações em 78 rpm que vem possibilitando a etiquetas que se dedicam à reedição de tesouros de nossa MPB - como a Revivendo, de Leon Barg (Curitiba); Collector's (de José Maria Manzo), Moto Discos (de Francisco Aguiar), "Evocação", lançarem elepês - inclusive alguns em CDs - com a melhor reconstituição possível, eliminando em 90% os chiados originais.
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