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Ivens, 45 anos de jornalismo

O jornalista Ivens Lagoano Pacheco, 65 anos, gaúcho de Lagoa Vermelha, 45 anos de profissão e 30 de Paraná, comemorou no sábado um fato muito especial: a sua aposentadoria como profissional da imprensa. Embora não pretenda deixar de dar sua colaboração diária a "Gazeta do Povo", onde assina uma das mais bem humoradas colunas ("Conta-Gotas"), Pacheco passa a fazer jus aos seus proventos de inatividade, após uma carreira que se pode classificar de representativa dos tempos heróicos da imprensa no Sul do Brasil. xxx A primeira reportagem que Ivens publicou - no "Diário da Manhã", de Passo Fundo, em 1931, já revelava seu estilo satírico e corajoso: a descrição de uma briga entre um galo e uma galinha, suficiente para fazê-lo merecer uma reprimenta pública do conservador vigário local. Depois de 19 anos de andanças por cidades gaúchas, participação em brabas brigas políticas, ele que sempre foi sulino de não levar desaforo para casa, acabou vindo para o Paraná. Passou um ano morando sozinho na ilha dos Mutões, no Rio Paraná, vivendo da caça e pesca, até que um dia decidiu conhecer as cidades que estavam surgindo no Norte. Maringá estava nascendo e naquele ambiente de faroeste que caracterizou o surgimento de dezenas de novas cidades, Ivens decidiu fundar um jornal - surgido simultaneamente a emissora que Samuel Silveira, então proprietário de um serviço de alto falante, instalava. De 1954 a 1963, Ivens praticamente viveu dentro do "Jornal de Maringá", por cuja redação passaram muitos jovens de valor, hoje espalhados pelo Brasil ("a meninada não negou fogo", diz, com orgulho). xxx Nos últimos oito anos, residindo em Curitiba, Ivens diminuía suas atividades, mas nem por isso deixou de ser aquele sujeito contador de "causos", regado a bom vinho enquanto prepara um churrasco - orgulhoso que é de suas qualidades de assador de primeira. Méritos que o fizeram por dois anos ser proprietário da melhor churrascaria da cidade, a "Quero Quero", nos fundos da sociedade Garibaldi, da qual só se afastou ao ter o primeiro de uma série de três enfartes. Mas, gaúcho brabo, Ivens sorri quando fala a respeito e garante: sou um jovem de 18 anos e meu segredo é um só: caminhar 6 km todas as manhãs". xxx O grande livro de Ivens, "Memórias de Um Bom Sujeito", onde conta a outra história de Maringá, ainda não foi publicado: uma síntese saiu como encarte na revista "Panorama", em 1969, mas na íntegra Ivens ainda não se acorajou a editá-lo: "Há muitas histórias envolvendo gente viva e importante e eu não quero me aborrecer". Em compensação, Ivens concluiu a retrospectiva de imprensa, cobrindo o período de 1812-1976, e que, com 500 páginas e muitas ilustrações, sairá neste mês. Autor de três livros com ensaios sobre maçonaria (ele é grau 18), Ivens tem dois outros projetos: um estudo sobre o caso da Areia Branca do Tucom, que com 75 mil hectares "foi o maior grilo da história do Brasil, o "outro projeto polêmico e explosivo " e um livro de contos, "bem amenos e regionais, que espero publicar ainda este ano". Casado, 4 filhos, dois netos, homem de muitos amigos e, pra que negar, também inimigos, uma espécie de memória política do Norte do Estado, Ivens Pacheco, o "alagoano" como muitos o chamam, este jovem de 65 anos, 3 enfartes, e sorriso de garoto dos pampas correndo atrás dos quero-quero.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
01/02/1977

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