Enfrentando Godot
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de janeiro de 1977
O jornalista Eddy Antonio Franciosi, que no ano passado retornou ao colunismo diário e também à direção teatral, já tomou uma corajosa decisão: vai montar "Esperando Godot", custe o que custar. Começa os ensaios tão longo estréie "O Exercício", de Lewis John Carlino, que atualmente está dirigindo, com dois grandes amigos - e dos mais respeitáveis profissionais do teatro paranaense: Lala Schneider e José Maria Santos.
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Expressão máxima da filosofia niilista do escritor irlandês Samuel Beckett, "En attendant Godot", estreou no Theátre de Babylone em 1953, causando reações contraditórias na platéia. E desde então essa peça é considerada uma obra "maldita", pois muitas pessoas envolvidas com suas produções morreram subitamente. No Brasil, a atriz Cacilda Yaconis Becker (1921-1969), faleceu em plena temporada desta peça em que o autor coloca em cena dois velhos vagabundos que dialogam mecanicamente enquanto esperam um misterioso Godot, que nunca aparece. Várias especulações foram feitas em torno do nome de Godot que, para alguns críticos, seria uma corruptela de God (Deus).
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Há 4 anos, a atriz baiana Sonia dos Humildes (intérprete de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" de Glauber Rocha) chegou a iniciar os ensaios de "Esperando Godot". Resultado: teve que interromper a produção, pois descobriu que estava com câncer no seio. Felizmente recuperou-se mas abandonou o projeto de encenar a peça de Samuel Beckett. Eddy Franciosi não teme e diz que ainda recentemente encontrou um grupo amador paulista que, há um ano, apresenta "En attendant Godot" sem qualquer problema. Também em Buenos Aires a peça foi montada sem que ninguém morresse.
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