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Aramis

Melhor estréia é o grito anti-apartheid da África

Tinha tudo para ser um super-sucesso: como "Gandhi" (8 Oscars, incluindo os de melhor filme e diretor em 1985), aborda uma personagem contemporânea: o líder negro Sul-africano Steve Biko (8/12/1946-12/9/1977), criador do Black Consciousness, um dos mais corajosos movimentos de luta contra o apartheid. Com roteiro amparado em dois livros-reportagens de Donald Woods, jornalista inglês, como Biko, vítima da política racista da África do Sul (de onde teve que fugir, após ter denunciado o assassinato de seu amigo), amplos recursos de produção e a competência de Air Richard Attenborough, que do musical ("Oh! Que Delícia de Guerra", "Chorus Line" - este inédito no Brasil) as cinebiografias (Churchil, Gandhi) tem mostrado talento como realizador. Programado originalmente para abrir o IVº FestRio (novembro/87), que se voltava a homenagear os negros, acabou sendo suspenso na última hora e substituído por "Au Revoir, Les Enfants" (Adeus, Crianças, de Louis Malle, ainda inédito no Brasil). Considerado um dos 10 melhores filmes do ano nos EUA, com 7 indicações aos prêmios da Academia Britânica; 4 indicações ao "Globo de Ouro" e três ao Oscar (ator coadjuvante - Denzel Washington); canção original (George Fenton/Jonas Gwangwa, editada no Brasil em disco-mix pela RCA) e a trilha sonora original, "Cry Freedom" foi um fracasso em termos de bilheteria. Attenborough chegou a marcar sua vinda ao Brasil, há 3 meses, para catituar o lançamento do filme. Na última hora cancelou a vinda e a própria UIP se desinteressou em cuidar melhor do lançamento de "Um Grito de Liberdade" que estréia, sem qualquer promoção especial, agora em Curitiba. A Best Seller lançou dois livros de Donald Woods - "Crônicas do Apartheid" e, agora, "Biko" (458 páginas, tradução de Edi Oliveira), ponto principal do roteiro de John Bridley, mas que se baseou também em "Asking For Trouble", de Woods (igualmente programado para edição no Brasil). Rodado no Kenya e no Zimbabwe, completado nos estúdios de Sherperton , Inglaterra. "Cry Freedom" é daquelas obras que o espectador assiste entre a indignação e a reflexão. Afinal, mesmo acompanhando nos noticiários da televisão, nos jornais e revistas semanais a tragédia do apartheid, é preciso ver um filme como este para se dar conta de toda a brutalidade do regime fascista da África do Sul. Esta é a maior validade de "Cry Freedom" - imerecidamente recebida com restrições por alguns críticos e que, sem a força dos Oscars (como aconteceu com "Gandhi") está tendo uma carreira melancólica nas telas, o que faz com que se recomende a sua visão nesta primeira semana. - pois não será surpresa se por freqüência reduzida, sair de cartaz nos próximos dias. Não há superstars no elenco: Kevin Kline é Donald Woods, o jornalista amigo de Steve Biko (Denzel Washington), que no início o hostiliza por seu radicalismo mas, compreendendo-o depois em sua dimensão, torna-se seu aliado. Penelope Wilton interpreta Wendy Woods, esposa de Donald - e o casal participou como consultores deste filme de significado especial, atualíssimo e que se constitui na melhor estréia da semana. LEGENDA FOTO - Kevin Kline em "Um Grito de Liberdade".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
20/05/1988

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