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Alemanha está fechando o seu Consulado no Paraná

O Paraná sofrerá nas próximas semanas o maior esvaziamento na área diplomática caso não haja uma imediata mobilização de esforços do governo e outros setores da comunidade, inclusive da iniciativa privada: o fechamento do Consulado Geral da República Federal da Alemanha. Por parte do Ministério das Relações Exteriores, em Bonn, a decisão foi tomada há meses e agora entra em fase de concretização: desde a segunda-feira de Carnaval, dia 15, uma comissão de alto nível - formada por um embaixador, um cônsul de carreira e uma secretária, encontra-se em Curitiba, fazendo detalhada auditoria em todos os assuntos relacionados à representação diplomática para o seu imediato fechamento. Razões Políticas - A lacônica explicação dada, extra-oficialmente, até agora para justificar uma decisão de tamanha repercussão, que esvaziará não só o Paraná mas também Santa Catarina - que estava sob sua jurisdição - da maior representação diplomática aqui instalada. xxx Nos últimos 20 anos, pouco a pouco, o Paraná foi perdendo importantes representações diplomáticas. O primeiro grande país a fechar suas agências em Curitiba foi os Estados Unidos, que depois de extinguir o consulado, também optou pelo fechamento do Serviço de Divulgação e Relações Culturais - o USIS, que teve no jornalista Júlio Neto seu último diretor brasileiro, mas que anteriormente, especialmente quando dirigido por Mr. John Parker Lee, aqui tinha intensa atividade. Na época, o corte de despesas imposto pelo Departamento de Estado em todo o mundo tinha uma justificativa: a guerra do Vietnã, em plena escalada, exauria os recursos e ao invés de financiar programas culturais e de intercâmbio, o Tio Sam precisava alimentar a mais cruenta guerra suja travada no Sudeste da Ásia - só hoje devidamente vista em seu horror, através de filmes como "Nascido para Matar" e "Hamburger Hill" (em exibições na cidade). Instalada num imenso casarão na Avenida João Gualberto, 1.237, o Consulado Geral da República Federal da Alemanha era, há anos, a maior representação diplomática no Estado. Com um corpo médio de 5 diplomatas de carreira, mais 10 funcionários brasileiros - alguns com 20 a 25 anos de casa, desenvolve trabalhos em várias e importantes áreas: do atendimento à colônia alemã, no serviço consular propriamente dito, até trabalhos de integração e fortalecimento econômico, especialmente por um vice-cônsul específico. Na área informativa e cultural, o consulado também teve sempre uma boa atuação, embora, nos últimos 16 anos, com a reativação do Goethe Institut (antigamente, apenas um modesto curso de línguas sob a razão social de Instituto Cultural Brasileiro-Germânico), esta área tinha se deslocado para aquela instituição - que não é oficialmente do governo da Alemanha Ocidental, e cuja sede é em Munique. xxx Em Curitiba, desde setembro do ano passado, a diplomata Irene Grunder, que anteriormente havia servido na África, estava ainda estabelecendo relações, integrando-se à vida político-cultural-econômica do Estado, quando recebeu a notícia da decisão, tomada pelos altos escalões, no "Auswartoges Amt", em Bonn, de que entre os cinco consulados gerais que o governo alemão mantém no Brasil, o de Curitiba seria fechado. O raciocínio dos diplomatas alemães foi simples: se existem consulados em São Paulo e Porto Alegre, o Paraná e Santa Catarina passam a ser atendidos por estas representações. Ou seja: o de São Paulo se ocupará dos assuntos do Paraná e o de Porto Alegre englobará a imensa colônia alemã em Santa Catarina. Os consulados do Recife e Rio de Janeiro continuarão, ao menos por enquanto, a funcionarem normalmente. Atualmente, além da consulesa-geral, Irene Grunder, há também outros 2 diplomatas ocupando funções de vice-cônsules: Gabriel Kolai e Maria Reckhorn. Há, também, o diplomata Buzumbur e o vice-cônsul Herard Herd. xxx Não há ainda datas fixadas para o fechamento final do consulado, mas a comissão de inspeção, chefiada por um rígido embaixador vindo diretamente de Bonn para esta missão, tem trabalhado arduamente. Tanto é que os funcionários do consulado não tiveram folga no Carnaval e o clima entre eles é de tensão, angústia e preocupação. Afinal, de um momento para outro, perderão bons empregos, de alta confiança, nos quais se encontravam há anos. E o Paraná sofre mais um golpe em termos de representatividade na área diplomática.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/02/1988

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