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May East, a paixão que a traz à cidade

Pela segunda vez em menos de um mês a cantora e compositora May East (Maria Elisa Cappareli Pinheiro, São Paulo, 21/01/1956) está em Curitiba. E, dependendo das circunstâncias, estará bastante por aqui, "sempre que possível", por múltiplas razões. A cidade, em seus aspectos de ecologia e qualidade de vida a fascinou, quer conhecer o nosso Litoral - e reencontrar na Ilha do Mel uma ex-colega dos tempos das Absurdetes & Gang 90, Lenita Renaux, que ali mora em extrema simplicidade, há mais de um ano e, principalmente, há "razões afetivas". Coisas do coração e de uma nova paixão sobre a qual, discretamente, não dá maiores detalhes. Há três semanas, quando aqui esteve e iniciou um trabalho de divulgação de seu novo - e terceiro - elepê "Charites" (Lazzy Moon / Estúdio Eldorado), mesmo nome do espetáculo multimídia que está preparando para estrear, em setembro, no Teatro Paiol. O jornalista Márcio Coelho, que vem assessorando alguns projetos especiais, cuida desta promoção que mostrará no palco, com os recursos tecnológicos possíveis, o trabalho de uma cantora-compositora que fugindo de rótulos e classificações estanques, define seu trabalho como "música eletrônica brasileira de vontade e procura, comprometida com as raízes" e que, nesta fase, reflete "células rítmicas do cancioneiro regional", pesquisadas no verão de 1987, quando viajando pelo interior da Paraíba, ficou entusiasmada com a música dos repentistas e sua tradição oral. xxx No início dos anos 80, quando abandonou um projeto de fazer diplomacia e um curso de sociologia na PUC-SP, no terceiro ano, pela música, a então Maria Elisa já tinha uma longa quilometragem internacional: filha de um piloto civil havia conhecido boa parte do mundo e, morando em Nova Iorque - no East Side (que com a abreviatura carinhosa de seu nome lhe daria o pseudônimo artístico) - conheceu e se entusiasmou com a cabeça do compositor, músico e inventivo Júlio Barroso (que se suicidaria em 07/06/1984), com quem, algum tempo depois, formaria a Gang 90 e as Absurdetes - ela, mais Lenita Renaux e a holandesa Alice Pink Pank (Alice Verneulen), ex-integrante de bandas européias de rock e hoje vivendo na Grécia. O jornalista Nelson Motta, sempre vanguardeiro, se entusiasmou com a Gang 90 & Absurdetes levando-a para a danceteria "Paulicélia Desvairada" e garantindo uma grande mídia promocional ao grupo que, na WEA, emplacaria um sucesso com "Perdidos na Selva". Apesar dos músicos do grupo variarem, as Absurdetes se mantiveram por quase 4 anos, período em que fizeram um elepê na Barclay. Em 1984, May East, já sentindo-se amadurecida para um trabalho solo, sem o estigma do rock, deixaria o grupo e faria um compacto com duas composições próprias, "Índio" e "Fire in the Jungle", que a EMI/Odeon lançou na Holanda. Como sua irmã, a jornalista Maria Cristina Pinheiro (do "Jornal Nacional", da Globo), e dentro de sua "Febre do Além" - como diz citando o poeta Fernando Pessoa - May passaria grande parte de seu tempo no Exterior, vivendo em Paris, Londres e Holanda, especialmente - onde fez um novo compacto com "Bovema". Voltaria ao Brasil para gravar na Odeon o inventivo "Remota Batucada" (EMI/Odeon, 1985) cuja proposta surpreenderia quem esperava rever apenas uma "absurdete": influências da África/Oriente, mescladas a um som tecnológico, a partir da própria capa. Um trabalho tão arrojado que, como lhe recomendariam seus amigos, teria melhor entendimento no Exterior do que no Brasil - e eis novamente com o pé na estrada levando "Remota Batucada" a Portugal (1986) e Inglaterra (1987), o que lhe abriria as portas para gravar nos estúdios Lazy Moon, o "Charites", com produção do ibérico Jony Galvão que admirava há muito tempo. Entre estes dois, um trabalho independente, o também profundo "Taba-Porá" (Wop-Bop, só encontrado em lojas do Rio/SP), produzido por Luiz Schiavon, a "Cuca" do extinto grupo RPM. Falando 5 línguas, voltada a questões ecológicas e dos direitos indígenas - chegou na sexta-feira, 10, a Curitiba, após passar uma semana na Ilha do Bananal, num encontro de lideranças indígenas - acreditando nas possibilidades de um trabalho musical voltado para novos campos - May East distingue-se, em sua personalidade e criatividade, do que se faz musicalmente atualmente - o que lhe vem abrindo portas internacionais - mas que exige dupla atenção para o entendimento maior de seu trabalho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
15/08/1990

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