Um coquetel sonoro que agrada várias gerações
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de abril de 1991
Entrevistado por Jô Soares em seu programa na Rede TVS (em Curitiba, TV Iguaçu), Ray Conniff, mostrando uma notável juventude e disposição, falou, com simplicidade, de seu segredo em saber fazer arranjos que cativam o público. Afinal, embora nunca tivesse sido admitido nos "jazz pool" ou merecido cultuações entre os mais ortodoxos apreciadores da música instrumental, poucos band-leaders construíram uma carreira de tamanha popularidade e bem sucedida em termos de repertório diversificado.
Nascido em Autoboro, no Massachussetts, o trombonista Conniff começou a trabalhar nos anos 30. Durante quatro anos, passou pelas orquestras de Bunny Berigan (1902-1948), Bob Crosby (Washington, 13/08/1925, irmão mais moço do cantor Bing) e Artie Shaw (Arthur Arshawsky, New York, 23/05/1910), antes de formar o seu primeiro octeto - o que aconteceria em fins de 1941. Mas seria o período em que integraria a banda de Harry James (1916-1983), que Conniff teria um grande aprendizado instrumental - válido para os vôos próprios que passaria a consolidar após a II Guerra Mundial.
Trabalhando com vocalistas mais (Johnny Mathis, Jonnie Ray) ou menos conhecidos (Guy Mitchel, nascido na Iugoslávia, em 1927, e que apesar de ter se destacado nos EUA nos anos 50, praticamente nunca foi ouvido no Brasil), Ray Conniff soube sempre encontrar a correta utilização do equilíbrio metais-vozes-cordas. Muitos de seus mais de 80 elepês se tornaram notáveis pelas vozes, sempre agradabilíssimas e suavemente ajustadas ao repertório escolhido. Entretanto, em termos instrumentais, ao menos por duas vezes buscaria um solista para dividir as glórias: o ótimo pistonista Billy Butterfield (Charles William Butterfield, 14/01/1917 - 18/03/1988), que havia sido seu colega na banda de Bob Crosby e que foi sempre um mestre do estilo "mainstrean". Com ele como solista, seriam gravados "S'Different" (1957), "Conniff Meets Butterfield" (1959) e quatro anos depois, "Just Kidding Arlund" (1963).
Pasteurizado, com um som ao sabor de chantilly em muitos momentos dos anos 70/80, com repertórios às vezes atendendo apenas ao sucesso do momento - e afinal, gênios como Porter, Rodgers, Hammerstein, Jerome Kerner, Gershwin e alguns outros não surgem a toda hora - Conniff sofreu uma maldosa rejeição por parte das novas gerações.
Seu público, na faixa dos 45/60 anos, porém, continua fiel - e este, por si só, já garantirá boas casas nas suas apresentações de hoje à noite, nesta temporada sulina que o competente Mozart Primo está sabendo administrar.
LEGENDA FOTO - Retrato de Conniff quando jovem: há 40 anos, ao lado do pistonista Billy Butterfield (1917-1988), quando fez seus melhores discos. Hoje e amanhã, no Guaíra, o mesmo Ray, aos 75 anos, regendo sua orquestra com sucessos de musicais da Broadway.
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