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Aramis

Explosão : ficção e realidade

Num miserável povoado de uma república sul-americana, os funcionários de uma empresa petrolífera norte-americana oferece 10.000 dólares a quem se acorajar a dirigir dois caminhões carregados de nitroglicerina destinada a pagar com sua explosão, um poço petrolífero em chamas situado a centenas de quilômetros. Quatro homens se oferecem para essa missão suicida, interessados em conseguir dinheiro que lhes permitisse retornar à Europa: os franceses Mario e Jo. O italiano Luigi e o holandês Bimba. Uma jornada de medo e suspense tem início, com os caminhões atravessando as piores estradas e ao final, só resta um sobrevivente: Mario. O outro caminhão, dirigido por Bimba e Luigi, explodiu, enquanto Jo morreu atropelado pelo próprio amigo: ao tentar desatolar o caminhão num lamaçal, fica preso e Mario não tem opção; se freasse o veículo, o mesmo explodiria e, assim, sacrifica o amigo. Mario entrega a nitroglicerina, recebe os US$ 10 mil e inicia o caminho de volta: feliz da vida por poder voltar a Paris, ao escutar a valsa "Danúbio Azul" no rádio do caminhão começa a brincar ao volante, não vê um precipício e morre na queda. Partindo desta estória do romance de George Aranaud, o cineasta Henri-Georges Clouzot, realizou em 1952 um dos mais fascinantes filmes de suspense do cinema francês. "O Salário do Medo" (Le Salaire de la peuer), com Yves Montand (Mario), Charles Vanel (Jo), Folco Lulli (Luigi) e Peter Van Eyck (Bimba). Um filme exemplar, não só pelo suspense de todas as sequências, a fotografia perfeita em branco e preto (de Armand Thirard), "Le Salaire de la peuer" foi também um estudo social do comportamento de homens em busca do dinheiro, enfrentando as mais arriscadas situações para consegui-lo - como uma forma de libertação. No filme, atuava também Vera Clouzot, já falecida, e que era brasileira: filha do embaixador brasileiro, foi esposa de Clouzot, "O Sálario do Medo" recebeu o grande prêmio do Festival de Cannes em 1953 e há poucos meses, o cineasta Steve Speilberg ("Encurralado", "Tubarão") adquiriu de George Arnaud os direitos para uma refilmagem, agora em colorido e ambientando a estória nos Estados Unidos. Por certo o motorista Donato Sanchuck Taborda, 24 anos, e seus auxiliares, Edson Galvão, 23 e Ademar dos Santos, 24, que se encontravam no Mercedes, placa CR-4362, que explodiu as 16:20 horas de quinta-feira, na Rua São Luiz, jamais tiveram notícias dos personagens de Arnaud. E, eles, não estavam num caminhão carregado de explosivos em busca de 10 mil dólares, mas apenas pelo honesto salário mínimo. Entretanto a realidade imita a ficção - e a tragédia não escolhe hora nem lugar para ocorrer. Mario ou Donato, ambos são personagens trágicos, não por culpa própria, mas por fazerem parte de um mundo em que, como já dizia Guimarães Rosa, viver é (cada vez mais) perigoso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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04/09/1976

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