A volta de Luisinho, o nosso grande pianista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de agosto de 1990
Se não tivesse outros méritos - e eles existem - o II Festival de Música de Cascavel, iniciado dia 25 e que se estenderá por mais uma semana, já valeria por um fato muito importante: o retorno ao público de um dos maiores talentos de nossa música - o pianista, arranjador e, sobretudo compositor, Luisinho Eça.
Embora, para muitos, identificado apenas à música popular, Luiz Mainzi da Cunha Eça, carioca do dia 3 de abril, 54 anos, seria hoje um concertista internacional se o jazz e o popular não tivessem interrompido seus estudos de piano e teoria musical, que iniciou aos 5 anos. Chegou a freqüentar aulas da mundialmente famosa Nádia Boulanger, em Paris, após ter feito conservatório em Viena - quando ali estudavam dois curitibanos, Henriqueta Garcez Duarte e Cláudio Stresser, este já falecido. Mas desde 1953, ainda adolescente, já fazia o melhor jazz no bar do Hotel Plaza, no Rio de Janeiro - registrado num raríssimo elepê lançado pela extinta etiqueta Rádio.
O Tamba Trio, que formaria no alvorecer dos anos 60 - com Otávio Bacilly no baixo (depois substituído por Adalberto José de Castilho e Souza) e Hélcio Milito na bateria e no instrumento por ele inventado que deu nome ao grupo, seria o grande conjunto da melhor fase da Bossa Nova - estimulando mais de 20 outras formações semelhantes, mas nunca superado. Nestes últimos 30 anos, o Tamba Trio teve duas reestruturações - após O'Hanna ter substituído Milito - e a carreira de Luisinho esteve ligada há muito do que de melhor se fez em nossa música, como compositor, músico e arranjador, gravou pouco, considerando a dimensão de seu talento e gastou talvez as melhores noites de sua vida em bares como o Chico's Bar, no Rio - durante um longo período freqüentado por quem mais amava a música e o jazz exclusivamente para ouvi-lo - e aos muito (bons) músicos e cantores que ali dividiam o jazz after hours - incluindo canjas históricas como quando Michel Legrand ali passou horas, extasiado com o seu talento.
A noite tem seu preço e para uma pessoa com sua sensibilidade e emoção, a cobrança física veio com juros e correção monetária: várias crises de saúde quase que levaram o tão estimado e querido Luisinho, que só recentemente saiu de um rígido internamento. Agora, já convalescente, amparado por amigos fiéis - como o também tecladista e discípulo Marinho Boffa, Luisinho Eça aceitou sair do Rio e passar alguns dias em Cascavel, mostrando um novo método de técnica de piano, por ele desenvolvida. O diretor do festival, pianista Miguel Proença, entendeu a importância de Eça valorizar este festival e sua principal assessora, a compositora e cantora gaúcha Maria Rita Stumpff, que foi sua aluna e teve sua participação especial em seu elepê independente "Kamaiuará", com todo o afeto cuida de Luisinho neste retorno. Agora, a melhor notícia: na próxima segunda-feira, 3, Luisinho, mais Nelson Angelo - violinista, compositor, ex-Clube da Esquina, de Milton Nascimento e o percussionista Laudir Oliveira (ex-Chicago), estarão com Maria Rita no espetáculo "Kamaiuará" (auditório da Reitoria, 21h, ingressos s Cr$ 300,00). Um evento musical para ninguém perder: a volta de Luisinho, num espetáculo - o que não faz há muitos meses; a presença de Nelsinho e Laudir, dois instrumentistas admiráveis e o talento de Maria Rita Stumpff, sobre quem falaremos mais na coluna de sábado.
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