O som stereo que Zito desenvolveu no Paraná
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de abril de 1991
Zito Alves Cavalcanti Alves, 66 anos, 53 de cinematografia - de calças curtas, em 1936, começou a trabalhar com o pioneiro Henrique Oliva no antigo Cine Theatro Palácio - exerce hoje um trabalho que merecia tombamento profissional, se existisse esta classificação. Único especialista em manutenção e, especialmente, recuperação de equipamentos de projeção no Paraná - e um dos últimos no Brasil, felizmente soube transmitir o seu know-how ao seu primogênito, Dirceu, 30 anos, que vem resistindo a tentadores convites para trabalhar em São Paulo, onde faltam técnicos de sua competência.
Desde que deixou a empresa H. Oliva, quando a mesma foi vendida ao grupo CIC-UIP, Zito fundou a Paranacine (Rua Padre Agostinho, 1400), "que é um verdadeiro pronto-socorro de emergência e hospital de atendimento a todos os cinemas do Paraná". Afinal, se não fosse o Zito, sua paciência e seus conhecimentos para cuidar dos aparelhos de projeção que existem nos cinemas do Paraná - a maioria com mais de 40 anos de existência - as sessões seriam interrompidas constantemente pelos mais diversos problemas técnicos.
Sentindo que novos tempos para projeção se aproximam, Zito estimulou seu filho, Dirceu, a viajar à Itália e conhecer a maior fábrica de aparelhos de projeção da Europa, a Cinemaccanica, em Milão. O estágio foi um dos mais proveitosos: somando ao que pode observar na moderna tecnologia dos italianos, Dirceu desenvolveu, naturalmente com a ajuda do pai, muitas adaptações e hoje na modesta instalação da Paranacine já se constróem sistemas de projeção e som em stereo, em aparelhos que, a preços altamente competitivos, vem sendo procurados por exibidores de várias partes do país.
Com uma tecnologia própria, trabalhando basicamente sobre uma realidade que visa aproveitar as condições de cada cinema, os equipamentos que Zito e Dirceu criam tem apresentado ótimos resultados.
- "Lógico que estamos distantes ainda de uma tecnologia sofisticada, como a que neste final de milênio, se faz na Europa" - diz Zito, folheando as páginas do último número da revista editada semestralmente pela Cinemaccanica, de Turim.
Em 10 de outubro do ano passado, foi inaugurado em Colônia, na Alemanha, num imenso shopping center, um conjunto de nada menos que 14 salas de projeção (cada uma com média de 200 lugares) que, praticamente, dispensam operadores. Por um conjunto de sensores que "lêem" na tela se o filme está no foco, se a enquadração é feita, analisando o volume de som (em relação ao número de espectadores) e a mudança automática do filme para o normal ou o cinemascope fazem estas cabines, conforme as ilustrações da publicação, parecer cenário de cinemas do século XXI. Um computador aciona cada projetor na hora certa, cortando a música ambiente e acionando a emissão de imagens. Ao final, a luz volta automaticamente e o computador regula cada nova sessão. Diz Zito, ante tamanha tecnologia:
- "O operador é necessário apenas para colocar o filme na primeira exibição e retirá-lo na última. Isto graças a Deus - nenhum computador fará".
LEGENDA FOTO - Zito Alves e Harry Luhn: lembranças dos tempos em que, de calças curtas, projetavam filmes no antigo Cine Luz.
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