Memórias do Lustosa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de abril de 1978
É tão pobre a bibliografia paranaense no que concerne a livros de memórias, que todas as tentativas feitas devem ser saudadas com entusiasmo. Pela sua própria característica, um livro de memórias deve ser apreciado como um depoimento, o documento de uma época e de uma pessoa - sem maiores pretensões literárias ou mesmo históricas. E é justamente isso que faz o guarapuavano Antonio Lustosa de Oliveira, 77 anos - a serem completados no próximo dia 7 de junho.
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Fazendeiro e político, que chegou a ter um certo destaque na vida pública do Paraná nos anos 40 e 50, Antônio Lustosa de Oliveira foi prefeito de Guarapuava, deputado estadual em três legislaturas e, como primeiro suplente do PSD, chegou a cumprir parte de um mandato na Câmara Federal, em 1960. Foi secretário da Justiça e presidente da Caixa Econômica Federal do Paraná, entre 1960/64. Em 1965, tentou uma frustrada experiência editoral, fundando o diário "Folha do Estado", que ocupando as instalações do antigo "Paraná Esportivo", na Rua André de Barros, não chegou a circular nem por um ano.
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Hoje, aposentado e sem projetos políticos, vive em sua fazenda, em Guarapuava, mas não deixa de tomar iniciativas que o fazem noticia: há três anos investiu muitos mil cruzeiros para construir uma estatua de Cristo, medindo 18,5 metros de altura por 13,5 de largura, na Serra do São Luiz do Purunã, km 36 da Rodovia do Café, em terras de sua propriedade. Possível de ser visto a grande distancia, a estatua foi definida por Lustosa como "minha homenagem a um grande e velho amigo meu: Jesus Cristo".
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Agora, quando se comemora o Dia do Índio, Lustosa inaugura, em Guarapuava, uma estátua do índio Guairacá, que apesar de ser um personagem importante da história do Paraná, não tinha, até agora, uma representação simbólica naquela região dos Campos Gerais. Enquanto que para construir a imagem do Cristo em sua fazenda, Lustosa de Oliveira financiou o projeto, para a estatua do índio Guairacá houve uma participação de toda a comunidade guarapuavana.
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Em "Passos de Uma Longa Caminhada" (Edição O Formigueiro, 371 páginas), Lustosa de Oliveira fala de sua infância e suas caminhadas políticas. Transcreve discursos, textos de cartas, ofícios, citações, etc., demorando-se, especialmente, na analise do IPM que respondeu em 1964, quando na condição de presidente da Caixa Econômica Federal do Paraná chegou a ser preso e permanecer incomunicável por uma semana. Aliás, em 1965, numa plaqueta ("A Revolução e o I.P.M. da Caixa Econômica"), já havia prestado contas do episódio, do qual acabou sendo absolvido. Agora, como um dos capítulos deste seu livro de memórias, detalha aqueles dias, numa espécie de "diário de prisão".
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O livro de Lustosa de Oliveira deve ser visto como documento de um político de origens rurais, pessedista histórico e que influiu, em certo período, na vida publica do Estado. De um prisma absolutamente pessoal, oferece sua contribuição aos futuros historiadores. Pena que outros políticos aposentados, como Alo Guimarães, major Flores e mesmo o ex-governador Moisés Lupion também não se disponham a publicar seus depoimentos.
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