Login do usuário

Aramis

Zito e os sonhos de quando os cinemas se multiplicam

Memória da cinematografia curitibana e que através de sus know-how técnico é o único profissional que garante o bom funcionamento das máquinas de projeção dos cinemas do Paraná, o astuto Zito Alves emocionou-se ao ler o último número da revista editada pela Cinemeccanica - a maior indústria de projetores do mundo, na Itália. É que a reportagem principal focaliza um conjunto de nada menos de 18 excelentes salas de projeção, num mesmo conjunto, inauguradas há um ano pela UCI - United Cinemax International, na cidade de Bockum, na Alemanha. xxx Acostumado a assistir melancólicas últimas sessões de cinema em todo o Paraná - e procurado por ex-exibidores que lhe entregam, em consignação, aparelhos de projeção para tentar comercializá-los, Zito Alves, 68 anos, 55 anos de cinematografia (começou aos 13 anos, com o histórico Henrique Oliva, no Cine Luz) é daquelas pessoas que, todas as noites, faz o circuito pelos cinemas da cidade. Não apenas para checar o funcionamento das cabines mas, sobretudo, para assistir aos filmes, pois nada o faz trocar a tela ampla pelo vídeo - que abomina. Memória paquidérmica, capaz de lembrar histórias fantásticas da cinematografia - que vem reunindo num livro há muito prometido, Zito prepara uma original relação: consultando cinéfilos, jornalistas, exibidores, amigos enfim que acompanham o cinema, quer escolher os 10 piores filmes de todos os tempos, numa relação "mais difícil de ser elaborada do que os tradicionais 10 melhores", aponta. xxx Distribuindo xerox da reportagem da inauguração do complexo de 18 salas instaladas pela UCI em Bochum, Zito diz que chegou a sonhar que um projeto semelhante seria desenvolvido em Curitiba, "num local dotado de amplo estacionamento, como, por exemplo, nas proximidades do Parque São Lourenço". "No centro da cidade seria impossível pois os "inocentes meninos de rua" destroem os veículos e fazem com que os espectadores fiquem cada vez mais distantes das salas de exibição". O conjunto de 18 salas em Bochum tem capacidade reduzida - de 152 a 444 lugares, mas são moderníssimos: de uma cabine central, totalmente computadorizada, apenas dois operadores controlam os projetores - permitindo uma rentabilidade grande e oferecendo o máximo de opções aos cinéfilos. Restaurantes, lanchonetes e até uma cervejaria complementam o projeto. Na minúscula Islândia, para uma população de apenas 250 mil habitantes, o empresário Arni Samuelsson inaugurou também um complexo de 8 salas de projeção, elevando assim para 15 os cinemas existentes na capital daquele país - que dispõe, no total, de mil lugares em todas suas salas. "Menos que em Ponta Grossa, mas com um público fiel e educado", lamenta Zito, comparando o fato da maioria [das] cidades paranaenses estarem cerrando as portas de suas salas. xxx Como curiosidade, eis os nomes de algumas das salas do complexo instalado em Bochum: "Havana", ["]Lippels Traum", ["]Pretty Woman", "Der Spertau", "Kindergarten Cop", "Frunhstuck Bei Ihr", "Zeit Des Erwachens"", "Der Mit Dem Wolf Tantz", "Der Feind In Meinem Bett", "The Wall", "Homo Faber", "Spatzi Fratzi Und Co" e "Das Russilandhaus". xxx O impressionante, analisa Zito, é que um país como a Islândia, com um quarto de milhão de habitantes, tenha 15 cinemas em sua capital, o que dá uma média de menos de 10 mil pessoas por poltrona", raciocina Zito. Em Curitiba, hoje com uma população do redor de 1.500.000 existem 17 cinemas, mas o mais grave é que na Região Metropolitana só sobreviveram duas salas de exibição: em São José dos Pinhais, o antigo Ideal, reaberto somente há dois anos graças ao entusiasmo do exibidor Alfredo Prim, e o Cine Jóia, em Campo Largo. O Ideal é um dos mais antigos cinemas do Paraná, vindo dos anos 40, quando foi aberto pelo veterano Daniel Précoma, já falecido. Nos anos 60 fechou suas portas, mas o exibidor - que também era político, vereador e tendo disputado por duas vezes a Prefeitura daquela cidade - não só construiu uma nova sala, na Praça 8 de Janeiro, como se recusou a reabri-lo enquanto a Prefeitura não lhe concedesse um estímulo fiscal que por lei havia conseguido. Morreu sem obter este acordo e a sala só reabriu quando Alfredo Prim, dono do Cine Geral - que representa em Curitiba a Art Filmes e outras pequenas distribuidoras, assumiu a sala. xxx O Cine Ideal, em Campo Largo, encontra-se fechado há mais de um mês, mas reabre no dia 27 (o filme não foi escolhido pelo gerente (Todil Chemin). O Jóia foi construído em sociedade pelos senhores Arlindo Chemim, Ambrósio Gionédis e José Francisco Andreaza. Em prédio próprio foi inaugurado em 3 de novembro de 1953 com uma superprodução da J. Arthur Rank, "Sangue Sobre a India". Ocupava um prédio próprio, com 980 lugares - 450 dos quais no balcão. Há 7 anos, sofreu uma grande reforma, quando o Bradesco instalou uma de suas agências e reduzindo, naturalmente, sua capacidade. Entretanto o cinema continuou funcionando, embora com novos proprietários - Rutildo Chemim, Terezinha Gionédis e José Andreazza - que agora decidiram por novas modificações, especialmente no telhado e no sistema elétrico. Dentro da lamentável crônica das últimas sessões de cinemas, a resistência do Jóia merece ser registrada, especialmente quando muitos já o imaginavam também fechado definitivamente desde o dia 8 de junho, quando foram iniciadas as reformas. LEGENDA FOTO - Zito: da época dourada da cinematografia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
17/06/1992

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br