Filho do computador
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de março de 1978
Prejudicado pela falta de um melhor trabalho de marketing - como o que fez "A Guerra nas Estrelas" transformar-se no maior sucesso de bilheteria da temporada, "A Geração de Proteu" (Cine Condor, hoje último dia em exibição) reúne muitos elementos que o fazem um dos mais interessantes e originais "science-fiction" surgido nos últimos anos. Sem as caracteristicas de superprodução, como o filme de Georges Lucas, "Demon Seed", uma produção relativamente modesta de Herb Jaffe, dirigido por um estreante, Donald Cammell, é, entretanto, um filme com elementos seguros e inquietantes, propondo ao espectador um fantástico tema de reflexão: até onde o homem é capaz de controlar a máquina por ele inventada? Qual a moral, a consciência, o sentido ético que permite/justifica a substituição do cérebro humano pelos computadores, por uma nova linguagem e razão?
Evidentemente, a novela "Demon Seed" de Dean Koontz pode lembrar, fragmentariamente, outro títulos do gênero ficção cientifica, de Ira Levin ("O Bebê de Rosemary") e Michael Crichton "(Westworld") passando inclusive pelo aterrador "embrião" (filme exibido dois dias apenas, no Rivoli, há mais de um ano). A simbiose de influências - a concepção de um filho de ser estranho (em "Rosemary`s Baby", do próprio diabo: aqui, em "Demon Seed", do esperma preparado pelo supercomputador Proteus IV, reunindo toda a inteligência e conhecimento do mundo) - e a máquina que se recusa a obedecer ao homem, formam uma temática rica, aberta para o espectador ver no filme mais do que um simples entretenimento, símbolos para todo um processo de (re)discussão. A idéia original de "A Geração de Proteu" não poderia ser mais interessante: o supercomputador Proteus IV, o mais completo já construído pelo homem, com toda a soma de informações existente no mundo, passa a exigir um contato direto com um ser humano e, por acidente, o faz diretamente na casa do seu criador (o velho axioma da criatura x criador, já exaustivamente tratado desde "Frankestein" de Mary Shelley). E, passando a controlar toda a parafernália eletrônica de sua casa, onde encontra apenas a solitária esposa do cientista, Susan (Julie Christie) propõe o que parecia impossível: conceber nela um filho, o que acaba ocorrendo - até chegar a um final trágico, assustador - momento que lembram a "embrião".
Falou "a Geração de Proteu" pouco para se tornar um clássico. Crítico mais rigorosos podem fazer restrições a certas facilidades do roteiro, imperfeições no encadeamento das seqüências. Mas vendo-se globalmente, pode-se aceitar este filme, com uma eletrônica trilha sonora de Jerry Fielding, como um bom momento de ficção cientifica, gênero tão estimulante a imaginação e que hoje, graças ao sucesso de "a Guerra das Estrelas", está reaparecendo - de uma forma adulta, inquietante - talvez por ser cada vez mais ciência e uma espécie de documentários de antecipação, do que simplismente a ficção com que sonhavam Jules Verne, Meliés e Alex Raymond, pioneiros nos romances, nas imagens e nos quadrios.
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