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Aramis

Um coquetel sonoro que agrada várias gerações

Entrevistado por Jô Soares em seu programa na Rede TVS (em Curitiba, TV Iguaçu), Ray Conniff, mostrando uma notável juventude e disposição, falou, com simplicidade, de seu segredo em saber fazer arranjos que cativam o público. Afinal, embora nunca tivesse sido admitido nos "jazz pool" ou merecido cultuações entre os mais ortodoxos apreciadores da música instrumental, poucos band-leaders construíram uma carreira de tamanha popularidade e bem sucedida em termos de repertório diversificado. Nascido em Autoboro, no Massachussetts, o trombonista Conniff começou a trabalhar nos anos 30. Durante quatro anos, passou pelas orquestras de Bunny Berigan (1902-1948), Bob Crosby (Washington, 13/08/1925, irmão mais moço do cantor Bing) e Artie Shaw (Arthur Arshawsky, New York, 23/05/1910), antes de formar o seu primeiro octeto - o que aconteceria em fins de 1941. Mas seria o período em que integraria a banda de Harry James (1916-1983), que Conniff teria um grande aprendizado instrumental - válido para os vôos próprios que passaria a consolidar após a II Guerra Mundial. Trabalhando com vocalistas mais (Johnny Mathis, Jonnie Ray) ou menos conhecidos (Guy Mitchel, nascido na Iugoslávia, em 1927, e que apesar de ter se destacado nos EUA nos anos 50, praticamente nunca foi ouvido no Brasil), Ray Conniff soube sempre encontrar a correta utilização do equilíbrio metais-vozes-cordas. Muitos de seus mais de 80 elepês se tornaram notáveis pelas vozes, sempre agradabilíssimas e suavemente ajustadas ao repertório escolhido. Entretanto, em termos instrumentais, ao menos por duas vezes buscaria um solista para dividir as glórias: o ótimo pistonista Billy Butterfield (Charles William Butterfield, 14/01/1917 - 18/03/1988), que havia sido seu colega na banda de Bob Crosby e que foi sempre um mestre do estilo "mainstrean". Com ele como solista, seriam gravados "S'Different" (1957), "Conniff Meets Butterfield" (1959) e quatro anos depois, "Just Kidding Arlund" (1963). Pasteurizado, com um som ao sabor de chantilly em muitos momentos dos anos 70/80, com repertórios às vezes atendendo apenas ao sucesso do momento - e afinal, gênios como Porter, Rodgers, Hammerstein, Jerome Kerner, Gershwin e alguns outros não surgem a toda hora - Conniff sofreu uma maldosa rejeição por parte das novas gerações. Seu público, na faixa dos 45/60 anos, porém, continua fiel - e este, por si só, já garantirá boas casas nas suas apresentações de hoje à noite, nesta temporada sulina que o competente Mozart Primo está sabendo administrar. LEGENDA FOTO - Retrato de Conniff quando jovem: há 40 anos, ao lado do pistonista Billy Butterfield (1917-1988), quando fez seus melhores discos. Hoje e amanhã, no Guaíra, o mesmo Ray, aos 75 anos, regendo sua orquestra com sucessos de musicais da Broadway.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
16/04/1991

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