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Aramis

Solidão nostálgica dos jovens do <<Old South>>

Ao escrever a terna estória da paixão de um adolescente por uma mulher de 22 anos, na solidão provocada com a convocação de seu marido para a II Guerra Mundial, Herman Raucher faz mais do que uma simples << love story >>, << The Summer of 42 >>, com toda sua ação colocada numa ilha de veraneiro, durante uma férias de verão durante o segundo ano da década de 40, foi um retrato lírico e nostálgico de uma geração. Transpostas ao cinema com a sensibilidade de Robert Mulligan, se transformaria no melhor filme de Robert Mullingan, 55 anos: << Houve Uma Vez Um Verão >>, com a belíssima Jennifer O (Neill, o quase estreante Gary Grimes. Realizado em 1971 - e chegando no Brasil em 72, << Summer of 42 >>, valorizada pela prefeitura trilha sonora de Michel Legrand (com um tema, << The Summer Knows >>, que se destacaria isoladamente), atingiria o público e encontraria a melhor repercussão crítica. << A Ponte do Desejo >> (cine Bristol, até amanhã), embora reunindo novamente um roteiro de Herman Raucher e uma trilha sonora de Michel Legrand, não consegue, infelizmente, atingir o mesmo clima de << House Uma Vez Um Verão >>, embora seja um filme digno e que se assiste com satisfação. O diretor Max Baer, até agora um nome desconhecido no Brasil, não conseguiu dar o mesmo envolvimento nostalgico e poético obtido por Mulligan, embora também com a ação recuada: ao invés do 42, a história se passa em 53, no condado de Chickasaw, Mississipi, o << old south >> dos Estados Unidos. assim como Sam Peckimpah escreveu o roteiro de seu vigoroso << Comboio >> (Convoy, 78) inspirado em uma balada muito popular, também Herman Reucher desenvolveu o roteiro deste filme a partir do sucesso que << Ode To Billy Joe >> obteve a partir de 1967, quando chegou a vender 23 milhões de cópias. Por sua vez, Gentry inspirou-se num fato real: a 3 de junho de 1953, um adolescente suicidou-se, pulando da ponte Tallahatchie, em Chikasaw, Mississipi, nascendo uma lenda a seu respeito. Com a sensibilidade que lhe é característica, Raucher construir uma história com pinceladas sociais e psicológica em torno do comportamento de uma geração rural, do início dos, anos 50. De certa forma é uma visão ao inverno daquela que Paul Mazursky, há 4 anos passados, fazia dos jovens naviorquinos, na mesma época, em prórxima Parada, Bairro Boênio >> (Nex Stop, Greenwich Village). Ao invés da liberação que a metrópole americana já começava a propiciar, justamente no bairro até hoje identificado como a meca da boemia intelectual e artística, em << Ode To Billy Joe >> há a repressão sexual, os preconceitos, o peso das convenções e conservadorismo de toda uma comunidade: a angustia, a indecisão e o desejo da adolescente Bobbie Hartley (Goynnis O`Connor), 16 anos incompletos, na fronteira entre menina/mulher e, que encontra resposta no também adolescente, Billy Joe McAllister (Robby Benson), 2 anos mais velhos, conhecidos desde a infância, mas que sentem agora uma atração maior, não fica apenas numa visão de << Romeu e Julieta >>. Apesar do puritanismo da família de Bobbie Hartley - batistas, apegados a terra - enquanto Billy Joe, se descobre, de repente, em sua impotência sexual - e uma traumatizante experiência, que o levaria ao suicídio, são dados que conferem << A Ponte do Desejo >> um clima intenso. O roteiro de Raucher, portanto, não poderia ser melhor. Faltou, entretanto, a Max Baer um maior domínio da linguagem cinematográfica, de forma que a narrativa não tem o ritmo poético e nostálgico requerido. Mas, nem por isso, o filme se torna cansativo ou menos emotivo as pessoas que sabem descobrir no ser humano a sua grandiosidade. Trabalhando com um elenco de intérprete desconhecido, a belíssima trilha sonora de Legrand (infelizmente o lp não foi editado no Brasil) marca as seqüências mais ternas, << A Ponte do Desejo >> é um Mullingan e um momento exato para uma obra-prima como << House Uma Vez Um Verão >>. O versão de Baer poderia ter mais nostalgia e emoção, mas nem por isso deixa de aquecer as nossas retinas. FOTO LEGENDA - Billy & Bobbie: história de amor nos anos 50.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
24/05/1980

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