Um teste para Ella
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de março de 1977
Hoje à noite, após examinar o borderô da única apresentação de Art Blackey e seus Jazz Messengers (Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, 21 horas, ingressos a Cr$ 50,00 e Cr$ 20,00) a empresária Gaby Leib dirá a J. D. Baggio, diretor artístico da Fundação Teatro Guaíra, se Curitiba será ou não incluída no roteiro de Ella Fitzgerald e Count Bassie e sua orquestra no final do ano. Pois Gaby decidiu trazer Blackey e seu grupo a Curitiba como um teste final de público: se fracassar, é sinal de que nossa cidade não merece assistir aos grandes espetáculos jazzísticos que estão sendo programados no Brasil.
Ex-presidente da Juventude Musical, em Petrópolis, pianista formada, Gaby vem se dedicando há quase 10 anos ao empresariamento de artistas internacionais. Nos últimos anos foi quem trouxe ao Brasil alguns dos maiores nomes do jazz contemporâneo, como o pianista Horace Silver (que, aliás, tocou durante anos com Blackey) e Charles Tolliver. Produziu também espetáculos com o conjunto de Victor Assis Brasil, um dos raros brasileiros a dedicar-se ao jazz. Os três vieram a Curitiba, por iniciativa de Gaby, que todas as vezes teve prejuízo - ao contrário do que ocorreu em outras cidades. Agora, empresando a temporada de Blackey, iniciada há uma semana no Teatro João Caetano (Rio) e que já incluiu Salvador e Vitória - com extensão a partir de amanhã a Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, Gaby fez a checagem final, para sentir quais as cidades que merecerão assistir Ella Fitzgerald e a orquestra de Count Bassie, no final do ano.
Art Blackey, 57 anos, 43 de vida jazzística, como já dissemos é um dos maiores bateristas de todos os tempos. Pelo seu grupo, Jazz Messengers, passaram os nomes mais importantes do jazz nas décadas de 50/ 60. Assim, a chance de assisti-lo ao vivo, ao lado de músicos importantes como Walter Davis (piano), Joe Gardner (pistom), Deniss Irwin (baixo), Dave Schnitter (sax tenor) e Bob Watson (sax alto) é única. E inesquecível aos que souberam aproveitá-la.
Falar em jazz em Curitiba é quase caricatura. Mas existe ao menos um pistonista, Helinho, que na nossa vazia noite faz ouvir solos magníficos, além de cantar em "scat" (sem letra) no melhor estilo de Louis Armstrong. Helinho, junto com o criativo guitarrista Perico, mais Odair (teclados), Carbureto (batucada), e Walkir (baixo), está agora no Restaurante Mouraria. Ali, depois de fazer música para dançar e acompanhar os "shows", o grupo termina a noite com o melhor jazz - os quais sempre tem a "canja" de outros profissionais que, impedidos de tocarem livremente nas casas que trabalham, dão mostras de escondidos talentos. Por isso, talvez Blackey e seus músicos decidam-se hoje a jantar na casa de Osmar Sokoloski, após o concerto no Guaíra.
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