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Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de agosto de 1977
A nostalgia em tempos de consumo americano ocorreu no início desta década. A telenovela "Escalada", com sua divisão em 3 épocas, proporcionou o encaixe de alguns hits dos anos 40, entre os quais "Moonlight Serenade" (Glen Miller), responsável por todo um processo de marketing/consumo, abre a obra do regente daquela big-band. Agora, continuando nas linhas da nostalgia brasileira, a telenovela "Nina", com sua ação ambientada nos anos 20, proporciona, musicalmente, o reaparecimento de bons temas daquela época - estimulando a Continental a dedicar o volume 8 de sua série Destaque, "A Música da Velha São Paulo" - (1-19-701-030, agosto/77). Como sempre um trabalho primoroso do pesquisador João Luiz Ferreti, desta vez assessorado por um verdadeiro colégio de consultores, trata-se de um documento precioso, oferecendo musicalmente ilustrações de uma época que já se foi, da São Paulo menos desumanizada. Um encarte de 4 páginas, oferece preciosas informações, que auxiliam a compreender o espírito e o significado das 13 faixas (selecionadas(, cada uma com um sentido documental precioso. São 12 valsas, algumas conhecidas, outras esquecidas, que em diferentes interpretações - com gravações datadas entre 1934/52, se constituem, como dissemos, num verdadeiro documentário: "Rapaziada do Brás" (Alberto Marino), "Triste Carnaval" (Américo Jacomino, "Canhoto"), "Saudade" (Jaime Redondo), "Tico-Tico no Fubá" (Zequinha de Abreu), "Rapaziada do Bom Retiro" (Getúlio Negrini), "Clube XV" (Oscar Ferreira), "Nossa Senhora do Amparo" (e "Pinta Braba" (ambas de Décio Pacheco Silveira), "O Fim da Serenata" (Atilio Grany), "Lua Cheia" (Angelino de Oliveira); "Luar de São Paulo" (Alberto Marino); "Rapaziada da Moóca" (José Marcilio) e "Maricota, Sai da Chuva" (Marcelo Tupinambá).
Para montar a trilha sonora de "Nina" (Rede Globo de Televisão), Guto Graça Mello teve o bom senso de recorrer a dois expertes em nossa MPB, os pesquisadores Almirante e Miecio Caffé, este segundo dono de um dos maiores acervos em 78 do Brasil. O resultado é que o elepe com a trilha sonora desta telenovela (Sigla/Som Livre, 403.6125, julho/77), cuja ação é ambientada na São Paulo dos anos 20, reune 14 temas dos mais interessantes, entre choros, valsas, polcas e canções, praticamente redescobertas, para o grande público, através de novos registros. Assim, temos "Vamos Deixar de Intimidade" (Ary Barroso) com João Nogueira, "Paciente" (Pixinguinha - Daniel Santos) com Cesar Costa Filho, "Brejeiro" (Ernesto Nazareth) com A Cor do Som, "Eu Dei" (Ary Barroso) com Marilia Barbosa, "Nego Véio Quando Morre"22 (d.p., adaptação de Pachequinho) com Os Originais do Samba, "Apanhando Papel" (Getulio Marinho - Ubiratan Silveira), com Luiz Ayrão, "Primeiro Amor" (Patapio Silva) com o flautista Altamiro Carrilho, "Quem é" (Custodio Mesquita - Joracy Camargo) com Sonia Santos e Grande Otelo, "Há Uma Forte Corrente Contra Você" com o grupo Frajolas, "Choro e Poesia" (Pedro e Heloisa de Alcântara) com Altemar Dutra, "Urubu Malandro" (Louro - João de Barro) com Netinho e seu conjunto, "Flor Amorosa" (Catulo-Joaquim Callado) com Maria Martha e "O Almofadinha" (J. Poliergoni - De Castro) com Ivon Curi. Há também um registro original, da maior importância: "Atraente" (Chiquinha Gonzaga) com os Turunas da Paulicéia. Enfim, um disco que mais do que o sucesso-passageiro, vale como documento da música dos anos 20.
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