Gretchen e Pixote batem recordes de bilheteria
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de fevereiro de 1982
Um dado para o mais empertigados executivos das multinacionais do cinema examinarem com atenção: um modesto filme produzido na chamada Boca do Lixo, em São Paulo, conseguiu quebrar todas os recordes de bilheteria, em uma semana de exibição. “Aluga-se Moças”, em 7 dias no cine Condor faturou exatamente Cr$ 2.400.000,00 – Cr$ 900 mil a mais do que a superprodução “Caçadores da Arca Perdida” (Raiders at the lost ark, 1981, Steven Spielberg), que ali, na primeira semana, rendeu Cr$ 1.500.000,00. Considerando a superpromoção que os filmes internacionais recebem e o fato de “Aluga-se Moças” ser uma realização modesta, sem qualquer atrativo e não ser a presença da rebolativa cantora (sic) Gretchen, não deixa de ser sintomático esta renda excelente – “suficiente para garantir a continuidade do filme pelo menos por um mês”, como dizia ontem, Isidoro Lassalve, diretor da Distribuidora Arco Íris – que comercializa este filme da Empresa Nadial Filmes no território cinamatográfico do Paraná e Santa Catarina.
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Gretchen (Maria Odete Brito de Miranda), uma paulista de 22 anos, que surgiu cantando junto ao grupo. As Melindrosas – inicialmente gravando canções de roda na linha dicscotheque, entre 1979/80, se destacaria pelo seu tipo sexy, em programas populares – como os de Silvio Santos e, especialmente, Chacrinha, Péssima cantora – mas de grande charme, Gretchen fez dois elepês na Copacabana – estimulando a mesma fabrica a lançar outra cantora-sexy, na mesma linha – Sharon, mas sem repercussão – enquanto a Ariola tentou “build up” uma curitibana – a Sol (Sandra fátima do Vale Reis, 21 anos) e a CBS ficou sem a cearense Yiss Lene. Mas destas quatro tentativa de “sexy-singers”, só a Gretchen parece ter funcionado em termos de público: após um primeiro filme, ingênuo e com censura livre, ao lado das outras Melindrosas, o diretor-produtor Deni Cavalcanti a escolheu para encabeçar um elenco de desinibidas jovens – escondidas atrás de pseudônimos como Índia Amazonense, Lia Hollywood e Rita Cadilac, para o filme “Aluga-se Moças”. Para quem se interessa em analisar o comportamento do público, em termos de símbolos eróticos, não deixa de ser interessante se apreciar o marketing em torno de Gretchen. Afinal, uma renda de Cr$ 2.400.000,00 em uma semana, é um Record que nem os “Tubarões” spielbergueanos haviam conseguido...
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Isidoro Lassalve não está sorrindo apenas devido às boas bilheterias de “Aluga-se Moças”. Na quarta-feira, por unanimidade dos 37 associados que apareceram na sede do Sindicato dos Exibidores dos Estados do Paraná e Santa Catarina, o seu primogênito, Carlos Alberto, 25 anos, foi escolhido para substituir a Ismail Macedo, que vinha ocupando a presidência da entidade desde sua fundação, há 17 anos, Ismail, felpuda raposa da área da exibição, homem rico e hoje com interesses diversificados em varias áreas, se manteve ate agora na presidência da entidade – resistindo a fortes correntes oposicionistas. Agora, a nova diretora do Sindicato é formada por Lassalve, mais Aroldo Mocki, de Blumenau, na vice, Alfredo Prim na tesouraria e João Aracheski, diretor da Fama Filmes, na secretaria. No conselho fiscal está Ismail, Ari Rauen Sobrinho, de Maringá e o mais antigo exibidor do Brasil, João Wasileski, que há 52 anos possui o cine Central, em Irati.
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Felizmente não é apenas o erotismo barato de Gretchen que atrai o bom público ao cinema. As premiações internacionais conquistadas por “Pixote” – A Lei do Mais Fraco”, de Hector Babenco, fizeram aumentar o interesse por este profundo filme brasileiro – que teve seus méritos reconhecidos pela crítica americana. Relançado na quinta-feira passada no cine Groff, já rendeu mais de Cr$ 700 mil – uma cifra altíssima considerando a pequena capacidade daquele cinema pertencente à Fundação Cultural de Curitiba.
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A listagem confirmou o favoritismo de “Reds”, a biografia do jornalista John Reed, autor do célebre “Dez Dia Que Abalaram o Mundo”, com sua cobertura da Revolução Russa de outubro de 1917. O filme de Warren Beatty teve 11 indicações, seguido de “On Gold Pond” (de Mark Rydell, reunindo dois veteranos: Henry Fonda e Katherine Hepburn, mais Jane Fonda), com 10 indicações: “Caçadores da Arca Perdida (já exibido no Brasil) e “Ragtime” (de Milos Forman) – com oito cada um. “Atlantic City”, de Louis Malle ( e que a Gaummont deve lançar nos próximos dias no cine Astor) e “Charlots of Fire”, de Hugh Hudson, também foram indicados ao Oscar de melhor filme.
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Um candidato ao Oscar de melhor ator coadjuvante, o veterano John Gielgud , indicado pela interpretação do mordomo em “Arthur, O Milionário Sedutor” (exibido há um mês, no Asto), foi visto ainda recentemente em outra notável interpretação: “O Maestro”, do polonês Andrz Wajda.
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