A música de Carnaval (III)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de fevereiro de 1975
Embora a história de setenta carnavais - considerando que anteriormente a 1905, a festa popular só tinha duas músicas características ("Zé Pereira", de 1869 e "Ó Abre Alas", de Chiquinha Gonzaga, de 1899) - mostre, que as músicas de maior aceitação e que resistem ao tempo, cantadas em todos os bailes, sejam as marchinhas, os compositores de sambas continuam a vencer numericamente nas tentativas de criar novos sucessos. Das 369 músicas editadas nos dois álbuns de Carnaval deste ano (SDDA/SICAM), incluindo alguns êxitos do passado, 209 são sambas, 141 são marchas e apenas 20 frevos. E também o frevo não merece esta discriminação: "Evocação", que em 1956 o maestro Nelson Ferreira "exportou" de Recife para o resto do Brasil, é há dezoito anos uma das músicas que mais anima os bailes carnavalescos. Há seis anos, com "Atrás do Trio Elétrico", o baiano Caetano Velloso fez com que a invenção de Dodô e Osmar, que este ano completa seu jubileu de prata, se tornasse conhecida também no Sul. Mas, apesar desses exemplos, são os sambas que predominam ao menos no volumoso catálogo do Serviço de Defesa do Direito Autoral, que agrupa os compositores filiados à UBC/SBACEM/SADEMBRA. Das 277músicas ali editadas para o Carnaval/75, 184 são sambas. 93 são marchas e apenas 15 frevos. Já a Sicam, com a agilidade de quem não é maior tem que ser a melhor, astutamente, traz em seu pequeno álbum, de um total de 92 músicas, 63 marchas, 25 sambas e apenas 5 frevos - três de Caetano Velloso ("Atrás do Trio Elétrico", "Chuva, Suor e Cerveja" e "Cara a Cara"), um de Gilberto Gil ("Está na Cara, Está na Cura") e uma da nova dupla, Edson & Aloizio ("Rebocado").
Para dar vazão a tanta música carnavalesca, 90% sem qualquer possibilidade de aparecer e, reconheça-se, de péssimo nível, seus auditores e intérpretes, recorrem a gravações particulares, surgindo assim compactos com as etiquetas mais estranhas: Albatroz, Discofam, Cock-Tail, Minuano, Caracol, Guarani, Oriental, Bemol, SAAP, CBF, Chanty, Musicolor, Veneza, Passarela etc. As grandes gravadoras fazem poucos lançamentos, preferindo reunir seus intérpretes mais apropriados em lps onde estão sambas e marchas com possibilidades de se destacarem do joio que caracteriza o gênero musical carnavalesco. À partir de 63, quando o samba-enredo "Chica da Silva", que Anescar Pereira e Noel Rosa de Oliveira criaram para a Salgueiro, se projetou nacionalmente, os sambas-de-enredo, até então restritos aos desfiles das Escolas do Rio de Janeiro (iniciados em 1932), passaram a ser gravados e divulgados. E hoje, constituem o que há de melhor musicalmente no Carnaval. Em Curitiba, infelizmente, as Escolas deixam para fazer seus sambas-de-enredo poucos dias antes do desfile. Este ano, houve uma louvável exceção: a Acadêmicos da Sapolândia, que desde 1970 vem crescendo, não só aprontou com antecipação o seu tema musical, como o distribuiu em cassete para as rádios, obtendo com isto uma boa promoção. E talvez alguém aprenda a cantar e dê uma mãozinha quando a escola de Julinho desfilar sábado no asfalto molhado (para manter a tradição, vai chover com certeza!), da Avenida Marechal Deodoro.
LEGENDA FOTO : Caetano
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