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Aramis

Um assalto de talento

Se há seis anos passados, "O Assalto" valeu ao seu jovem autor, o mineiro José Vicente de Paula, os aplausos entusiásticos da mais rigorosa crítica - confirmados na outorga do Troféu Moliére 1969, hoje, a remontagem que o Grupo Mambembe faz deste vigoroso texto (Auditório Salvador de Ferrante, até o dia 9, 21 horas), permite não só uma melhor revisão da peça, como revela, para o público curitibano, um extraordinário ator: Gilberto Bastos, 27 anos, longa experiência em vários grupos do Rio de Janeiro, agora radicado em Curitiba. "O Assalto" é uma dissecação corajosa, cruel e sincera dos universos cinzentos de dois homens-classe: o bancário Vítor (Bastos) e o faxineiro Hugo (Ailton Silva) colocados num confronto real em seu aparente surrealismo, com diálogos da mais profunda intensidade/honestidade - fazendo com que o espectador consciente não desprenda, um momento sequer, sua atenção do palco. O texto de José Vicente é também um desafio para qualquer diretor e, principalmente, atores: concentrando todo o vigor e dramaticidade em apenas 2 personagens, exige interpretações sérias e uma direção segura. Gilberto Bastos, corajosamente acumulando a direção e interpretação, saiu-se muito bem nesta sua primeira experiência profissional em Curitiba (anteriormente dirigiu alguns textos com alunos do Curso Permanente de Teatro e montou "Glauco Flores de Sá Brito - Um Poeta em Cinco Tempos", que inaugurou o mini-auditório com o nome de Glauco). O confronto entre os universos do bancário solitário e do faxineiro, tem, no texto de Vicente, uma visão panorâmica, revelando já nesta peça os seus méritos de notável dramaturgo, que viria, confirmar em "Hoje é Dia de Rock" (que Antonio Carlos Kraide planeja montar com alunos da Faculdade de Direito da Universidade Católica). Nada em "O Assalto" é gratuito e os diálogos azedos, cruéis (exemplos da colocação correta do palavrão) atingem perfeitamente seus objetivos. Com uma cenografia econômica (assim criada especialmente para permitir o espetáculo ser levado ao Interior) e uma inteligente banda sonora, em que Gilberto e o competente Cesarti, aproveitaram temas dos grupos Yes, Emerson Lake e Palmer e encerrando com Milton Nascimento, a peça que marca o aparecimento do Grupo Mambembe se constitui numa das mais agradáveis revelações desta fraca temporada de espetáculos locais. Gilberto é, sem dúvida, a grande presença no palco, mas nem por isso Ailton Silva deixa de merecer elogios: sua criação do lixeiro Hugo está sóbria e interessante. Não se pode recomendar "O Assalto" ao espectador que procura apenas o entretenimento no teatro. A peça de Zé Vicente exige sensibilidade para a compreensão de suas intenções. Mas, usando uma palavra da moda, o esforço é gratificante e o público consciente deixa o teatro certo de ter visto um espetáculo com gosto de realidade. Que por isso mesmo não tem sabor de cereja.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
02/11/1975
É muito bom ter o privilegio de ter acesso a textos tao longinquos. Por favor continuem postando tais que nos enriquecem.
Por gentileza gostaria de receber o texto O Assalto de José Vicente. Moro em Maceió, estudei teatro e televisão na oficina de atores Nilton Travesso, com o próprio diretor. Quado li o texto acima fiquei muito curioso(quando li o comentario) Gostaria de tê-lo e quem sabe montar este espetáculo. Meu endereço Conjunto Benedito Bente 1 ,Rua A quadra 14 n 84 tabuleiro dos / Martins. Maceió -Al CEP 57084-040 TEL 082 33442142 OU 082 88772244

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