"No", do paranaense Duque, venceu no RioCine
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de agosto de 1989
Graças a remanescentes em vídeo no sistema VHS, realizados por integrantes da hoje extinta Turma do Balão Magico (frustrada tentativa de agrupar jovens cineastas e videomakers da cidade, que teve sua fase entre 1986/87), o Paraná acabou tendo uma presença, mesmo que tímida, na parte competitiva, em vídeo, do V RioCine Festival, encerrado sábado, 19, no Rio de Janeiro.
Altenir Silva (Bolinha), concorreu com seus vídeos "Morcego" (8 minutos) e "Os Agentes" (28 minutos), fotografados por Werner Schulmann, este autor de "Volk" (15 minutos), também em competição.
O principal premiado na mostra de vídeos em U-Matic (na qual estiveram 46 trabalhos) foi Ronaldo Duque, com "No" (45 minutos), um documentário jornalístico sobre a votação do plebiscito chileno realizado em 5 de outubro do ano passado. Ronaldo Duque, que é paranaense mas radicado há 6 anos em Brasília, reuniu depoimentos de personalidades políticas, religiosas, sindicais, artísticas e populares em relação à situação do Chile. Dina Sfat (1938-1989) fez a narração do vídeo.
Ronaldo Duque recebeu o "Sol de Prata", premiação maior na categoria de vídeos. Há 8 anos, quando ainda residia aqui no Paraná, Ronaldo Duque realizou o documentário "Póstuma Cretã", produzido por Valêncio Xavier, na época diretor da Cinemateca do Museu Guido Viaro. Denunciando o assassinato do cacique Cretã, na reserva de Mangueirinha, o filme de Ronaldo Duque obteve premiações nacionais e foi visto, inclusive, no Exterior. No ano passado, Duque esteve no Chile, realizando "No", reconhecido agora pelo júri de vídeo do RioCine Festival.
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Praticamente ignorado pela imprensa nacional, com cobertura mínima, o RioCine Festival é um festival sem estrelas e que justamente por isto passa despercebido. Problemas de relacionamento da diretora geral do evento, Walquíria Barbosa, com alguns influentes jornalistas condenaram o RioCine a um esquecimento, de forma que pouco se leu a seu respeito na imprensa. Apesar disto, o festival teve características especiais e se voltou este ano a uma temática especial - "Câmera de defesa do meio ambiente", reunindo mais de 100 filmes e vídeos de temas ecológicos (ver texto específico nesta mesma página).
Como a dificuldade de conseguir filmes inéditos, em longa-metragem, é cada vez maior, Walquíria optou por uma fórmula original: anualmente, uma comissão especial seleciona entre os filmes lançados no Brasil de agosto do ano anterior a junho do corrente, os filmes mais expressivos - e desta faz a premiação. Este ano, entre 14 longas apreciados, foram indicados cinco para disputarem 15 premiações denominadas "Sol de Prata": "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado; "Dé Mamata", "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz; "Romance da Empregada", de Bruno Barreto; e "Terra para Rose", de Tetê de Moraes. O filme de Guilherme Prado - já premiadíssimo em Gramado (88) e que ainda recentemente obteve mais três troféus no VI Festival de Cinema de Bogotá, acrescentou agora nada menos que mais 10 troféus: filme, trilha sonora, figurino, cenografia, direção de arte, fotografia, montagem, edição de som e direção - além do prêmio de classe cinematográfica.
Betty Faria ganhou o "Sol de Prata" como melhor atriz por "Romance da Empregada" (que deveria ter sido exibido na sessão de encerramento do Cine Star Ipanema, mas que foi recusado pelo produtor Luís Carlos Barreto); melhor atriz coadjuvante - Isabel Ribeiro, por "Feliz Ano Velho"; melhor ator, Marcos Breda (também por "Feliz Ano Velho"); e Marcos Palmeira por "Dedé Mamata". O júri popular premiou "Romance da Empregada".
Como todos estes longas já foram levados a festivais e lançados nos circuitos comerciais - além de comercializados em vídeo, o interesse do público (e da imprensa) foi praticamente nulo. Valeu apenas para os premiados acumularem nove troféus em seus armários.
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Entre os curtas em 35mm, repetiu-se a premiação de Gramado: o "Sol de Prata" foi para "Ilha das Flores", de Jorge Furtado (que tinha obtido 8 Kikitos no festival gaúcho) e "Dov'e Meneghetti", do paulista Beto Brandt ficou com o "Sol de Ouro". Joel Pizani, mato-grossense de Campo Grande mas com vivência curitibana (aqui estudou Comunicação Social), saiu apenas com uma premiação na categoria de 35mm, com seu belo "Caramujo Flor", com o qual já havia conquistado premiações em Brasília (88) e Gramado (junho/89): desta vez a melhor montagem para Idê Lacreta.
No total, o RioCine distribuiu nada menos que 60 premiações em sete categorias oficiais para cinema e vídeo. O Panda, premiação independente que um grupo de cineastas instituiu há 3 anos, desta vez foi para "Corpo em Delito", de Nuno César Abreu - um dos filmes inéditos apresentados na mostra de longas, na qual a obra mais interessante foi o documentário "Avenida Brasil", de Octávio Bezerra (o mesmo realizador de "Memória Viva", premiado no Fest-Rio 87, e em outros festivais, mas até agora inédito em Curitiba).
Na impossibilidade de relacionar as 60 premiações, fica apenas a informação complementar: "Memórias de um Anormal", média em 16mm, obteve 6 troféus, inclusive o de melhor filme: "Strip-tease", de Ivo Branco, foi o premiado na categoria de curta em 16mm. Na mostra de publicidade sobre meio ambiente, com 11 filmes concorrentes, o "Sol de Prata" foi para o comercial "Árvore Sangrando", realizado para o Movimento Ecológico Brasileiro.
LEGENDA FOTO - "Ilha das Flores", o curta que recebeu todos os prêmios em Gramado, consagrado mais uma vez: "Sol de Prata", no RioCine Festival. Uma obra prima, em 12 minutos, sobre a questão social no Brasil, narrada de forma brilhante. Quando será visto em Curitiba?
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