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Aramis

Em tempos aidéticos, o Oscar adquire seriedade

Na cenografia do imenso palco do Dorothy Chandler Pavillion, em Los [Angeles], faixas vermelhas e fitas que a maioria das personalidades que participaram da 64ª Festa de Entrega do Oscar, usavam na noite de segunda-feira passada, identificava a grande preocupação dos organizadores do evento: o flagelo da Aids. Afinal, dos 128 mil americanos mortos com Aids até 1991, 432 foram nomes mais (ou menos) conhecidos do cinema e TV - a começar por Rock Hudson (falecido aos 61 anos, em 2/10/85). Com uma seriedade e organização que faltava nas últimas edições, traduzida também numa simplicidade e enxugamento de efeitos especiais, tornando a festa mais compacta e agradável, o maior merchandising da indústria cinematográfica apresentou menos gaffes e momentos [kitchs] do que vinha acontecendo. A começar pela transmissão para o Brasil, que iniciou já com a entrega de grande barbada da noite: o Oscar de melhor coadjuvante para Jack Palance, 72 anos, por sua atuação em "Amigos, Sempre Amigos" (City Slickers, estréia no Brasil dia 17). O filme é um western que faz justiça ao que ele mereceria por sua atuação há 39 anos, quando foi indicado também como coadjuvante por sua atuação em "Os Brutos Também Amam", mas perdendo para Frank Sinatra (por ["A Um passo da eternidade"]). Palance não só levou desta vez a estatueta, como foi o ator mais mencionado durante toda a festa, nas piadinhas que seu colega de elenco, Billy Crystal, repetiu durante os 185 minutos de duração do show. Só os privilegiados assinantes da Globosat puderam acompanhar os preparativos da festa e os protestos da comunidade gay - amplamente noticiados pela imprensa mas sobre os quais, discretamente, não se fez nenhuma menção durante a transmissão. Ao contrário do ano passado, quando foi o grande [kitsch] da noite, por suas intervenções e palpites desconexos em relação aos premiados, o jornalista Maurício Kubrusly manteve-se com a boca mais fechada, deixando que a correta Elisabeth Hart fizesse a tradução. Assim mesmo, Kubrusly insistiu em "lamentar" que "O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final", premiado com 3 Oscars nas categorias técnicas (maquiagem, efeitos visuais, som e edição de efeitos sonoros) não tivesse levado também "premiações mais importantes" (sic). Felizmente, na parte musical, houve uma recuperação neste ano: ao invés dos insuportáveis rocks e funks que nos últimos anos vinham rebaixando as categorias de canções e trilha sonora, a parte musical reapareceu em harmonia e poesia. Longe, ainda, dos áureos tempos, de qualquer forma as canções que disputaram o troféu mostram uma volta ao estilo tradicional: "A Bela e a Fera" - o primeiro desenho de longa-metragem a disputa na categoria principal - foi o grande premiado. Concorrendo com três canções - "Belle" foi premiada (sua apresentação trouxe uma jovem cantora lembrando Judy Garland dos juvenis tempos) levou também a trilha sonora, de Alan Menken (*) - derrotando assim os favoritos Ennio Morricone ("Bugsy") e John Williams ("JFK"), além de James Newton Howard ("O príncipe das Marés") e George Fenton ("O Pescador de Ilusões"). Original, sem dúvida, a coreografia , criada por Debbie Allen, fundindo num mesmo número os cinco temas principais desta categoria. xxx Esta 6ª Festa do Oscar foi também parcimoniosa em homenagens especiais. Como o cineasta indiano Satyaijit Ray, 73 anos, recebeu o seu Oscar há três semanas, já que se encontrava gravemente doente, internado em hospital na cidade de Bombaim, os destaques foram apenas dois. George Lucas, 48 anos, que de diretor passou a ser o mago dos efeitos especiais, recebeu o troféu Irving Thalberg, das mãos de seu amigo e sócio, Steven Spielberg. Hal Roach, 100 anos, o último sobrevivente dos fundadores de Hollywood, produtor de centenas de comédias - especialmente da dupla "O Gordo e o Magro" ( revividos nas telas, em rápido clip) também compareceu. Não subiu ao palco e falou da platéia - sem que ninguém o ouvisse, pois uma das falhas foi o esquecimento de lhe fazer chegar o microfone. Já Lucas, simbolicamente, recebeu o Oscar de uma forma também emocionante, em termos tecnológicos: a tripulação do ônibus espacial Atlantis, em órbita, o saudou por ele ter aproximado a ficção científica da realidade. Nota (*) O parceiro de Alan Mensken, letrista Howard Ashman, morreu há alguns meses vítima da Aids. Recebeu a estatueta, o seu companheiro, um atlético rapagão, que fez um emocionante discurso. Legenda Foto Jodie Foster: troféu de melhor atriz na mais comportada festa do Oscar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
01/04/1992

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