Tânia, do Carnaval ao sucesso nos EUA
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1984
Há dez anos, quando a organização do Carnaval curitibano foi delegada à Fundação Cultural de Curitiba, criada poucos meses antes pelo prefeito Jaime Lerner, o diretor administrativo Constantino Viaro, apresentou uma sugestão oportuna: considerando os longos intervalos entre as apresentações das nossas pobres e desorganizadas escolas de samba, deveria haver alguma atração no tempo de espera - para diminuir a irritação do público nas arquibancadas. A idéia foi aprovada e apesar do pouco tempo que restava se tentaram vários contatos com nomes ligados ao Carnaval, para virem a Curitiba fazer este show alternativo. Entretanto, todos os nomes lembrados estavam comprometidos.
Surgir, então, uma moça, que se apresentava em boites de São Paulo - excelente pianista, cantora e compositora. Mesmo sem ser uma artista identificada com o carnaval, era uma excelente profissional e aceitou a proposta: acompanhada de dois músicos, veio no sábado e cantou todo o repertório carnavalesco, no palanque oficial da Marechal Deodoro - nos longos intervalos das escolas. Mereceu aplausos e encerrado o seu trabalho voltou, naquela mesma madrugada, para São Paulo. Seu nome: Tania Maria.
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Outubro, 1983: "Newsweek", o influente semanário editado pelo grupo "The Washington Post", dedica uma página para "Brazil's Queen of Jazz": Tania Maria (Correia Reis). Há 4 anos nos Estados Unidos, após residir por cinco em Paris, Tania Maria - a mesma cantora que há 10 anos cantava sambas e marchinhas no Carnaval de rua de Curitiba - é de hoje uma artista em ascenção no competitivo mercado americano. Se a pianista Eliana Elias (que há 3 anos percorreu todo o Estado, como tecladista do grupo que acompanhava os shows do festival "Paraná de Todos Os Cantos"), foi a primeira artista brasileira a aparecer na capa da revista "Sown Beat" (agosto/83). Tania Maria ganhou agora um nobre espaço numa das mais prestigiadas publicações internacionais. No texto, Helena Joshee a saúda como uma cantora de grande força, intensa criatividade - merecendo, assim a adjetivação de "Brazil's Queen of Jazz" - ou seja a rainha do jazz do Brasil.
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Tania Maria é mais uma artista que se firma internacionalmente, enquanto no Brasil só os que estão muito ligados a música popular a conhecem. Há 15 anos passados, deixou um marido e dois filhos em São Luiz do Maranhão. No Rio e São Paulo lutou muito - pois apesar de ser criativa pianista e boa cantora além de fertil cantora, as possibilidades não eram muitas. Assim mesmo conseguiu gravar três elepês, que passaram desapercebidos. Quando Guy de Casteja inaugurou o "Via Brasil", em Paris, há 10 anos, foi convidada para a temporada inicial. Agradou tanto que foi ficando, contratada por outras casas noturnas e fazendo discos na França. Mas apesar do êxito - em 1977, quando a encontramos em Paris, estava em ótima fase - o grande desafio era ainda os Estados Unidos. Em 1980, o guitarrista Charlie Byrd a apresentou a Darl Jefferson, diretor do selo jazzistico Concord, na Califórnia. Logo tinha um disco no mercado americano e iniciava uma carreira fulgurante, a começar por elogios de Leonard Feather, o mais influente crítico de jazz no mundo.
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Seu novo disco - o terceiro que faz nos Estados Unidos - "Come With Me", lançado em setembro do ano passado pela Concord, vendeu nas primeiras semanas mais de 60 mil cópias. Cantando em portugues e inglês, Tania Maria, 35 anos, não se considera apenas uma cantora de jazz. Como pianista e compositora, diversifica seu trabalho. Ela somou a ternura da bossa nova a improvisação jazzistica e por isto diz:
- "As pessoas me chamam de Ella Fitzgerald do Brasil. Ela é única e eu também seu única".
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Esta é Tania Maria. Maranhense que venceu na França e Estados Unidos. Desconhecida (ainda) no Brasil - onde não existe nenhum de seus discos.
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