Superman na luta pelo desarmamento
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de dezembro de 1987
O Superman está novamente no espaço. Literalmente, agora ele vai para o espaço numa tentativa de limpar a Terra das armas nucleares. Coincidentemente, a estréia nacional de "Super-Homem IV: Em Busca da Paz" (cines Palace Itália, às 14, 16, 18, 20 e 22 horas; cine Itália, 13, 15, 17, 19 e 21 horas) acontece duas semanas depois que Reagan e Gorbachev assinarem o tratado que é o início (esperamos!) do fim da guerra nas Estrelas.
No roteiro que o próprio Christopher Reeve, 35 anos, o intérprete do Superman desde 1978, fez questão de escrever (em colaboração com Lawrence Konner e Mark Rosenthal), uma conferência de cúpula para o desarmamento fracassa e mesmo rompendo um juramento que havia feito aos velhos do planeta Krypton (o de não interceder no destino da Terra), ele decide livrar o nosso planeta de todas as armas nucleares.
Justificando o fato de só ter aceito atuar nesta quarta seqüência com a condição de participar do roteiro, o ator Christopher Reeve disse:
- Para mim, este tornou-se o Super-Homem mais pessoal de todos os filmes da série. Ele reflete diretamente o que Superman deveria ser e o que ele deveria estar fazendo. Eu sempre pensei que se Kal-El ficasse em Krypton, ele teria sido um carpinteiro ou motorista de táxi. Eles simplesmente tornou-se o Super-Homem por que ele aterrisou num sistema solar diferente, na Terra.
Superman Cinqüentão - Às vésperas de seu cinqüentenário - foi em junho de 1938 que os jovens Jerry Siegal e Joseph Shuster iniciaram a publicação do personagem em tiras de jornais, o personagem é um dos (poucos) que tem resistido a transformação dos quadrinhos. Até há alguns anos, dividia com Tarzan, a sustentação da Ebal - que o publica também há quase 50 anos nas vendas avulsas. E com apenas um ano, o Superman saía dos quadrinhos para chegar numa série de rádio que teve bom Ibope até 1951.
No cinema, entre 1941/43, a Fleischer Animation Studios e a Paramount Pictures co-produziram 17 desenhos coloridos do Superman. Em 1948, a Columbia lançava o primeiro de dois seriados, cada um com 15 capítulos (1948 e 1950). Em 1951, saía o primeiro filme de longa-metragem em branco e preto, 67 minutos - "Superman and the Mole Men". Coincidência: o ator chamava-se George Reeve.
Em 1952 multiplicavam-se as séries para a televisão, então engatinhando nos EUA. Em 1954 a 20th Century Fox lançava cinco filmes do Superman, cada um compilando três episódios (nunca foram editados juntos). Entre outubro de 1937 a setembro de 1958 a ABC-TV levava estas séries na programação da tarde e entre 1966/70 a CBS-TV lançava outra série. Finalmente, em 1973 as séries de TV mudaram para a BC-TV.
O grande Marketing - Um personagem tão popular - nos quadrinhos, rádio, televisão e cinema - foi totalmente reciclado para voltar numa superprodução da dupla Alexandre e Ilya Salkind, que, com apoio da Warner Brothers investiram mais de US$ 40 milhões num imenso projeto. Só o ator Marlon Brando, para interpretar o pai de Kal-El, aparecendo menos de cinco minutos no início do filme, exigiu US$ 4 milhões - o maior cachê até então já pago a um ator por tão pequena atuação.
A produção havia sido iniciada em fins de 1975, quando os Salkind começaram a catituar o projeto, com todo o marketing. O primeiro filme da série dirigido por Richard Donner - e praticamente lançando internacionalmente Christopher Reeves (anteriormente já havia feito alguns filmes, mas sem destaque) teve um grande destaque. Ganhou até três indicações ao Oscar (montagem, som e a música de John Barry).
Muitas seqüências já foram rodadas e guardadas para a segunda parte, que teve, entretanto outro Richard na direção: Lester, até então mais conhecido pelos filmes que havia feito com os Beatles. A terceira parte, novamente dirigida por Lester, em 1983, procurou acrescentar o humor - e para tanto o elenco original foi valorizado com a participação do popularíssimo ator negro Richard Pryor.
A renda dos três Superman não decepcionou. Inicialmente nos cinemas, depois na televisão e agora em vídeo, compensaram, com altos dividendos, os milhões de dólares investidos.
O Superman IV - A dupla mais astuta que atualmente domina o cinema internacional, os primos israelenses Menahem Golan e Yoram Globus, da Cannon Productions, adquiriram dos irmãos Salkind os direitos de Superman para o cinema. O resultado é que a quarta fita já tem outra estrutura de realização, embora mantendo, ainda, Christopher Reeves como o herói, Jackie Cooper como Perry White, o editor do "Planeta Diário", Marc McClure como o repórter Jimmy Olsen e Margot Kidder como a paixão de Clark Kent - a repórter Lois Lane. Lex Luthor, o super inimigo de Superman - ausente na terceira parte da série - retorna na pele do mesmo ator das duas primeiras aventuras - Gene Hackman.
Mas há muitos elementos novos no roteiro que Reeves desenvolveu com a dupla Konner e Rosenthal (os mesmos autores de "A Jóia do Nilo"). O "Planeta Diário" é vendido a um magnata da imprensa sensacionalista (qualquer referência ao australiano Rupert não será mera coincidência?), e Clark Kent revela-se, mais uma vez, em sua personalidade, a sua paixão Lois Lane. De um fio de cabelo de Superman (ou Clark Kent?) seu arquinimigo Lex Luthor, auxiliado pelo seu sobrinho Lenny (Jon Cryer) desenvolvem um protótipo com os mesmos poderes - o Homem Nuclear, com o qual o herói terá que medir forças no espaço. Enfim, um roteiro que possibilita o máximo de efeitos visuais (Harrison Ellenshaw) e ao fotógrafo Ernest Day desenvolver toda uma tecnologia fascinante. Administrando tudo, o veterano diretor canadense Sidney J. Furie, que apesar de altos e baixos tem em sua filmografia um marcante filme de espionagem ("Ipcress, Arquivo Confidencial", 1961, que lançou Michael Caine internacionalmente), um western notável com Marlon Brando ("Sangue em Sonora/The Apaloossa",1966 - recentemente reprisado na televisão) e fez ainda a cinebiografia de Billie Holliday (1915-1959) em "O Ocaso de uma Estrela" (The Lady Sings The Blues), em 1972 - com Diane Ross num papel que lhe valeu indicação ao Oscar.
- É um pássaro, um avião? Não, é o super-homem! A frase repete-se mais uma vez. Às vésperas do cinqüentenário, Superman voa novamente com sonhos e magia nas telas, com todos os recursos tecnológicos para uma aventura delirante.
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