Um plano (de graça) para ajudar S. José
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de janeiro de 1989
O prefeito Moacir Piovesan, de São José dos Pinhais, vai ganhar um inesperado presente nos próximos dias. Todo o anteprojeto de um plano diretor para o município foi elaborado por uma equipe do 5º ano do Curso de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná. E este trabalho - resultado de meses de pesquisas, propostas e estudos - embora concluído já há algum tempo (os novos arquitetos receberam seus diplomas no último dia 11) teve retardada sua apresentação ao prefeito justamente pela mudança na administração. Afinal, se fosse entregue na administração anterior o trabalho corria o risco de ser ignorado pelos novos donos do Poder - embora a proposta dos jovens arquitetos seja exclusivamente técnica, sem qualquer posicionamento político. Agora, caberá ao novo prefeito eleito mostrar a mínima sensibilidade e analisar uma contribuição espontânea feita com garra por quatro jovens que começam a partir deste mês a atuar no campo profissional. Em tempo! Todos já estão com propostas de trabalho de forma que não pretendem, ao oferecer o projeto à Prefeitura, buscar nomeações. Evidentemente, que poderão vir a prestar assessoria mas não foi esta a intenção que os levou a escolher São José dos Pinhais como tema da proposta que desenvolveram como trabalho prático na cadeira de Planejamento Urbano, com orientação dos professores Carlos Hardet e Carlos Lagarielle.
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Mais do que uma cidade-dormitório da grande Curitiba, São José dos Pinhais, por sua extensão e desenvolvimento que vem apresentando nos últimos 15 anos já apresenta hoje uma série de problemas que vem desafiando as últimas administrações. O escritório de planejamento urbano de Jaime Lerner, na primeira administração do prefeito Moacir Piovesan (que agora volta ao poder) chegou a desenvolver todo um projeto que teve aproveitamento - como a transformação de uma antiga fábrica (Senegáglia) num Shopping Center Cultural, o calçadão na rua central e a própria transferência da Prefeitura para um antigo colégio religioso. Infelizmente, como a administração que se seguiu a Piovesan, era oposicionista, ali se tentou fazer o mesmo que ocorreu em Curitiba, na gestão Roberto Requião: esquecer o planejamento anterior, congelar os projetos existentes - enfim destruir as boas idéias. Uma prova disto foi o total abandono da área cultural, pois inclusive um teatro que havia sido adaptado na antiga fábrica Senegáglia praticamente deixou de existir nos últimos anos. E tentativas para programá-lo, há alguns anos, foram feitas - inclusive com uma montagem na qual participou uma atriz famosa nacionalmente, Elke Maravilha.
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Ao optarem por um plano diretor de São José dos Pinhais, como trabalho de conclusão de curso, os arquitetos Dilson Kashi, Luís Mori Ribeiro Santos, Luís Alberto Borges de Macedo e Cristiene Mansur Gonçalves, buscaram oferecer novas idéias - respeitando o que já havia sido desenvolvido pela equipe de Jaime Lerner - mas que, constataram, tinha sido praticamente congelado nos últimos anos.
A filosofia básica da equipe dos novos arquitetos foi o de fazer com que a cidade se beneficie "o máximo possível, da maneira certa de estrutura do aeroporto Afonso Pena", como explica Dilson Kashi, 27 anos - que além de arquiteto é também engenheiro, com 6 anos de experiência na área da construção civil.
- "O aeroporto Afonso Pena é uma realidade com que a cidade tem que conviver. Se oferece vantagens, há também problemas naturais - mas o básico é que sua estrutura é irremovível. Portanto, há sempre que se adequar a cidade à sua convivência".
A falta de praças e áreas de lazer preocupou também os autores do projeto para São José dos Pinhais, pois, numa ironia - para uma cidade localizada em zona plana, cortada por rios, com grandes áreas verdes, faltam justamente praças na área central.
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O ponto mais polêmico da proposta a que agora será levada ao prefeito Moacir Piovesan, está no aproveitamento de uma grande área entre as avenidas Rui Barbosa (a grande artéria que corta a cidade, unindo-a desde a BR-277 até a futura Avenida Contorno Sul) e a nas proximidades da mesma BR-277, para um futuro hotel 5 estrelas, acoplado a um imenso centro de convenções e exposições - além de um estádio esportivo. Explicou Dilson Kashi.
- "Evidentemente, trata-se de um projeto para ser desenvolvido através da iniciativa privada - pelo volume de recursos exigidos, mas cabe ao município fazer a legislação, preservar o espaço para que o mesmo possa acontecer".
Para isso, a opção foi por uma área hoje pouco valorizada em termos imobiliários (o metro quadrado dos terrenos em São José dos Pinhais tem crescido de forma impressionante nos últimos anos), devido sua localização em zona próxima aos baixios, mas que, no entender dos técnicos, pode servir à proposta levantada. Enfim, uma idéia sobre a qual já se falou em termos de estrutura para um centro de convenções acoplada a um hotel internacional.
A exemplo do que foi feito em São Paulo, às margens do Rio Tietê, no qual o Hotel Transamérica veio complementar com sua imensa estrutura para eventos internacionais - o próprio centro empresarial, que deslocou para fora da zona central a sede das grandes empresas.
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Idéias, projetos, planos diretores e propostas merecem sempre muitas discussões. O prefeito Piovesan, três dias após a sua vitória, já procurava o engenheiro Cassio Taniguchi, executivo do escritório de planejamento Jaime Lerner, falando de sua intenção de retomar o programa que a administração anterior interrompeu. Agora, ganha um acréscimo que as (boas) idéias a que os jovens arquitetos desenvolveram - e que, até o momento, ainda não lhe foram apresentadas. O que deve acontecer nos próximos dias.
LEGENDA FOTO - Prefeito Moacir Piovesan: um plano (de graça) para melhor administrar São José dos Pinhais.
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